ELEIÇÕES 2022

Clãs tradicionais da política do Nordeste tentam manter poder

Alagoas terá disputa acirrada entre Renan Filho e Collor, que tem apoio de Bolsonaro e Arthur Lira
Por André Shalders/Agência Estado 21/04/2022 - 08:12
Atualização: 21/04/2022 - 08:18
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Instagram/Renan Filho
Renan Calheiros e Renan Filho: disputa pode endurecer com apoio de Bolsonaro e Lira ao adversário
Renan Calheiros e Renan Filho: disputa pode endurecer com apoio de Bolsonaro e Lira ao adversário

Em outubro deste ano, três famílias tradicionais da política nordestina terão de adotar novas estratégias para manter um poder que possuem há décadas. No Maranhão, Roseana Sarney (MDB) tentará voltar a Brasília como puxadora de votos de seu partido na disputa pela Câmara dos Deputados; em Alagoas, Renan Filho (MDB) disputará o Senado contra Fernando Collor (PROS). A situação mais tranquila é a do prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (União Brasil), que disputará o governo baiano com recursos milionários de seu partido e sem um oponente de peso no PT, que hoje ocupa o Palácio de Ondina.

Filha do ex-presidente José Sarney, Roseana foi governadora do Maranhão por quatro mandatos (1995 a 2002 e 2009 a 2014) - mas deve concorrer a uma vaga na Câmara. A dificuldade na disputa pelo Senado, que terá o governador Flávio Dino (PSB) e possivelmente o atual senador Roberto Rocha (PSDB), pesou na decisão, disse ela ao Estadão.

"Decidi mesmo sair para deputada porque eu gostaria de voltar (a Brasília). Já fui deputada, já fui senadora e governadora, e queria voltar a ter essa experiência de deputada", disse ela, que almeja ajudar a eleger outros deputados do MDB.No momento, Roseana dedica-se à tarefa, que chamou de "um arrepeio", de fechar a lista de candidatos à Câmara e à Assembleia. Para se manterem competitivos, os partidos precisam lançar o máximo possível de nomes aos cargos proporcionais. No Maranhão, são necessários 19 candidatos à Câmara.

Alagoas

Em Alagoas, o governador Renan Filho (MDB) tentará a vaga no Senado, e a disputa promete ser dura: ele enfrentará o ex-presidente Fernando Collor (PROS), que busca a reeleição com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), e do presidente Jair Bolsonaro. 

Nos últimos anos, Lira levou centenas de milhões de reais para Alagoas por meio do orçamento secreto, conquistando o apoio de prefeitos em todas as regiões do Estado. A dupla Lira e Collor fará o palanque de Bolsonaro em Alagoas, enquanto o clã Calheiros apoiará o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), repetindo a disputa presidencial no âmbito local.

Renan Filho deixou o governo no início do mês e o posto ficou vago, já que, em 2020, seu vice, Luciano Barbosa (MDB), rompeu com o clã dos Calheiros e se elegeu prefeito de Arapiraca. Por isso, caberá à Assembleia escolher governador e vice para um mandato-tampão entre os deputados estaduais.

Há a possibilidade do Palácio Floriano Peixoto acabar nas mãos do grupo de Lira, que teria, de saída, ao menos 9 dos 27 integrantes da Assembleia, segundo aliados. Mas o MDB terminou bem a janela partidária: tem agora 17 dos 27 deputados.

O senador Renan Calheiros, pai do ex-governador, se diz tranquilo: "Lira é um típico caso daquelas pessoas que têm influência em Brasília e não têm voto popular no Estado".

Bahia

Na Bahia, ACM Neto (União Brasil), ex-prefeito de Salvador e líder nas pesquisas de intenção de votos, tentará o governo do Estado - posto que seu avô, Antônio Carlos Magalhães, exerceu por três vezes nas décadas de 1970 a 1990. No fim de fevereiro, o senador e ex-governador Jaques Wagner (PT), segundo colocado, desistiu da disputa. Em seu lugar, o PT indicou o secretário de Educação do governo de Rui Costa (PT), Jerônimo Rodrigues.

"Existem hoje na Bahia dois polos: um é o do ACM Neto, que está bem avaliado e tem alto recall. Do outro tem o grupo político do PT, com o governo também bem avaliado, e uma força política do Lula gigantesca. Só que essa força do PT não aparece na pesquisa, porque Jerônimo é altamente desconhecido", disse o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.

Para o professor e pesquisador Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a existência de famílias que se perpetuam na política é "um fenômeno histórico e social de longa duração". "A política, no Brasil é, sempre foi e continuará sendo um negócio de família política. A família política, no Brasil, é mais importante do que a grande maioria dos partidos", disse.

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