Em baixa pelo 6º dia, Ibovespa cai 0,17%, com foco no BC; dólar cai 0,47%

Por Agência Estado 17/04/2024 - 18:21

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O Ibovespa não conseguiu sustentar recuperação nesta quarta-feira, 17, estendendo a série negativa pela sexta sessão - a maior desde a longa correção entre 1º e 17 de agosto. Hoje, fechou em baixa de 0,17%, a 124.171,15 pontos, como ontem no menor nível de encerramento desde 14 de novembro (123,1 mil). Entre a mínima e a máxima, oscilou de 123.641,94 a 125.300,97 pontos, saindo de abertura a 124.388,62 pontos. O giro foi reforçado pelo vencimento de opções sobre o índice, a R$ 47,6 bilhões. Na semana, o Ibovespa cai 1,41% e, no mês, cede 3,07%. No ano, recua 7,46%.

No exterior, o dia foi marcado por ajuste nos preços do petróleo, com o Brent em retração de 3%, abaixo de US$ 88 por barril, em Londres. Os estoques de petróleo dos Estados Unidos tiveram crescimento de 2,735 milhões de barris, a 459,993 milhões, na semana passada, informou o Departamento de Energia. Analistas ouvidos por The Wall Street Journal previam alta de 600 mil barris.

Ainda que o Ibovespa tenha contado com o apoio de Petrobras (ON +0,15%, PN +0,73%) e especialmente do setor metálico (Vale ON +1,09%, Gerdau PN +0,40%, CSN ON +1,06%), o índice operou no negativo ao longo da tarde, renovando mínimas da sessão abaixo dos 124 mil a partir das 13h16. No pior momento, foi a 123,6 mil, abaixo da mínima intradia de ontem, que havia sido a menor desde 16 de novembro.

Nesta quarta-feira, o índice foi contido em especial pelas ações de grandes bancos, mas o desempenho do setor melhorou um pouco do meio para o fim da tarde, com Banco do Brasil (ON +0,21%) e Itaú (PN +0,06%) tendo oscilado para o positivo, reduzindo a pressão sobre o Ibovespa. Na ponta ganhadora da carteira, destaque para CSN Mineração (+5,48%), Locaweb (+3,71%) e Vamos (+2,54%). No lado oposto, Marfrig (-6,45%), CVC (-5,05%) e Eztec (-4,43%).

O sentido negativo do Ibovespa se manteve na sessão apesar da moderada retração do dólar, em baixa de 0,47%, a R$ 5,2439. "No médio prazo, com a dissipação de alguns choques - como redução do impasse no Oriente Médio, maior clareza para a economia dos EUA, e se entendermos melhor evolução das contas públicas -, a tendência é que o dólar fique em patamar um pouco mais baixo", observa em nota Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. "No curtíssimo prazo, vemos mercado estressado, com curvas de juros subindo, queda da bolsa e dólar além da barreira de R$ 5,20."

"A aversão a risco global - que fez o ouro, um indicador do medo, subir 13% no mês até ontem, e o dólar avançar 5% frente ao real, no mesmo intervalo, tendo flertado com o patamar de R$ 5,30 - deu uma trégua hoje: a ausência de notícias negativas permitiu uma relativa acomodação. Foi um dia, de certa forma, de reversão à média", diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, destacando em especial o deslocamento dos rendimentos das Treasuries de 10 anos, hoje um pouco abaixo de 4,6% após terem tocado ontem, no fechamento, o nível de 4,7%.

"A boa prévia operacional de Vale o relatório de produção divulgado na noite de ontem pela empresa, acima das estimativas dos analistas - que revisaram favoravelmente projeções para a mineradora no primeiro trimestre e no ano -, além do avanço do minério de ferro na China, assegurou alta para as ações do setor metálico, limitando assim as perdas do Ibovespa na sessão", acrescenta a analista, destacando também notícia positiva para a Gerdau, que tem operação nos EUA, após o governo americano sinalizar intenção de sobretaxar o aço importado da China.

