ELEIÇÕES 2018

YouTube ajudou a amplificar teoria da Ursal, diz relatório

Termo ganhou fama após ter sido citado pelo presidenciável Cabo Daciolo durante debate
Por FolhaPress 31/08/2018 - 09:26

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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

O YouTube teve um papel importante na amplificação da teoria da Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), segundo um artigo publicado nesta quinta-feira, 30, pelo Digital Forensic Research Lab, do Atlantic Council, "think tank" americano.

O termo ganhou fama após ter sido citado pelo candidato a presidente Cabo Daciolo (Patriota) durante o debate presidencial de 9 de agosto. Mas a suposta conspiração comunista não passa de uma sigla criada pela socióloga Maria Lucia Victor Barbosa para ironizar o Foro de São Paulo, conferência de partidos de esquerda, de 2001.

Quando um usuário assiste a conteúdos ligados a Ursal, diz o estudo, a plataforma de vídeos recomenda mais conteúdos com teorias da conspiração, um círculo vicioso que espalha desinformação.

O relatório mostra que um site anti-petista ajudou a espalhar a teoria em 2015. O "Dossiê Ursal" continha uma série de links, muitos dos quais redirecionavam usuários para vídeos do YouTube.

A Ursal ganhou popularidade no YouTube ao longo dos anos. Gravações misturam a ideia de Pátria Grande, expressão que se refere à unificação latino-americana, com o Foro de São Paulo, acordos políticos e econômicos e blocos regionais.

Algumas gravações alegam que o Mercosul e a Unasul planejam criar um continente socialista unificado.

Um dos vídeos, intitulado "Ursal, Pátria Grande, Brics, Foro de São Paulo e PMDB, tudo a ver", mostra um discurso do então vice-presidente Michel Temer dizendo que é autor de um trecho da Constituição brasileira que trata da formação de uma comunidade de nações latino-americanas.

A Constituição, no entanto, não menciona a abolição das fronteiras ou a renúncia à soberania nacional.O filósofo Olavo de Carvalho aparece na mesma gravação, falando que os países dos Brics planejavam criar uma moeda única, o que "significaria automaticamente [a implementação de] um governo mundial, sediado nas Nações Unidas".

Um outro vídeo, publicado duas semanas antes do debate presidencial de agosto por um canal evangélico chamado Alerta Cristão, afirma que a Ursal é a segunda parte de um plano de três fases para criar uma nação comunista e anti-cristã na América Latina.

Até George Bush, Barack Obama, Emmanuel Macron e o papa Bento 16 falam sobre "uma nova ordem mundial" em conteúdos ligados à Ursal, um indicativo de que eles apoiariam a união de todas as nações. O vídeo diz que a união das repúblicas socialistas seria o primeiro passo para atingir esse objetivo.

O número de visualizações de conteúdos relacionados à Ursal explodiu após o debate, diz o estudo. Dos dez vídeos mais assistidos em 20 de agosto, ao menos quatro tratavam o termo como algo real. Outros reconheciam que tratava-se de uma piada.

A conclusão do relatório é que o YouTube, por meio de seus algoritmos, é capaz de espalhar desinformação no Brasil, assim como outras redes sociais. Às vésperas das eleições presidenciais, a recomendação é ficar de olho na plataforma.


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