Ibovespa vira no fim e sobe 0,02%, aos 124.196 pontos, com Vale; dólar tem leve alta

Por Agência Estado 18/04/2024 - 18:15

ACESSIBILIDADE


O Ibovespa esboçou recuperação na parte inicial da sessão, e não conseguiu reter o sinal positivo ao longo da maior tarde da tarde, período no qual os índices de Nova York também devolveram os ganhos observados mais cedo. Contudo, o índice da B3 evitou, no fechamento, que a sequência negativa chegasse hoje à sétima sessão. Nesta quinta-feira, oscilou dos 123.396,53 (-0,62%) aos 125.140,22 (+0,78%), encerrando o dia pouco acima da estabilidade, em leve alta de 0,02%, aos 124.196,18 pontos, com giro financeiro a R$ 21,8 bilhões.

Na semana, o Ibovespa cai 1,39% e, no mês, recua 3,05%, elevando a perda acumulada no ano a 7,44%. Ontem, o índice havia encerrado no menor nível desde 14 de novembro. Em Nova York, os três principais índices de ações encerraram esta quinta-feira, 18, sem sinal único, entre baixa de 0,52% (Nasdaq) e leve ganho de 0,06% (Dow Jones).

No momento em que os mercados globais continuam a tomar o pulso de todo sinal sobre a política monetária nos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve (Fed) de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou hoje que pode ser que não haja como reduzir as taxas de juros até o fim do ano. Em evento, ele apontou que a inflação segue mais alta do que o normal no país, e que o caminho para a meta oficial, de 2% ao ano para a variação de preços, deve ser mais lento do que se esperava.

"Em termos da nossa política monetária, a minha visão é de que as coisas serão lentas o suficiente este ano, que não estaremos em posição de reduzir nossas taxas de juros em direção ao fim do ano. Vou deixar as coisas acontecerem. As duas palavras que eu tenho usado esses dias são: grato e vigilante. Estou grato que a economia esteja crescendo rápido, que a inflação esteja caindo de suas altitudes, mas preciso estar vigilante", disse Bostic, acrescentando que "coisas surpreendentes podem ocorrer quase em base mensal" e que "é preciso estar preparado para o inesperado, e incorporar esse aspecto no modelo".

Por outro lado, na zona do euro, François Villeroy de Galhau, que preside o BC da França e integra o Banco Central Europeu (BCE), afirmou que a menos que ocorra grande surpresa, o BCE deve cortar juros em sua próxima reunião, no início de junho. "Nós devemos cortar juros agora. Estamos confiantes, e cada vez mais, sobre o rumo da desinflação", afirmou o dirigente francês em entrevista à CNBC.

Aqui, "o Ibovespa reverteu o movimento da manhã, ainda repercutindo as falas de ontem do Roberto Campos Neto, presidente do BC, no sentido de desaceleração do ritmo de cortes da Selic já na próxima reunião do Copom, em maio. E, no cenário internacional, também se mantém a cautela de forma geral, com sinalizações piores sobre a política monetária, especialmente nos Estados Unidos", diz Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos.

Nesse contexto, ele destaca que a atenção do mercado tende a ser redobrada nas próximas leituras de dados econômicos, no Brasil e no exterior, pelo grau de incerteza maior com relação aos juros, o que pode suscitar volatilidade.

"Houve algum ajuste de baixa em parte do dia na curva de DI, com um leve alívio nos vértices. Lá fora, os rendimentos dos Treasuries seguiram em alta, mas aqui houve uma abertura muito grande na curva nos dois últimos dias, principalmente. O mercado digeriu melhor, um pouco, as declarações de ontem do Campos Neto sobre juros e fiscal", diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.

Ainda assim, ações associadas ao ciclo doméstico, parte das quais muito sensíveis a juros, como as de varejo (Casas Bahia -4,17%), estiveram entre as maiores perdedoras da sessão, ao lado de nomes como CVC (-4,26%), Azul (-3,82%), MRV (-3,31%) e Locaweb (-3,18%). Na ponta oposta do Ibovespa, destaque para Assaí (+2,65%), Totvs (+2,47%), Localiza (+1,82%) e Alpargatas (+1,80%).

"O pregão foi marcado por uma performance negativa sutil, após uma abertura positiva com fechamento expressivo na curva de juros, o que foi se invertendo ao longo do dia, com o mercado perdendo liquidez de compra e caminhando para o campo negativo", diz Bernard Faust, sócio da One Investimentos. "Nenhum setor se mostrou detrator de forma expressiva, com perdas alinhadas na sessão", acrescenta, destacando ainda a alta do dólar, na casa de R$ 5,25 no fechamento de hoje.

