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Dólar e Real, relação de altos e baixos
O Ibovespa ganhou impulso à tarde e chegou a se reaproximar dos 104 mil pontos na máxima da sessão, permanecendo abaixo deste nível, em fechamento, desde o último dia 10, quando começaram a eclodir as dificuldades de solvência em alguns bancos regionais americanos. De ontem para hoje, a percepção global sobre a possibilidade de crise de crédito, na Europa como nos Estados Unidos, refluiu, tendo em vista as movimentações não só de autoridades monetárias da Suíça e da zona do euro como também do próprio sistema financeiro americano, no sentido de se bloquear deterioração ou mesmo contágio.
No encerramento desta quinta-feira, a referência da B3, vindo de cinco perdas seguidas, mostrava alta de 0,74%, a 103.434,66 pontos, entre mínima de 102.454,77 e máxima de 103.911,26, saindo de abertura aos 102.682,65 pontos na sessão. Após ter sido reforçado ontem pelo vencimento de opções sobre o índice, o giro financeiro ficou hoje em R$ 26,6 bilhões. Na semana, o Ibovespa limita perda (-0,18%) no intervalo. No mês, ainda cede 1,43% e, no ano, cai 5,74%.
Nos Estados Unidos, os relatos quanto a possível apoio ao First Republic Bank por grandes bancos americanos contribuíram para o desempenho da sessão, com venda de Treasuries e compra de ações, o que levou o Dow Jones a fechar em alta de 1,17%, o S&P 500, de 1,76%, e o Nasdaq, de 2,48%, nesta quinta-feira.
"O Brasil não tinha como ficar à margem da aversão a risco que se viu lá fora. Mas esse momento de dificuldade no sistema de crédito reforçou a perspectiva de que há um 'easing' afrouxamento a caminho nos principais BCs ainda neste primeiro semestre, o que resulta em fechamento da curva de juros. E a curva do DI acompanhou, aqui no Brasil. Agora, já se vê possibilidade de corte da Selic em maio, quando, há pouco tempo, nem se esperava que isso pudesse acontecer em 2023", diz Felipe Moura, analista e sócio da Finacap Investimentos, acrescentando que a decisão do Banco Central Europeu (BCE), de elevar em meio ponto porcentual a taxa de referência da zona do euro, foi importante para ancorar o longo prazo.
No quadro doméstico, ele chama atenção para a expectativa para o anúncio, nos próximos dias, do novo arcabouço fiscal, outro fator considerado essencial para que o Copom, que volta a se reunir na próxima semana (assim como o Fomc, do Fed), possa vir a cortar a Selic.
Hoje, a deliberação do BCE foi recebida a princípio pelo mercado como um sinal de que a preocupação da autoridade monetária da zona do euro com a inflação se sobrepõe a temores quanto ao risco de uma crise de crédito global, em meio a dificuldades em alguns bancos regionais americanos e também no Credit Suisse.
"O humor melhorou na Europa com o suporte de liquidez disponibilizado pelo BC da Suíça para o Credit Suisse, de ontem para hoje", diz Gabriel Matesco, especialista em renda variável da Blue3, destacando que a melhora da percepção de risco, desde o exterior, contribuiu também para fechamento da curva de juros no Brasil, nesta quinta-feira, ainda que uma "possível crise de crédito" no sistema financeiro global permaneça no radar dos investidores.
De acordo com a Reuters, as autoridades do Banco Central Europeu (BCE) só concordaram com outro grande aumento na taxas de juros nesta quinta-feira, depois que ao Credit Suisse foi garantida uma tábua de salvação e os mercados se acalmaram, disseram quatro fontes familiarizadas com o assunto. A decisão do BC suíço de apoiar o Credit Suisse com empréstimo de 50 bilhões de francos suíços (US$ 54 bilhões) durante a noite ajudou a estabilizar os mercados financeiros, e deu à maioria dos formuladores de política monetária, no BCE, confiança para prosseguir com o aumento planejado da taxa de referência, reporta a Reuters.
