ECONOMIA

Ibovespa perde 2,19% na semana com piora do quadro externo

Dólar terminou o pregão em baixa de 0,02%, a R$ 4,9828
Por Estadão Conteúdo 09/09/2023 - 04:00
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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

O Ibovespa emendou a quarta queda consecutiva nesta sexta-feira, 8, em um movimento de ajuste à aversão global ao risco deflagrada na quinta-feira, 7, quando a B3 ficou fechada devido ao feriado da Independência. Com a fraqueza da economia da China e a perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos no radar, o índice fechou em queda de 0,58%, aos 115.313,40 pontos - menor nível desde 21 de agosto (114.429,35 pontos).

A referência da B3 passou toda a sessão em baixa, entre a máxima, de 115.979,43 pontos (-0,01%) - alcançada ainda na abertura, às 10h01 -, e a mínima, de 114.838,85 pontos (-0,99%). Devido ao feriado da véspera, a liquidez foi limitada, com giro financeiro de R$ 16,4 bilhões, menor do que nas últimas sextas-feiras. Segundo analistas, esse fator também contribuiu para a queda do índice, que, na semana, perdeu 2,19%.

Temores em relação à economia da China puxaram o recuo do Ibovespa nesta sessão, após a forte queda interanual das exportações e importações do país asiático divulgada na véspera - de 8,8% e 7,3%, respectivamente. Como reflexo, o índice de materiais básicos (IMAT) cedeu 1,37%, com a maior queda setorial Vale ON (-1,90%) teve a maior pressão de baixa sobre o índice, em meio à desvalorização do minério de ferro (-2,07% em Dalian)

"A China está em um processo de desaceleração e, apesar das medidas econômicas, há muito ceticismo em relação à economia chinesa", diz a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. "Isso acaba impactando negativamente a Vale, que também acompanhou o minério de ferro."

Petrobras ON (-0,78%) e PN (-0,36%) também foram destaques negativos da sessão, contrariando os ganhos do petróleo Brent (0,81%) e WTI (0,73%) e de pares como Prio ON (1,50%). Segundo Abdelmalack, a baixa nos papéis da empresa reflete a incerteza sobre a dinâmica dos preços domésticos de combustíveis, após a empresa ter alterado no início do ano a sua política de preços.

O operador de renda variável da Manchester Investimentos Gabriel Mota afirma que a sessão desta sexta-feira foi marcada por uma correção defasada da Bolsa à aversão global ao risco observada na véspera. O profissional destaca que, além dos dados sobre a China, números de emprego dos Estados Unidos divulgados na quinta-feira mostraram um mercado de trabalho ainda forte, que pode sugerir manutenção dos juros altos no país.

Dólar


O último pregão da semana foi de estabilidade para o dólar na comparação com o real, com a moeda oscilando entre perdas e ganhos ao longo do dia, mas terminando a sessão praticamente inalterada, dada a falta de notícias e indicadores capazes de sanar as dúvidas do mercado quanto à trajetória dos juros americanos e o cenário fiscal brasileiro.

"Numa semana meio vazia de dados econômicos, o mercado fica nessa indecisão", disse Leandro Petrokas, diretor de Research e sócio da Quantzed.

No mercado à vista, o dólar terminou o pregão em baixa de 0,02%, a R$ 4,9828, enquanto no mercado futuro o contrato do dólar para outubro tinha alta de 0,08%, a R$ 5,0012. No acumulado da semana, a moeda americana acumulou ganho em relação ao real - de 0,86% no mercado à vista e de 0,68% no futuro (parcial).

Durante boa parte da sessão o movimento do dólar ante o real destoou do comportamento da moeda em relação a divisas emergentes ou ligadas a commodities. Lá fora, a moeda passou quase toda a sexta-feira em baixa, num movimento atribuído à realização de lucros após os fortes ganhos acumulados nas últimas semanas. No entanto, conforme o fim da sessão se aproximava, o dólar ganhou força no exterior e devolveu as perdas, acompanhando a reversão do movimento dos juros dos Treasuries, que caíam no início do dia e depois passaram a subir

Essa inversão está relacionada às dúvidas dos investidores em relação a qual devem ser as próximas decisões do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, com o clima de incerteza ganhando mais espaço na mente dos investidores antes da divulgação de números sobre a inflação do país, na quarta-feira (13) e diante do aumento nos preços do petróleo ao maior nível em 10 meses.

O real, porém, se destacou no mercado de câmbio hoje por ter mantido uma margem de oscilação mais estreita que a de seus pares em relação ao dólar - não se distanciou da estabilidade durante o pregão inteiro. Contribuíram para isso tanto a proximidade do feriado, que baixou o volume de negócios, quanto a cautela do mercado em escolher uma direção, dado o pano de fundo doméstico.