Mas a pitada de sal que se impôs ao sentimento dos investidores veio da agenda macro, com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que fez alerta, hoje, sobre os riscos para a política monetária relacionados a uma possível desancoragem do fiscal. Na mesma semana em que o governo decidiu mudar as metas de referência para as contas públicas em 2025 e 2026, as declarações de Campos Neto foram recebidas como duras pelo mercado, abrindo um flanco para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em maio, na qual já se poderia optar por um corte menor na Selic, de 0,25 ponto porcentual, mesmo tendo telegrafado, no comunicado e na ata de março, a manutenção do ritmo de meio ponto para o mês.

"Se você perde credibilidade na âncora fiscal, fica mais caro para a âncora monetária", afirmou nesta quarta-feira o presidente do BC, durante evento da XP Investimentos em Washington, onde Campos Neto se encontra para as reuniões de primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele destacou também que a autoridade monetária fará "o que for necessário para ancorar a inflação". "É importante repetir", frisou o presidente do BC, que voltou a ser criticado, recentemente, pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

Dólar

Após cinco pregões consecutivos de alta, período em que acumulou valorização de 5,21%, o dólar à vista recuou na sessão desta quarta-feira, 17. O enfraquecimento global da moeda americana e a queda dos Treasuries, em dia de agenda esvaziada no exterior, abriu espaço para um movimento na realização de lucros no mercado local. Houve também relatos de internalização de recursos por parte de exportadores para aproveitar as cotações mais elevadas.

Tirando altas pontuais e bem limitadas na abertura dos negócios e no início da tarde, o dólar à vista operou em baixa no restante do pregão. Com mínima a R$ 5,2198 por volta das 15h45, a divisa encerrou o pregão em queda de 0,47%, cotada a R$ 5,2439 - ainda nos maiores níveis desde março de 2023. Apesar do refresco hoje, o dólar acumula valorização de 4,56% em abril.

Uma vez mais, houve giro forte no mercado de dólar futuro, com o contrato para maio movimentando mais de US$ 18 bilhões. Ontem, os investidores estrangeiros ampliaram ainda mais as posições compradas em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contrato, cupom cambial e swap), que atingiram o pico histórico US$ 70,3 bilhões, segundo dados da B3. Já os fundos locais mantêm posições vendidas de US$ 8,5 bilhões.

"Hoje é um dia de ressaca, sem agenda relevante. A moeda brasileira se valoriza, em uma correção que era amplamente esperada após a alta muito forte do dólar na segunda e na terça-feira", afirma o economista André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, para quem os fatores que levaram ao estresse no mercado de câmbio nos últimos dias ainda não se dissiparam.

Galhardo lembra a fala de ontem do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, chancelando a expectativa de cortes de juros apenas no segundo semestre e de forma parcimoniosa, após dados fortes de varejo nos EUA. As tensões geopolíticas seguem no radar, embora Israel não tenha até o momento retaliado o Irã pelos ataques a solo israelense no fim de semana.

"Os elementos principais que levaram à depreciação do real foram externos. O dólar subiu também contra moedas fortes. O real já é geralmente uma moeda mais sensível, mas acabou ficando mais volátil com a divulgação da mudança da meta fiscal de 2025", diz Galhardo, em referência ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias (PLDO), apresentado pelo governo na última segunda-feira.

As atenções se voltaram ao longo da tarde à participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento da XP Investimentos, em Washington. Em meio a especulações de que o BC poderia intervir novamente no câmbio para amenizar o movimento de depreciação do real nos últimos dois dias, Campos Neto afirmou que a autarquia não reage a movimentos de reprecificação do prêmio de risco brasileiro com intervenções no mercado cambial.

Campos Neto também passou um recado mais duro em relação à política monetária, abrindo espaço para que a curva de juros passasse a espelhar desaceleração do ritmo de corte da Selic de 0,50 ponto para 0,25 ponto em maio. Ele disse que o BC "não tem medo de fazer o necessário" para fazer a inflação à meta e que já tentou "mostrar isso ao mercado".

No que foi interpretado como uma sinalização de que o BC pode não seguir o forward guidance de corte da taxa Selic em 0,50 ponto na "próxima reunião", Campos Neto afirmou que, dentro de vários cenários, pode haver um quadro de aumento de incerteza e estresse global que levaria o BC a alterar seu cenário-base.