Em outro desdobramento favorável ao apetite por ações nesta quinta-feira, os relatos sobre efeitos de peste suína na China deram impulso às ações de proteína animal na B3, que chegaram a ocupar, mais cedo, a ponta positiva do Ibovespa. No fechamento, destaque para Locaweb (+13,04%), CVC (+8,14%), Petz (+8,08%) e Localiza (+5,46%). No lado oposto, Taesa (-4,03%), Eneva (-3,07%), Assaí (-2,93%) e Engie Brasil (-2,76%).
Após o tombo do dia anterior, o petróleo se estabilizou, mas a leve recuperação, em torno de 1% nesta quinta-feira, não foi o suficiente para impulsionar Petrobras (ON -0,38%, PN -0,34%), que não conseguiu acompanhar as outras ações de maior peso no Ibovespa, como as do setor metálico (Vale ON +0,37%), em dia também negativo para o minério de ferro na China, e as de grandes bancos, com destaque ainda para Bradesco PN (+2,81%).
Mais cedo, a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, disse ser fundamental fazer o possível para reduzir a inflação nos Estados Unidos e defendeu que o Federal Reserve faça sua parte para atingir esse objetivo. "Considero a alta inflação o problema econômico número um que todos precisamos resolver", afirmou Yellen, em depoimento ao Comitê de Finanças do Senado, acrescentando que essa também é uma das principais prioridades do presidente dos EUA, Joe Biden.
Dólar
Em queda contida pela manhã, o dólar à vista aprofundou o ritmo de baixa ao longo da tarde e encerrou a sessão desta quinta-feira, 16, cotado a R$ 5,2398, desvalorização de 1,03%, após registrar mínima a R$ 5,2368 na reta final dos negócios. Apesar do refresco hoje, a semana ainda é de perdas para o real, com o dólar acumulando ganhos de 0,61% no mercado doméstico de câmbio.
Após o estresse ontem com os problemas de liquidez do Credit Suisse, que aumentaram o mal estar provocado pela quebra de bancos regionais nos EUA, em especial do Silicon Valley Bank (SVB), os ativos de risco experimentaram uma recuperação hoje, com investidores ponderando o risco de crise sistêmica e recessão global. Ao anúncio ontem à noite de linha de 50 bilhões de francos suíços do Banco Nacional da Suíça ao Credit Suisse somaram informações de que um grupo de bancos americano vai depositar US$ 30 bilhões ao First Republic Bank, que também enfrenta problemas de liquidez.
"Tivemos um alívio no pessimismo lá fora hoje com o socorro aos bancos, o que tirou pressão sobre os ativos de risco. As divisas emergentes perderam nos últimos, mas o real até que ficou bem ancorado.", afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, para quem, caso o novo arcabouço fiscal não decepcione e o ambiente externo desanuvie, o dólar pode voltar para a casa de R$ 5,10. "Por enquanto, o ambiente ainda deve ser de volatilidade, com receio de que apareça outro banco com problemas".
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em queda ao longo do dia, com mínima aos 104,203 pontos, com perdas frente ao euro. Ao contrário do especulado ontem, o Banco Central (BCE) anunciou pela manhã elevação da taxa de juros em 50 pontos-base. A presidente do BCE, Cristine Lagarde, disse que não vê um cenário de crise de liquidez, mas reforçou que a autoridade monetária está "pronta para agir". As taxas dos Treasuries avançaram, com a T-note de 2 anos, voltando a operar acima de 4%. Voltaram a ser majoritárias as apostas de que o Federal Reserve anuncie no dia 22 alta de taxa básica em 25 pontos-base.
A moeda americana caiu em relação à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, embora tenha subido frente a dois pares relevantes do real (peso chileno e rand sul-africano). O peso mexicano, que sofreu mais nos dias de estresse, hoje acumulou os maiores ganhos entre divisas latino-americanas. As cotações do petróleo subiram no mercado internacional, com o tipo Brent para maio em alta de 1,37%, a US$ 74,70 o barril.
Segundo o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, a despeito do alívio hoje, o ambiente ainda é de incerteza e pouco apetite por ativos de risco, como moedas emergentes. Embora ressalte que há diferenças entre o caso do Credit Suisse, que já apresentava problemas desde o ano passado, e a quebra dos bancos americanos, o mercado interpretou as questões como um sinal de aumento do risco sistêmico no setor financeiro. "Hoje houve desmonte de posições de hedge proteção, mas ainda vejo um ambiente de cautela. Falta uma sinalização mais clara para a trajetória de juros nos EUA após os problemas nos bancos", afirma Velloni.
