Bolsa fecha positva; juros em alta mas dólar fecha com menor valor em 10 dias; veja resumo

Por Agência Estado 23/04/2024 - 18:42

ACESSIBILIDADE


Bolsa

As bolsas de Nova York fecharam em alta na terça-feira, 23, em uma sessão que prossegue a recuperação nos ativos de risco após o choque causado pelas tensões entre Israel e Irã. Além disso, a divulgação de uma queda no índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos em abril deu indicações de uma possível postura mais branda do Federal Reserve (Fed). Ainda neste cenário, investidores ficaram atentos à publicação de uma série de balanços importantes.

O índice Dow Jones subiu 0,69%, aos 38.503,69 pontos; o S&P 500 subiu 1,20% aos 5.070,52 pontos; e o Nasdaq avançou 1,59%, aos 15.696,64 pontos.

Para o Citi, a queda do PMI composto americano ao menor nível em quatro meses sugere uma incipiente desaceleração do mercado de trabalho do país, o que deve justificar um ritmo de alívio monetário no país mais rápido que o precificado atualmente. O mercado voltou a ver como mais provável o cenário de cortes de juros acumulados de 50 pontos-base nos EUA em 2024 - dois cortes individuais, se considerado o ritmo de 25 pontos-base por ajuste - , depois de as apostas terem migrado para baixa de apenas 25 pontos-base na semana passada. A probabilidade de o Fed reduzir taxas em 50 pontos-base (ou empregar dois cortes de 25 pontos-base) até dezembro subiu a 34,7%, de 32,8% ontem, segundo o monitoramento do CME Group.

Enquanto isso, a temporada de balanços corporativos nos EUA rouba a cena. As ações da Spotify foram destaque positivo nos negócios, com salto de 11,41%, após a companhia superar expectativas de lucro e receita no primeiro trimestre. Na ponta oposta, os papéis da aérea JetBlue amargaram perdas de 18,77%, com o mercado cético quanto ao tempo de recuperação dos números da empresa. As ações da Pepsico tiveram queda de 2,91%. Apesar de ter superado expectativas de lucro e receita no primeiro trimestre, sua unidade Quaker Foods North America sofreu prejuízo no período em meio a recalls de produtos, e azedou a reação do mercado aos resultados.

A Tesla avançou 1,80%, com sua publicação de resultado após o fechamento do mercado representando a primeira dentre as chamadas "7 Magníficas". O Deutsche Bank aponta que as quedas recentes da Tesla são interessante de se avaliar, já que o mercado apostava firmemente nos veículos elétricos (VE) há três anos, assim como hoje faz com a inteligência artificial (IA). Por sua vez, o setor enfrentou uma série de dificuldades, incluindo a concorrência chinesa. "A IA emergiu e assumiu o papel de queridinha da tecnologia esmagadoramente dominante nos mercados. Embora tenhamos sido muito otimistas quanto à capacidade da IA para mudar o mundo no futuro, é quase impossível compreender como valorizar as empresas que estão atualmente a instalando os canais e a infraestrutura da IA", aponta o banco. "A IA pode seguir um caminho muito diferente da mania VE, mas vale a pena pelo menos estar ciente do modelo', destaca.


Dólar

O dólar emendou o terceiro pregão consecutivo de baixa firme no mercado doméstico de câmbio na sessão da terça-feira, 23, acompanhando a onda de enfraquecimento global da moeda americana e o recuo das taxas dos Treasuries. Sinais de perda de força da economia do EUA, após a divulgação de índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) referentes a abril, elevaram as chances de o Federal Reserve promover dois cortes da taxa de juros neste ano.

Tirando um movimento limitado de alta na primeira hora de negócios, antes da divulgação de indicadores americanos, a divisa trabalhou em queda no restante do pregão. Com aprofundamento das perdas ao longo da tarde, em sintonia com o exterior, o dólar registrou mínima a R$ 5,1195. No fim do dia, a moeda recuava 0,74%, a R$ 5,1304 - menor valor de fechamento em dez dias. Nos três últimos pregões, a divisa acumulou queda de 2,28%. Em abril, contudo, o dólar ainda apresenta valorização de 2,29% ante o real.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana em relação a seis divisas fortes, em especial o euro - voltou a trabalhar abaixo da linha dos 106,000 pontos, com mínima aos 105,614 pontos. Entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, os maiores ganhos foram do peso mexicano e do real. Trata-se de uma recuperação esperada dado que ambas as moedas ainda acumulam as piores perdas entre emergentes no mês.

"O movimento de alta do dólar foi muito forte na semana passada e está sendo revertido aos poucos. O dólar está voltando também em relação a outras moedas. E aqui os exportadores estão trazendo recursos para aproveitar a taxa de câmbio mais alta", afirma o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima. "O BC acertou em não intervir. Os fundamentos mudaram e não fazia sentido atuar para mascarar esse processo".