Para Galhardo, da Remessa Online, a perspectiva de que o BC mire em uma taxa Selic terminal mais perto de 10% pode mitigar pressões mais fortes sobre a moeda brasileira. "Essa é a percepção que fica com a fala do Campos Neto. Isso garante um juro real ainda expressivo e impede altas mais fortes do dólar", dia Galhardo, que, por ora, projeta Selic termina em 9,50%, mas com viés para 9,75%. "Vejo o câmbio numa faixa entre R$ 5,00 R$ 5,15, trabalhando mais perto do limite superior da banda em abril e com queda gradual em maio e junho. Vamos encerrar o primeiro semestre com dólar orbitando R$ 5,00".

Juros

Os juros futuros fecharam quarta-feira em alta nos vencimentos de curto e médio prazos, invertendo o sinal de baixa no meio do dia após declarações do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em Washington, que limparam as apostas de corte de 0,50 ponto da Selic no Copom de maio. Os longos cederam, acompanhando o alívio do câmbio e da curva dos Treasuries.

Campos Neto admitiu que num cenário de manutenção de incertezas elevadas o ritmo de queda da Selic pode ser alterado. Ainda, foi categórico em afirmar que o BC fará o que for necessário para ancorar a inflação e discorreu ainda sobre as turbulências fiscais.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,445%, de 10,280% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subia de 10,65% para 10,75%. O DI para janeiro de 2027 projetava 11,01%, de 11,06% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2029 caía para 11,44%, de 11,60%.

Pela manhã, o mercado chegou a arriscar uma correção das fortes altas registradas ao longo do mês, amparada no ajuste em baixa do dólar e no alívio da curva dos Treasuries. O ajuste, porém, era aquém do expressivo volume de prêmios acumulados, com sinais de que não se sustentaria até o fim da sessão, até porque o mercado aguardava a participação de Campos Neto em eventos em Washington.

No início da tarde, a fala de Campos Neto, em evento promovido pela XP, deu a senha para que os DIs de curto e médio prazos passassem a subir. "Podemos ter um sistema em que a incerteza continua alta, sem mudar, o que pode significar redução do ritmo", afirmou. Disse ainda que num cenário em que a incerteza começar a afetar "variáveis mais importantes" e que seja necessário "conversar sobre mudar o balanço de riscos" pode haver alteração no cenário básico do BC. "Para o cenário base virar um corte de 0,25 ponto, basta ficar igual a como está", diz Marco Caruso, economista-chefe do PicPay.

Tal percepção sobre uma possível mudança no ritmo de redução da taxa básica foi endossada pela ênfase de Campos Neto ao afirmar que a autoridade monetária "não tem medo de fazer o que é necessário" para ancorar a inflação e alertar ainda para os riscos da perda da âncora fiscal. "Se você perde credibilidade na âncora fiscal, fica mais caro para âncora monetária", afirmou.

No forward guidance do encontro de março, o Copom indicava uma redução de mesma magnitude, de 0,5 ponto, na Selic na próxima reunião "em se confirmando o cenário esperado".

Na curva, a sinalização de Campos Neto abalou a aposta de corte da Selic em 0,5 ponto no Copom de maio, que há semanas aparecia como majoritária. Os DIs passaram a precificar integralmente uma redução de 0,25 ponto. Mais do que isso, a reunião de junho tem apenas -7 pontos precificados no DI, indicando apostas marginais de queda da taxa. Para o segundo semestre, já há precificação de alta para a Selic, segundo o economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano.

Vale destacar que, diante da forte zeragem de posições vendidas e da disparada na aversão a risco nos últimos dias, a precificação da curva já vinha se tornando mais conservadora no que diz respeito ao plano de voo do BC. Com o reforço de hoje, a curva passou a projetar Selic terminal de 10,60%.

Na seara fiscal, não bastasse o desconforto com a mudança das metas para 2025 e 2026, hoje a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, por 18 votos a 7, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Quinquênio que concede um "bônus" de 5% a cada cinco anos, limitados a 35%, a magistrados, procuradores e promotores. A medida pode ter um impacto fiscal de cerca de R$ 42 bilhões ao ano, de acordo com informações do Ministério da Fazenda.


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