Com pressão na siderurgia, Ibovespa se descola de NY e cai 0,34%; dólar cai pelo 3º pregão

Por Agência Estado 23/04/2024 - 18:54

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Com pressão na siderurgia, Ibovespa se descola de NY e cai 0,34%, a 125,1 mil -


Por Luís Eduardo Leal

São Paulo, 23/04/2024 - Na contramão de Nova York, onde os ganhos chegaram a 1,59% (Nasdaq) na sessão, o Ibovespa interrompeu nesta terça-feira sequência de três altas, encerrando a 125.148,07 pontos, em baixa de 0,34% e com giro a R$ 21,2 bilhões. Apesar da recuperação entre os grandes bancos, com destaque para Itaú (PN +1,49%), o dia foi ruim para o setor metálico, em especial para as siderúrgicas, após a decepção com os resultados trimestrais da Usiminas (PNA -13,91%), na abertura da temporada brasileira referente ao primeiro trimestre. Na semana, o Ibovespa sobe 0,02% e no mês cede 2,31%, colocando as perdas do ano a 6,73%.

A frustração com os resultados da Usiminas puxou para baixo nomes como Gerdau (PN -4,03%) e CSN (ON -2,44%), e reverberou também em Vale (ON -0,87%) que divulga, depois do fechamento da quarta-feira, o balanço trimestral. Além do setor metálico, outra referência das commodities, Petrobras, recuou hoje (ON -0,69%, PN -0,19%). Na ponta perdedora do Ibovespa na sessão, além de Usiminas e Gerdau, destaque também para Magazine Luiza (-5,88%) e Casas Bahia (-4,48%). No lado oposto, Pão de Açúcar (+11,69%), Fleury (+5,07%) e 3R Petroleum (+4,11%).

"A ação da Usiminas caiu acentuadamente devido a uma significativa redução de 93% no lucro líquido reportado para o 1T24 comparado ao mesmo período do ano anterior. Além disso, a empresa enfrenta desafios com o aumento de importações de aço, e na teleconferência o CFO disse esperar que o volume na mineração, em 2024, seja menor do que em 2023", diz Lucas Almeida, sócio da AVG Capital.

Para além da questão setorial, "o cenário econômico brasileiro para 2024 apresenta desafios significativos, refletidos na reação do mercado às recentes projeções do Boletim Focus. A taxa Selic projetada para 9,5% e o aumento nas projeções do IPCA para os anos de 2024 e 2025 indicam cautela, com ajustes nas curvas de juros futuros e perspectiva mais conservadora quanto à inflação", aponta em nota Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos.

"Esse panorama afeta diretamente os ativos ligados à economia doméstica, com o setor varejista - incluindo grandes empresas como Magazine Luiza, Casas Bahia e Arezzo - enfrentando desafios. Em resposta a essas condições, Magazine Luiza planeja uma assembleia extraordinária para discutir um grupamento de ações na proporção de 10 para 1, uma estratégia que visa reduzir a volatilidade das ações sem alterar o patrimônio dos investidores", acrescenta Boragini, observando que a medida reflete uma "busca por estabilidade" no mercado de ações, "um esforço para mitigar os efeitos das incertezas econômicas atuais".

Em relatório mensal sobre o cenário econômico brasileiro, a equipe de pesquisa do Citi constata que a reavaliação em andamento sobre a política monetária nos Estados Unidos e o anúncio, na semana passada, de uma consolidação fiscal mais "suave" no Brasil resultam em depreciação do real frente ao dólar. Em paralelo, indicadores de atividade dão suporte a uma aceleração do crescimento, em ambiente no qual o mercado de trabalho se mantém aquecido, aponta o banco americano. Considerando as condições do momento, o Citi avalia que o ciclo de corte de juros tende a ser mais curto do que se previa.

Para o Citi, o Comitê de Política Monetária (Copom), ante a elevação das incertezas, tende a adotar uma abordagem para os juros mais "dependente dos dados" - o banco americano vê a Selic ainda a dois dígitos no fechamento de 2024, a 10%, ante consenso do Focus a 9,5% para o mesmo intervalo.

"O dia começou negativo para Bolsa como para o câmbio e para os juros futuros domésticos, mas depois tanto o real frente ao dólar como a curva doméstica de juros reagiram - dados do PMI nos Estados Unidos divulgados hoje, abaixo do esperado tanto para a indústria como para os serviços, tiraram parte da pressão" que tem sido vista nos rendimentos dos Treasuries, o que favoreceu avanço dos índices de ações em Nova York nesta terça-feira, observa Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos. Em Nova York, os principais índices de ações fecharam em alta de 0,69% (Dow Jones), 1,20% (S&P 500) e 1,59% (Nasdaq).