Juros
Os juros futuros fecharam a sessão em alta, mais expressiva no miolo da curva, refletindo uma realização de lucros após a queda de ontem, tendo como gatilhos o avanço dos rendimentos dos Treasuries e o leilão de prefixados do Tesouro.
Mesmo com mais um banco de médio porte nos Estados Unidos apresentando problemas de liquidez, os mercados testaram uma recuperação, apoiados na diligência das autoridades e de instituições maiores em fornecer linhas de ajuda. A sinalização dada pelo Banco Central Europeu (BCE) ao confirmar a dose de 50 pontos-base no juro também amenizou a percepção negativa sobre a atividade que vinha sendo alimentada pelos problemas no sistema financeiro.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) não se sustentou abaixo dos 13%, fechando em 13,03%, de 12,96% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,07% para 12,15%, e a do DI para janeiro de 2027, de 12,52% para 12,59%. A do DI para janeiro de 2029 também não conseguiu manter-se abaixo dos 13%, fechando em 13,04%, de 12,98%.
A melhora do apetite por risco lá fora abriu espaço para um ajuste em alta nos rendimentos dos Treasuries, após o tombo de ontem, replicado na curva local. O mercado buscou relativizar os riscos para a economia advindos do setor bancário depois que o Credit Suisse indicou que vai acessar a linha de até 50 bilhões de francos disponibilizada pelo banco central suíço e que um pool de 11 bancos, entre eles BofA e Citi, vai depositar US$ 30 bilhões para salvar o First Republic Bank.
Além disso, a postura firme do BCE emitiu uma mensagem mais tranquilizadora. "O fato de o BCE ter batido no peito e elevado do juro em 50 pontos sugere que o Fed poderá não ser tão dovish", afirma a economista da B.Side Investimentos, Helena Veronese, ressalvando que, contudo, o risco de um aumento de 50 pontos nos EUA saiu do radar. "O mercado segue com aquela visão de alta de 25 pontos", explica.
A presidente da instituição, Christine Lagarde, disse que a inflação deve permanecer "muito alta por muito tempo" na zona do euro, o que justificou a decisão. Quando ao sistema financeiro, ela assegurou que não enxerga um cenário de crise de liquidez, mas reforçou que a autoridade monetária está "pronta para agir" se o quadro geral assim exigir. Acrescentou que o setor bancário está em posição mais forte do que em 2008, quando a quebra do Lehman Brothers disseminou uma crise financeira a nível mundial
Desse modo, pela manhã, nos Treasuries, a taxa da T-Note de 2 anos avançava, rompendo novamente a marca dos 4%, enquanto os rendimentos mais longos cediam. Os DIs espelhavam o desenho de flattening da curva americana, pressionados ainda pelo leilão do Tesouro, com oferta de 12 milhões de LTN, vendida integralmente. No começou da tarde, contudo, a ponta longa zerou o viés de baixa e passou a subir, com a virada também para cima do yield da T-Note de 10 anos.
No Brasil, a agenda esvaziada na semana tem reforçado a expectativa pelo novo arcabouço fiscal, fator tido como chave para o que deverá ser o comunicado do Copom. Amanhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reúne com o presidente Lula para discutir a proposta e a perspectiva é de que o conteúdo seja conhecido antes da reunião de política monetária.
"Se for algo razoável e crível, o Copom deverá apresentar um discurso diferente em relação ao comunicado anterior", afirma Veronese. Ela destaca que, desde a reunião de janeiro, há sinais de arrefecimento da inflação e da atividade e houve a reoneração parcial dos preços da gasolina, o que é positivo do ponto de vista fiscal.
No leilão do Tesouro, o lote de 12 milhões de LTN foi vendido integralmente, mas, da oferta de 300 mil NTN-F, só foram colocadas as 150 mil referente ao papel mais longo, de 2033. Não aceitou nenhuma propostas para a NTN-F 2029.
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