ECONOMIA
Dólar à vista encerra dia cotado a R$ 4,9240, em alta de 0,24%
Juros futuros de curto prazo fecham em leve queda
Em sessão marcada por instabilidade e troca de sinais, o dólar à vista encerrou cotado a R$ 4,9240, em alta de 0,24%, interrompendo uma sequência de quatro pregões consecutivos de queda. Na semana, a divisa apresenta recuo de 0,58%, levando a desvalorização em junho para 2,94%. Embora a desaceleração do IPCA em maio tenha surpreendido e reforçado as apostas em corte da taxa Selic a partir de agosto, o mercado de câmbio trabalhou em ritmo lento, sem disposição para apostas mais contundentes na véspera do dia de Corpus Christi, quando não haverá negócios. As oscilações foram contidas, de pouco mais de três centavos entre a mínima (R$ 4,9010) e a máxima (R$ 4,9321).
Apesar da rodada de aumento dos juros globais, em especial dos Treasuries, ser negativa para ativos emergentes, as três divisas latino-americanas pares do real (peso chileno, mexicano e colombiano) ganharam força em relação ao dólar. O fôlego curto da moeda brasileira hoje foi atribuído a um movimento já esperado de pausa para ajuste de posições e realização de lucros, dada a rodada recente de forte apreciação.
Pela manhã, o IBGE divulgou que o IPCA desacelerou de 0,61% em abril para 0,23% em maio, ligeiramente abaixo do piso das estimativas de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, de 0,24%. A mediana era positiva em 0,33%. O índice de difusão, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 66% em abril para 56% em maio - o menor desde agosto de 2022. Houve também desaceleração de núcleos e de preços de serviços, em geral mais resistentes aos efeitos do aperto da política monetária.
Foi a senha para que diversas casas revisassem as estimativas de inflação para 2023 e 2024. Parte dos economistas também mudou a projeção de início do ciclo de corte da Selic de setembro para agosto. As taxas de juros futuros no mercado doméstico mostram chances de cerca de 80% de redução em 0,25 ponto porcentual da Selic em agosto.
Para o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, a combinação de corte de juros no Brasil ao longo do segundo semestre com perspectiva de manutenção de FedFunds acima de 5,00% até o fim do ano não tende a abalar o real e seus pares.
"Não vejo o real sofrendo muito nesse processo de corte a Selic. O diferencial de juros ainda vai continuar bem elevado, mesmo que o Fed não corte as taxas neste ano", afirma Jolig, ressaltando que a taxa Selic teria que descer até 8% para tirar atratividade do real, o que não é considerado nem pelas previsões mais otimistas. "O saldo comercial continua forte e a volatilidade da taxa de câmbio tem caído, o que estimula o 'carry trade'. Bancos estrangeiros têm notado aumento de posições especulativas a favor do real via derivativos no exterior", diz o gestor, acrescentando que há espaço para "os gringos aumentarem sua posição" em renda fixa e variável no Brasil.
À tarde, o BC informou que o fluxo cambial foi positivo em US$ 2,389 bilhões na semana passada (de 29 de maio a 2 de junho), com entrada líquida de US$ 2,739 bilhões via comércio exterior e de US$ 350 milhões pelo canal financeiro. Dados prévios mostram que em maio o fluxo total foi negativo em US$ 1,505 bilhão.
Juros
Os juros futuros de curto prazo fecharam em leve queda, as taxas intermediárias ficaram estáveis e as longas subiram. O impacto do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio abaixo do esperado foi absorvido no decorrer da segunda etapa, o clima externo começou a pesar mais sobre os negócios, considerando ainda que o forte fechamento da curva nos últimos dias abriu espaço para uma realização de lucros. A correção, no entanto, foi moderada e puxada ainda pelo leilão grande de prefixados do Tesouro.
Numa sessão com giro acima da média padrão nos principais vencimentos, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13,08%, de 13,12% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 11,23% para 11,24%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,64%, ante 10,51%, e a do DI para janeiro de 2029 avançou a 10,93%, de 10,82%.
Principal vetor do dia para os negócios em termos locais, o IPCA de maio teve impacto moderado sobre as taxas, uma vez que o cenário benigno para a inflação já vinha sendo incorporado aos ativos com os recentes IGPs de maio. O IPCA de 0,23% ficou muito aquém da mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 0,33%, e ligeiramente abaixo do piso de 0,24%. Na abertura, destaque para a expressiva desaceleração da média dos núcleos e a deflação em serviços, variáveis que vinham apresentando certa rigidez em ceder, o que servia de alerta para o Banco Central. Em 12 meses, a taxa acumulada caiu de 4,18% para 3,94%. Alguns players já projetam IPCA zero em junho ou até deflação.
O indicador detonou uma onda de revisões para o IPCA em 2023 e 2024, com algumas instituições já com expectativas abaixo de 5% e de 4%, respectivamente. Movimento que já vinha se consolidando na curva a termo, o IPCA também fez convergirem nos Departamentos Econômicos as projeções para o início do ciclo de cortes da Selic em agosto. A probabilidade de uma redução de 25 pontos-base é de 80% nos DIs, que indicam taxa fechando 2023 em 12,00%. Para o Copom de junho, a expectativa segue sendo de estabilidade nos atuais 13,75%.
A economista-chefe do TC, Marianna Costa, afirma que a curva já vinha precificando a partir de agosto duas quedas de 25 pontos e outras duas de 50 pontos nas reuniões até o fim do ano, mas acredita que a tendência é que a aposta de 50 em agosto se torne majoritária, sobretudo se o Conselho Monetário Nacional (CMN), a reunião do fim deste mês confirmar os 3% para as metas de inflação. "Isso tende a fortalecer a credibilidade e abre espaço para uma queda maior", diz.
Ela atribuiu a alta das taxas longas a um ajuste ao ambiente externo, amplificado pelo fato de que os mercados no Brasil não abrem amanhã e na sexta-feira cravada entre o Corpus Christi e o fim de semana a tendência é de que as mesas de operação estejam esvaziadas. "O Federal Reserve terá uma decisão difícil na semana que vem e a expectativa para a reunião não está totalmente formada porque ainda temos o CPI na segunda-feira", comentou.
As decisões inesperadas de aumento de juros pela Austrália ontem e pelo Canadá hoje ampliaram a cautela com relação ao Fed na próxima semana e a curvas globais subiram. A taxa da T-Note de dez anos abriu 10 pontos-base, para 3,78%. A aposta de manutenção da taxa dos fed funds ainda é majoritária, mas a de alta cresceu.
Outra pressão sobre a ponta longa veio do leilão do Tesouro, que vendeu integralmente os lotes de 25 milhões de LTN e de 3,5 milhões de NTN-F, com US$ 1,15 milhão em risco para o mercado (DV01), ante US$ 896 mil na semana passada. O tamanho do leilão acaba influenciado a curva do DI em função da montagem das operações de hedge contra o risco prefixado.
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