No Brasil, a incerteza em torno do ajuste nas contas públicas - que ganhou um novo elemento diante das notícias de que o governo avalia uma proposta de reforma administrativa para cortar gastos - limita o apetite por risco e as perdas do dólar.

Até então, o plano de ajuste fiscal era baseado essencialmente em medidas que aumentavam a arrecadação, mas consideradas custosas para o governo em termos de capital político e incapazes de conduzir ao prometido déficit primário zero em 2024

"O fiscal acabou pesando um pouco. Minha leitura é de que realmente faltam planos concretos do Executivo em relação ao fiscal um pouco mais robusto. Tudo parece estar ainda no campo das ideias", disse Petrokas.

Por outro lado, o receio de que a inflação possa ganhar força com a alta nos preços do petróleo - e por tabela nos preços dos combustíveis, a depender do repasse feito pela Petrobras - evita que o dólar ganhe muito mais força, já que a aceleração na alta dos preços poderia deixar a queda dos juros mais vagarosa por aqui.

Juros


Os juros futuros percorreram a sessão em baixa moderada, refletindo ajustes técnicos após a volta do feriado do Dia da Independência, uma vez que a agenda e o noticiário estiveram hoje esvaziados. Players se desfizeram de parte das posições de proteção montadas antes da pausa desta quinta, 7, dada a possibilidade de eventos negativos no exterior enquanto o mercado por aqui estivesse fechado, o que trouxe alívio aos prêmios de risco. Mas o movimento foi muito suave quando se considera o balanço da semana, marcada por forte ganho de inclinação da curva atribuído à piora da percepção de risco fiscal e externo nos últimos dias.

A liquidez foi baixa na sessão. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,54%, de 10,59% na quarta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 caiu de 10,28% para 10,21%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 10,45% (10,50% na quarta-feira) e a do DI para janeiro de 2029, 10,96%, de 11,00%. O DI para janeiro de 2031 encerrou com taxa de 11,24%, ante 11,28%.

O recuo das taxas hoje foi discreto e pouco maior nos contratos até o miolo da curva. A ponta longa apresentou queda marginal nos vencimentos mais líquidos, em novo dia de avanço da T-Note de dez anos e real mais pressionado que os pares e, ainda, mantidas as preocupações com o cenário fiscal.

O estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal explica que os feriados nos EUA e no Brasil nesta semana reforçaram as posições de hedge montadas já numa curva pressionada pelos riscos externo e fiscal. "Então, essa melhora hoje vem do fato de que o mercado vinha se protegendo. Mas lá fora o cenário segue muito ruim e aqui acabou da lua de mel do mercado com o governo e do Executivo com o Legislativo", disse, argumentando que a reforma ministerial desagradou quem saiu e não agradou quem entrou.

Lá fora, o risco de recessão nos Estados Unidos em função da rigidez do Federal Reserve com relação ao combate à inflação e dúvidas sobre a economia da China somam-se agora ao avanço dos preços do petróleo, que vão se firmando acima de US$ 90 no caso do Brent, que é referência para a Petrobras. O barril para novembro fechou hoje a US$ 90,65, maior cotação desde novembro.

O desempenho da commodity acende luz amarela para os preços internos dos combustíveis e, consequentemente para a inflação. Ainda nos combustíveis, as distribuidoras preparam aumentos do preço do gás de cozinha este mês em função do dissídio dos trabalhadores. Por fim, entrou no radar um possível efeito dos estragos causados pela passagem do ciclone no Rio Grande do Sul sobre preços de alimentos.

O cenário inflacionário de curto prazo mais negativo praticamente fecha as portas para uma ampliação do ritmo de cortes da Selic para 75 pontos-base nas próximas reuniões do Copom, mas, por outro lado, não deve ser o suficiente para reduzir a dose para 25 pontos. "O petróleo e o câmbio acabam atrapalhando, mas dá para ir com 50 pontos com tranquilidade", diz o estrategista da BGC.

Na Warren Rena, Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe, chama a atenção para o fato de que a inclinação dos DIs janeiro de 2025 e janeiro de 2029 chegou a 40 pontos mesmo com o mercado passando a atribuir baixa probabilidade de intensificação do ritmo de ajuste da Selic e a incorporar taxa terminal de 9,5%. "Avaliamos que, ao longo dos próximos meses, a inclinação da curva de juros doméstica continuará bastante dependente do comportamento dos yields globais e da percepção do mercado sobre os riscos fiscais domésticos e a condução da política monetária", avalia, em relatório distribuído a clientes.

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