"Existe uma preocupação ainda com a 'puxada' que houve no rendimento da T-note de 10 anos, que chegou recentemente a 4,7%, saindo de 4,2%", diz Faust, referindo-se a movimento observado no ativo por excelência considerado livre de risco, as Treasuries de 10 anos, em variação de patamar de rentabilidade que tirou liquidez de investimentos menos seguros, como ações. Ele menciona também que as recentes mudanças nas metas fiscais para 2025 e 2026 vieram em momento ruim, o que tende a resultar em mais prêmio exigido pelo estrangeiro para alocar recursos no Brasil - o que se reflete, diretamente, na depreciação acumulada pelo real frente ao dólar.

Na B3, entre os setores de maior peso no índice de referência, os grandes bancos operaram no vermelho desde cedo, com perdas entre 0,14% (Banco do Brasil ON) e 0,82% (Bradesco ON) no fechamento, à exceção de Itaú (PN +0,13%). O desempenho do Ibovespa piorou ao longo da tarde com a reversão das duas principais empresas do índice, Vale e Petrobras, ao negativo. No fechamento, contudo, a ação ON da mineradora reagiu e mostrou alta de 0,37% e as da petroleira, baixa de 0,24% na ON e alta de 0,18% na PN, em dia de desempenho levemente negativo para o petróleo, mas ainda amplamente positivo para o minério - em alta de 3%, a US$ 120,7 por tonelada em Dalian, China, no contrato mais negociado, para setembro.

"Os dados de inflação e atividade nos Estados Unidos ainda mostram força: algumas casas já indicam ser possível que sequer haja corte de juros nos EUA neste ano. E, no mercado doméstico, há temores de que a taxa terminal neste ciclo de queda da Selic seja maior do que a projetada até algumas semanas atrás, o que é algo ruim para os ativos de risco", aponta Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital.

Ainda em Washington para os encontros de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou hoje haver muita liquidez no mundo, o que não impede a possibilidade de reversão em algum momento - o que impactaria os países emergentes e também o crédito privado, alertou.

"A gente pode ter, em algum momento, um efeito oriundo dessa rolagem de dívida muito alta, que acabe gerando falta de liquidez, uma menor liquidez, tanto no mundo emergente como nos países de baixa renda, com implicação também para o crédito privado", disse Campos Neto, em entrevista coletiva do G20 Brasil, em paralelo às reuniões de primavera dos organismos financeiros internacionais, na capital americana, reportam a correspondente Aline Bronzati e o jornalista Cícero Cotrim, do Broadcast.

Dólar

Após queda de 0,47% ontem, o dólar à vista apresentou leve alta na sessão desta quinta-feira, 18, dia marcado por fortalecimento da moeda americana no exterior. Falas duras de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) empurraram as taxas dos Treasuries ainda mais para cima, o que castigou divisas emergentes. Os ruídos políticos locais e a percepção de desidratação prematura do novo arcabouço fiscal seguem como pano de fundo para a busca de proteção cambial.

Tirando uma queda pontual e limitada nos primeiros negócios, quando registrou mínima a R$ 5,2293, a moeda trabalhou em alta no restante da sessão. Com máxima a R$ 5,2784 no início da tarde, o dólar reduziu bastante os ganhos na última hora de pregão e encerrou cotado a R$ 5,2502, avanço de 0,12%. A divisa passa a apresentar avanço de 2,52% nesta semana, o que leva a valorização acumulada em abril para 4,68%.

Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY teve leve alta, voltando a superar os 106,100 pontos. Entre divisas e emergentes, as piores perdas foram dos pesos mexicano e colombiano, dois dos principais pares do real. Na contramão, o peso chileno teve ganhos de mais de 1%, escorado na alta do cobre, que atingiu hoje o maior nível em dois anos.

"Houve uma correção ontem no câmbio até por conta do movimento exacerbado de alta nos dias anteriores. E hoje o dólar já voltou a subir. Ainda não foi encontrado um ponto de equilíbrio", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, ressaltando que o mercado ainda está absorvendo a perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos. "As divisas emergentes acabam sofrendo um pouco mais porque tem um nível de risco maior. Com o cenário muito indefinido, é natural que haja busca de hedge".

Com a ausência de indicadores de peso, as atenções se voltaram para falas de dirigentes do Federal Reserve. Pela manhã, o presidente do Fed de Nova York, John Willians, afirmou não sentir urgência de cortar os juros. Com direito a voto nas decisões de política monetária do BC americano, Willians disse que a taxas vão cair, mas que o momento exato depende do comportamento da economia, que ainda está aquecida. No início da tarde, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, reforçou a perspectiva de postergação dos cortes de juros mais para o fim do ano.