Juros

A primeira parte dos negócios foi marcada pelo avanço das taxas, especialmente as de longo prazo que respondem principalmente aos riscos fiscais e externo. As preocupações com o cenário das contas públicas, em especial o andamento da chamada "pauta bomba" de R$ 70 bilhões combinada à arrecadação de março abaixo do esperado, e ajustes técnicos relacionados ao leilão do Tesouro pesavam sobre a curva. O Tesouro fez uma oferta muito maior de NTN-B, com risco para o mercado mais de 300% superior ao da semana passada.

No começo da tarde, 23, passado o leilão, o cenário desanuviou quando o dólar acelerou as perdas e a taxa da T-Note de dez anos se firmou abaixo de 4,60%, respondendo inicialmente a dados mais fracos de atividade nos EUA e depois a um leilão de papéis de 2 anos com demanda acima da média. PMIs preliminares de abril vieram abaixo do esperado, o que levou o mercado a ampliar as apostas nos cortes de juros este ano pelo Federal Reserve. Assim, as taxas aqui zeraram o avanço.

Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, há pouco espaço para novas altas das taxas na medida em que o mercado exagerou na reprecificação na semana passada. "O movimento foi violento, com o dólar perto de R$ 5,30 e a curva projetando Selic terminal de 10,50%. Acho que passou do ponto e os dados de atividade mais fracos hoje nos EUA abriram margem para alguma melhora. O mercado aproveitou a trégua externa para comer um pouco dos prêmios", disse, ressaltando que os dados, de abril, indicam que uma acomodação da economia americana pode estar a caminho no segundo trimestre.

Internamente, apesar da nova piora nas expectativas de inflação mostrada hoje na pesquisa Focus, o que mais preocupa é a situação fiscal, com pressões por aumentos de gastos em várias frentes e margem pequena de manobra para o governo para reduzir subsídios. A boa notícia foi o acordo fechado com o Legislativo para a reformulação do Perse, que terá uma trava para impedir que o custo dos benefícios ultrapasse o teto de R$ 15 bilhões em três anos.

Por outro lado, o presidente Lula confirmou que o governo prepara "aumento de salário para todas as carreiras" do funcionalismo, em café da manhã com jornalistas nesta terça-feira. Pelo lado das receitas, a arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$ 190,611 bilhões em março de 2024, levemente abaixo da mediana das expectativas, de R$ 191,1 bilhões.

Borsoi nota que houve um certo "apaziguamento" na seara política, o que melhora a perspectiva para a agenda econômica que depende do Congresso. "Lula parece que escanteou Padilha e tenta se aproximar de Lira e de Pacheco. E Haddad está de volta para reforçar as negociações", disse. Lula negou que o governo tenha problemas com o Congresso e confirmou que se encontrou com Lira domingo, mas se recusou a detalhar o conteúdo da conversa.

Nos EUA, o PMI composto divulgado pela S&P Global caiu de 52,1 em março para 50,9 em abril, no menor nível em quatro meses. Analistas esperavam alta para 52,5. O PMI Industrial recuou de 51,9 para 49,9. Leituras abaixo de 50 indicam contração da atividade. Ferramenta dos CME Group mostrou aumento das chances de redução de 50 pontos-base de juros pelo Fed neste ano, que passaram a se situar um pouco acima das apostas em corte de apenas 25 pontos-base.

"Esses PMIs são geralmente dados secundários. Mas hoje fizeram preço. Isso mostra o mercado muito sensível a qualquer informação marginal depois de o próprio Fed dizer que está mais 'data dependent", afirma Lima, ressaltando que, em fala na semana passada, o presidente do BC americano, Jerome Powell, adotou um tom mais conservador, evitando se comprometer com queda dos juros neste ano. Na sexta-feira, 26, sai o índice preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida pelo Fed.

Para Lima, dados de atividade e inflação nos EUA, que vão balizar as apostas em torno dos próximos passos do Fed, ainda são determinantes para a trajetória do dólar. Não se pode desconsiderar, contudo, os impactos dos "fatores idiossincráticos" domésticos. Apesar do fortalecimento da moeda americana no exterior em abril, o real poderia ter se depreciado menos não fossem questões locais, como a novela em torno dos dividendos da Petrobras e a mudança das metas fiscais no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

No momento, as atenções se voltam para os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para desmontar a pauta-bomba no Congresso que pode engordar os gastos em R$ 70 bilhões. Após reunião hoje com o presidente da Câmara, Artur Lira (PP-AL), Haddad disse houve acordo para votação do projeto de lei que reformula o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), com custo fixo de R$ 15 bilhões até 2026.

Para o Citi, o aumento do risco fiscal local ajuda a explicar a depreciação recente do real e deve levar o dólar a oscilar em torno de R$ 5,10 no fim de 2024. Antes, o banco esperava que a taxa de câmbio se mantivesse abaixo de R$ 5,00, dada a solidez das contas externas. "A depreciação do real, combinada a um aumento do CDS Credit Default Swap do Brasil acima da média dos emergentes, indica que os preços dos ativos domésticos não estão reagindo só a fatores externos", diz o banco.


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