SETEMBRO AMARELO

Jovens são os mais afetados mentalmente durante pandemia

Metade dos jovens brasileiros classificaram sua saúde mental como ruim ou muito ruim
Por Bruno Fernandes 05/09/2021 - 20:45
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© Marcelo Camargo/Agência Brasil
Jovens são os que mais estão sofrendo com período de pandemia da covid-19
Jovens são os que mais estão sofrendo com período de pandemia da covid-19

A pandemia da covid-19, atrelada ao desemprego e a falta de perspectivas para o futuro, está provocando danos graves na saúde mental de quase metade dos jovens brasileiros, revelou um levantamento inédito realizado pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), realizado a pedido da Pfizer Brasil e divulgado no dia 1º de setembro, em alusão à campanha Setembro Amarelo.

De acordo com a pesquisa de estimativa realizada no último mês, metade dos 2000 entrevistados entre 18 e 24 anos classificaram sua saúde mental durante a pandemia como ruim (39%) ou muito ruim (11%). Esse percentual ficou acima da média geral, de 5% e 25%, respectivamente. Tristeza (42%), insônia (38%), irritação (38%), angústia e/ou medo (36%), além de crises de choro (21%) foram os cinco sintomas mais citados pelos entrevistados.

De forma contraditória, o mesmo grupo foi o que menos procurou ajuda para tratar transtornos mentais durante o período de pandemia. Apenas 12% dos jovens entrevistados chegaram a procurar alguma ajuda profissional e iniciaram algum tipo de tratamento. Quem mais procurou ajuda foram as pessoas acima de 55 anos, grupo que foi o que menos relatou ter tido a saúde mental prejudicada durante o período epidemiológico, apenas 16%.

Entre as razões que mais afligiam as pessoas e consequentemente causaram problemas mentais estão o medo de pegar covid-19 (18%) e a situação financeira difícil no Brasil, acompanhada do acúmulo de dívidas durante o período (23%).

“Vamos viver os impactos desta pandemia nos transtornos mentais e continuar vendo as consequências por um bom tempo. Isso porque a pandemia alterou estruturalmente nossas relações sociais”, afirma Dr. Michel Haddad, psiquiatra do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo ao falar sobre os impactos mentais causados pela pandemia durante entrevista coletiva para apresentar os dados.

Ainda segundo o especialista, mulheres apresentam taxas maiores que homens de depressão porque buscam mais ajuda. Na pesquisa encomendada pela Pfizer, enquanto 50% das mulheres jovens entre 18 e 24 anos classificaram a saúde mental como ruim ou muito ruim, o percentual masculino foi de 38%.

Além de procurarem mais ajuda que homens, Haddad afirma que “a constituição hormonal diferente da mulher e do homem pode influenciar no resultado. A mulher tem alguns estados de depressão específicos do sexo, além de uma questão social por conta da vulnerabilidade feminina”.

Apesar do crescimento, Michael Haddad enfatiza que a depressão não é um problema exclusivo da pandemia e que o período serviu apenas para escancarar o que já estava acontecendo. “O aumento de casos de depressão no Brasil está acontecendo desde a última década e essa pandemia serviu apenas para escancarar a doença para todos verem que ela existe”.

Alguns medos relatados pelos entrevistados, no entanto, são justificáveis, a exemplo do de perder o emprego. No caso de Alagoas, por exemplo, foi registrada taxa recorde de desemprego em 2020 de 18,6%, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O índice no estado é o segundo maior do Brasil, ficando atrás apenas da Bahia, com 19,8%.

A alta do desemprego no estado acompanha a média nacional, que foi de 13,5% em 2020, a maior de toda a série histórica da Pnad. O levantamento do IBGE mostra ainda que os jovens, que classificaram sua saúde mental como ruim ou muito ruim foram os mais afetados pelo desemprego. As pessoas de 18 a 24 anos de idade representam 29,8% dos desempregados no Brasil.

A pesquisa, que enfatiza a preocupação financeira entre os jovens que mais apresentaram problemas mentais durante o período é divulgada na mesma semana em que o governo federal anunciou a criação de uma nova taxa em mais um reajuste no valor médio da energia elétrica, passando de R$ 9, para R$ 14 cada 100 kWh consumidos. Além disso, no mesmo dia, uma atualização no Índice Nacional de Preços do Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que a média de preços da cesta de despesas básicas das famílias aumentou 33% no País nos últimos 12 meses.

Se cuide

Caso você esteja enfrentando dificuldades e o suicídio seja um pensamento recorrente, procure ajuda no CVV e nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV (www.cvv.org.br) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.


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