Aqui, "o Ibovespa abriu o dia em queda mais forte, na casa de -0,7%, -0,8%, mas o PMI americano, que saiu logo cedo, acabou ajudando a estabilizar o índice da B3 ao longo do dia. Desaceleração da economia americana era algo que todos estavam esperando, pelo efeito para a política monetária do Federal Reserve. A curva de juros americana esteve sob grande estresse, recentemente, e juros altos por lá roubam fluxo de emergentes como o Brasil", diz Thiago Pedroso, responsável pela área de renda variável da Criteria, destacando em especial a desaceleração do setor de serviços nos Estados Unidos, na leitura divulgada nesta manhã.

"Após o Roberto Campos Neto presidente do BC ter deixado na semana passada as coisas mais em aberto, a expectativa é de que haja espaço para o Copom continuar a cortar os juros na próxima reunião - e os números sobre a atividade americana que vieram hoje ajudam nisso", acrescenta Pedroso, observando que a semana reserva outros dois dados importantes, com potencial para mexer com o humor do mercado: a primeira leitura sobre o PIB dos EUA no trimestre janeiro-março e o PCE, métrica de inflação ao consumidor acompanhada de perto pelo Fed, o BC americano.

"Os PMIs da Europa, do Japão e Reino Unido superaram as expectativas, enquanto o dos Estados Unidos não atendeu às previsões. A divergência é vista com bons olhos pelo mercado: sugere crescimento mais equilibrado globalmente, em contraste com o temor de que os EUA cresçam a um ritmo muito superior ao do resto do mundo. Isso poderia levar a uma política monetária mais rígida nos EUA por período prolongado, com taxas de juros potencialmente mais altas para conter a inflação, enquanto outras economias poderiam reduzir suas taxas para estimular o crescimento", observa em nota Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, acrescentando que a leitura do mercado sobre os dados agregados refletiu-se, hoje, em depreciação do dólar e em alívio na curva de juros no Brasil.

Por outro lado, no cenário doméstico - aponta Pedroso, da Criteria -, o mercado segue atento ao estremecimento da relação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com o Palácio do Planalto, no momento em que se teme o efeito de "pautas-bomba", como a PEC do Quinquênio, sobre as contas públicas, além da agenda econômica de interesse do governo - e que depende de aprovação do Congresso.

Dólar

O dólar emendou o terceiro pregão consecutivo de baixa firme no mercado doméstico de câmbio na sessão desta terça-feira, 23, acompanhando a onda de enfraquecimento global da moeda americana e o recuo das taxas dos Treasuries. Sinais de perda de força da economia do EUA, após a divulgação de índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) referentes a abril, elevaram as chances de o Federal Reserve promover dois cortes da taxa de juros neste ano.

Tirando um movimento limitado de alta na primeira hora de negócios, antes da divulgação de indicadores americanos, a divisa trabalhou em queda no restante do pregão. Com aprofundamento das perdas ao longo da tarde, em sintonia com o exterior, o dólar registrou mínima a R$ 5,1195. No fim do dia, a moeda recuava 0,74%, a R$ 5,1304 - menor valor de fechamento em dez dias. Nos três últimos pregões, a divisa acumulou queda de 2,28%. Em abril, contudo, o dólar ainda apresenta valorização de 2,29% ante o real.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana em relação a seis divisas fortes, em especial o euro - voltou a trabalhar abaixo da linha dos 106,000 pontos, com mínima aos 105,614 pontos. Entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, os maiores ganhos foram do peso mexicano e do real. Trata-se de uma recuperação esperada dado que ambas as moedas ainda acumulam as piores perdas entre emergentes no mês.

"O movimento de alta do dólar foi muito forte na semana passada e está sendo revertido aos poucos. O dólar está voltando também em relação a outras moedas. E aqui os exportadores estão trazendo recursos para aproveitar a taxa de câmbio mais alta", afirma o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima. "O BC acertou em não intervir. Os fundamentos mudaram e não fazia sentido atuar para mascarar esse processo".

Nos EUA, o PMI composto divulgado pela S&P Global caiu de 52,1 em março para 50,9 em abril, no menor nível em quatro meses. Analistas esperavam alta para 52,5. O PMI Industrial recuou de 51,9 para 49,9. Leituras abaixo de 50 indicam contração da atividade. Ferramenta dos CME Group mostrou aumento das chances de redução de 50 pontos-base de juros pelo Fed neste ano, que passaram a se situar um pouco acima das apostas em corte de apenas 25 pontos-base.

"Esses PMIs são geralmente dados secundários. Mas hoje fizeram preço. Isso mostra o mercado muito sensível a qualquer informação marginal depois de o próprio Fed dizer que está mais 'data dependent", afirma Lima, ressaltando que, em fala na semana passada, o presidente do BC americano, Jerome Powell, adotou um tom mais conservador, evitando se comprometer com queda dos juros neste ano. Na sexta-feira, 26, sai o índice preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida pelo Fed.

