Conteúdo do impresso Edição 1262

PROVA DE FOGO

Arthur Lira testa Alfredo Gaspar na oposição a JHC

Deputado insiste em permanecer na Câmara, mas pressão e votos têm a palavra final.
Por ODILON RIOS 20/04/2024 - 05:00

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Assessoria
Alfredo Gaspar é a aposta do União Brasil; Lira é a favor, já JHC teme concorrência
Alfredo Gaspar é a aposta do União Brasil; Lira é a favor, já JHC teme concorrência

À medida que o senador Rodrigo Cunha (Podemos) se movimenta para ser indicado como vice na chapa do prefeito de Maceió JHC (PL), o entorno deste grupo lida com uma crise que empurra o deputado federal Alfredo Gaspar de Mendonça (União Brasil) para disputar a Prefeitura e na oposição a Jota. Uns dizem que esta crise é fabricada pelo presidente da Câmara Arthur Lira (PP) para ele próprio indicar - segundo o acordo inicial - o vice de JHC; outros dizem que não, a insatisfação de Gaspar com a gestão municipal é óbvia e ele não aguenta mais engolir sapos, a seco.

“Alfredo está insatisfeito sim, mas ele não vai romper com o Jota”, disse um aliado. “É blefe, Alfredo quer indicar o vice e está sendo incentivado pelo Arthur para sair candidato a prefeito para negociar. Daí o Jota abre mão do Rodrigo como vice e escolhe o nome indicado por Arthur”, explica um palaciano.

“Nunca expressei essa vontade para ninguém, estou focado em cumprir meu mandato de deputado federal”, disse o parlamentar, ao negar que vai disputar a Prefeitura. Nos bastidores, porém, há movimentos que indicam rebelião.

Alfredo Gaspar e Arthur Lira dividiam a indicação do médico Luiz Romero Farias na Secretaria Municipal de Saúde. Farias e Gaspar romperam. O deputado entregou cargos e indicações na saúde. Houve reação de JHC: na montagem da chapa do União Brasil, a Prefeitura avisou que quem se filiasse ao partido seria exonerado. E no União Brasil havia uma liderança comunitária do Jacintinho, ligada a Gaspar, sempre candidato e conhecido como poca-urnas (porque é escada para outros nomes que são prioridade na legenda). Essa liderança perdeu todos os cargos no município, prejudicando o xadrez do União Brasil para eleger alguém no legislativo.

Gaspar reagiu: entregou a Secretaria de Habitação, antes comandada pelo filho, Carlos Mendonça Neto, que deixou a função para disputar uma vaga na Câmara Municipal da capital. Mas o acordo dizia que a Habitação permanecia com o deputado federal. Há mais pontes ligando Alfredo Gaspar e JHC do que a vã e confusa engenharia na política-partidária consegue projetar. Ambos disputaram as eleições em 2020 em lados diferentes. Gaspar era da oposição a Jota.

Dois anos depois, o ex-procurador Geral de Justiça venceu as eleições a deputado federal. Já havia rompido com os Calheiros. Foi construindo aproximação com o prefeito JHC. Para o chefe do Executivo, era mais vantajoso ter Gaspar por perto, levando em conta seu potencial nas urnas: entregou-lhe a Habitação e dividiu os cargos na Saúde. A Habitação foi ocupada pelo filho de Alfredo, que, na prática, nem tinha orçamento para executar coisa alguma. Tomou posse da função quase um ano depois de nomeado e sua atuação foi inexpressiva.

Enquanto isso, as discussões sobre o vice de Jota continuavam a todo vapor. Um ponto importante porque o prefeito, sendo reeleito, vai renunciar daqui a dois anos para disputar o Governo. Nos últimos dias, o senador Rodrigo Cunha ganhou força para a vaga. Há relação de confiança, mas também pragmática: ganhando a votação, Cunha deixa o Senado e entrega o posto para Eudócia Caldas, mãe de JHC, que fica os quatro anos restantes em Brasília “esquentando o lugar” para alguém.

E quem seria? Arthur Lira, por óbvio, mas também o filho JHC, que teria de desistir do Governo e encarar uma das vagas ao Senado. Na prática, Arthur Lira não teria o grupo nas mãos, mas estaria nas mãos do grupo, sinal de que já é tratado como ex-todo-poderoso em Brasília e voltando ao posto de mais um deputado federal a partir de fevereiro de 2025. Por isso, Rodrigo Cunha transferiu o título eleitoral de Arapiraca para Maceió. E concorre com Luiz Romero Farias e o ex-deputado Davi Davino Filho, ambos ligados a Arthur Lira.

Há ainda uma possibilidade: o filho de Gaspar desistir de concorrer ao legislativo mirim e ser o escolhido. Só que, no União Brasil em Alagoas, manda Lira. Ele é quem vai decidir os movimentos da legenda e, a princípio, fica onde está: a maior liderança sendo Alfredo Gaspar que, na prática, não manda por depender das ordens do presidente da Câmara no partido para decidir seus rumos. Sendo ou não candidato a prefeito, Alfredo Gaspar joga alto demais em nome do sonho dos outros. Sim, ele diz que quer permanecer na Câmara dos Deputados. Mas, a pressão pode ser maior e, por sobrevivência, o grupo escolher ajustá-lo na oposição ao prefeito. O resto é fácil: há tempos o eleitor perdeu a crença nas representações políticas. Um lado finge convencer o público. E o público finge acreditar.


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