Em entrevista coletiva ao lado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou é "preciso cautela nos próximos dias e semanas, porque haverá um reposicionamento global" com as mudanças das expectativas para os juros nos EUA. Já Campos Neto disse que o BC decidiu abandonar o "foward guidance" da política monetária, que previa novo corte da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual em maio, porque "a visibilidade é menor". Ambos participaram de encontro do G20 Brasil, que ocorreu em paralelo às reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington.

Segundo o presidente do BC, o fortalecimento global do dólar pode impor necessidade de reação de alguns banqueiros centrais. O Brasil estaria em uma situação melhor, em razão dos fundamentos externos positivo, com superávits comerciais robustos. "Não interferimos no mercado de câmbio para combater uma mudança estrutural, que tem fundamento, como o caso da percepção de que os juros dos EUA terão de ficar mais altos por mais tempo", disse o Campos Neto.

"Não houve novidade no que Haddad e Campos Neto falaram. O mercado continua avesso ao risco. A alta dos juros do Treasuries fortalece o dólar e ainda temos o clima de incerteza com a questão fiscal doméstica", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Ouribank.

Juros

Os juros futuros terminaram o dia em queda, fazendo uma pausa no movimento de estresse que marcou as últimas sessões, numa tentativa de correção às altas recentes, mas limitada pelo avanço dos rendimentos dos Treasuries e do dólar. Havia grande expectativa em relação à entrevista coletiva do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em Washington, após as declarações de ontem que mexeram com as apostas para a Selic, mas não houve novidades que pudessem alterar o quadro.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,420%, de 10,429% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 passou de 10,76% para 10,67%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,94% (11,05% ontem) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,34%, ante 11,47% ontem no ajuste.

A escalada das taxas nas últimas semanas deixou espaço grande para ajuste, mas o ambiente de incertezas no exterior e o risco de um ciclo de alívio monetário mais comedido no Brasil restringiram a queda dos prêmios de risco. "Finalmente, o mercado conseguiu hoje parar para respirar, depois de um turbilhão de dados e eventos geopolíticos e fiscais desde a semana passada", afirmou a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta. Ela classifica a quinta-feira como um dia de estabilidade possibilitada pela ausência de "fatores macro relevantes" e de "movimentos geopolíticos que pudessem alimentar a aversão ao risco".

As taxas longas, que vinham subindo em ritmo muito mais forte, tiveram alívio ligeiramente maior ante as demais, principalmente no início dos negócios, quando a taxa da T-Note de dez anos ainda rodava abaixo dos 4,60%. No fim da manhã, voltou a cruzar aquela linha, assim como o yield da T-Note de 2 anos voltou a se aproximar de 5%, pressionadas por discursos de dirigentes do Federal Reserve, com destaque para a fala do presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic. Ele afirmou que não será possível cortar os juros antes do fim do ano.

As pontas curta e intermediária mostraram maior rigidez, mesmo depois da entrevista de Campos Neto por volta das 14h30. Após a reação avassaladora das taxas ontem à sinalização dele que o Banco Central poderia não seguir o forward guidance caso o nível elevado das incertezas persista, a entrevista de hoje seria uma oportunidade para uma eventual correção de rota. Não houve retrocesso, tampouco ele colocou mais lenha na fogueira.

Ele explicou que a visibilidade no cenário atual é menor, após a reprecificação do processo de desinflação. "A gente então passa agora a uma fase onde existe uma probabilidade maior de ter uma taxa de juros mais alta por mais tempo", afirmou. Comentou ainda que a valorização do dólar só será levada em consideração se interferir nas variáveis que interferem na função de reação do BC. Para Campos Neto, a alta do dólar pode impor a necessidade de reação de alguns banqueiros centrais, mas o Brasil está em uma situação melhor. Ele lembrou que os fundamentos externos do País são positivos, com aumento dos superávits comerciais.

Desse modo, a precificação da curva para a Selic nos próximos meses não se alterou em relação ao que se via ontem, com apostas cravadas na redução da dose de alívio da Selic em maio para 0,25 ponto. Tal movimento de cautela já é visto também entre os economistas. Na pesquisa do Projeções Broadcast, 29 entre 33 instituições consultadas mantém a expectativa de queda de 0,5 ponto em maio. Banco Pine, Asa Investments, GAP Asset e JFTrust são as que preveem desaceleração a 0,25 ponto.


Encontrou algum erro? Entre em contato