Para Lima, dados de atividade e inflação nos EUA, que vão balizar as apostas em torno dos próximos passos do Fed, ainda são determinantes para a trajetória do dólar. Não se pode desconsiderar, contudo, os impactos dos "fatores idiossincráticos" domésticos. Apesar do fortalecimento da moeda americana no exterior em abril, o real poderia ter se depreciado menos não fossem questões locais, como a novela em torno dos dividendos da Petrobras e a mudança das metas fiscais no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

No momento, as atenções se voltam para os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para desmontar a pauta-bomba no Congresso que pode engordar os gastos em R$ 70 bilhões. Após reunião hoje com o presidente da Câmara, Artur Lira (PP-AL), Haddad disse houve acordo para votação do projeto de lei que reformula o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), com custo fixo de R$ 15 bilhões até 2026.

Para o Citi, o aumento do risco fiscal local ajuda a explicar a depreciação recente do real e deve levar o dólar a oscilar em torno de R$ 5,10 no fim de 2024. Antes, o banco esperava que a taxa de câmbio se mantivesse abaixo de R$ 5,00, dada a solidez das contas externas. "A depreciação do real, combinada a um aumento do CDS Credit Default Swap do Brasil acima da média dos emergentes, indica que os preços dos ativos domésticos não estão reagindo só a fatores externos", diz o banco.

Juros

Os juros futuros fecharam a terça-feira com viés de alta. As taxas experimentaram alguma volatilidade no fim da tarde, na medida em que os juros dos Treasuries reduziram o ritmo de queda, num esforço para manter as taxas perto da estabilidade para qual haviam migrado após subirem pela manhã. O dólar em queda firme e a percepção de melhora nas negociações do governo com o Congresso, especialmente com o engajamento pessoal do presidente Lula, contribuíram para limitar a piora da curva local.

No fechamento, a do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,315%, de 10,296% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 passava de 10,49% para 10,51%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,82%, de 10,79%. A taxa do DI para janeiro de 2029 era de 11,28% (de 11,26%).

A primeira parte dos negócios foi marcada pelo avanço das taxas, especialmente as de longo prazo que respondem principalmente aos riscos fiscais e externo. As preocupações com o cenário das contas públicas, em especial o andamento da chamada "pauta bomba" de R$ 70 bilhões combinada à arrecadação de março abaixo do esperado, e ajustes técnicos relacionados ao leilão do Tesouro pesavam sobre a curva. O Tesouro fez uma oferta muito maior de NTN-B, com risco para o mercado mais de 300% superior ao da semana passada.

No começo da tarde, passado o leilão, o cenário desanuviou quando o dólar acelerou as perdas e a taxa da T-Note de dez anos se firmou abaixo de 4,60%, respondendo inicialmente a dados mais fracos de atividade nos EUA e depois a um leilão de papéis de 2 anos com demanda acima da média. PMIs preliminares de abril vieram abaixo do esperado, o que levou o mercado a ampliar as apostas nos cortes de juros este ano pelo Federal Reserve. Assim, as taxas aqui zeraram o avanço.

Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, há pouco espaço para novas altas das taxas na medida em que o mercado exagerou na reprecificação na semana passada. "O movimento foi violento, com o dólar perto de R$ 5,30 e a curva projetando Selic terminal de 10,50%. Acho que passou do ponto e os dados de atividade mais fracos hoje nos EUA abriram margem para alguma melhora. O mercado aproveitou a trégua externa para comer um pouco dos prêmios", disse, ressaltando que os dados, de abril, indicam que uma acomodação da economia americana pode estar a caminho no segundo trimestre.

Internamente, apesar da nova piora nas expectativas de inflação mostrada hoje na pesquisa Focus, o que mais preocupa é a situação fiscal, com pressões por aumentos de gastos em várias frentes e margem pequena de manobra para o governo para reduzir subsídios. A boa notícia foi o acordo fechado com o Legislativo para a reformulação do Perse, que terá uma trava para impedir que o custo dos benefícios ultrapasse o teto de R$ 15 bilhões em três anos.

Por outro lado, o presidente Lula confirmou que o governo prepara "aumento de salário para todas as carreiras" do funcionalismo, em café da manhã com jornalistas nesta terça-feira. Pelo lado das receitas, a arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$ 190,611 bilhões em março de 2024, levemente abaixo da mediana das expectativas, de R$ 191,1 bilhões.

Borsoi nota que houve um certo "apaziguamento" na seara política, o que melhora a perspectiva para a agenda econômica que depende do Congresso. "Lula parece que escanteou Padilha e tenta se aproximar de Lira e de Pacheco. E Haddad está de volta para reforçar as negociações", disse. Lula negou que o governo tenha problemas com o Congresso e confirmou que se encontrou com Lira domingo, mas se recusou a detalhar o conteúdo da conversa.


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