Conteúdo do impresso Edição 1270

ESCÂNDALO

Empresário revela pagamento de propina no processo de falência do Grupo João Lyra

Áudios sob investigação do MP foram tornados públicos esta semana
Por JOSÉ FERNANDO MARTINS 15/06/2024 - 06:00

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REPRODUÇÃO
Terras da Usina Guaxuma, uma das mais valiosas do falido conglomerado, foram invadidas
Terras da Usina Guaxuma, uma das mais valiosas do falido conglomerado, foram invadidas

Áudios divulgados nas redes sociais esta semana ganharam repercussão nacional ao expor reclamações de empresários e políticos sobre supostas cobranças exorbitantes por parte de promotores e desembargadores do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL). As gravações, feitas durante uma reunião na Câmara Municipal de Coruripe (AL) sem o conhecimento de todos os presentes, detalham a partilha de valores oriundos da venda da safra de cana-de-açúcar da Massa Falida da Laginha Agroindustrial, a holding que administrava as empresas do falido Grupo JL.

Nos áudios, José Raimundo de Albuquerque Tavares, empresário e ex-prefeito de Junqueiro, e Joaquim Beltrão, ex-deputado federal e ex-prefeito de Coruripe, discutem o que descrevem como um esquema de corrupção envolvendo a falência bilionária das empresas pertencentes ao usineiro e ex-deputado federal João Lyra, falecido em 2021. “Às vezes, sem querer, o cabra consegue umas coisas, um negócio a favor. Aí sobre isso todo mundo ficou ‘peixe’, ninguém foi atrás do promotor, ninguém foi atrás de nada, ficou ali. Eles têm o poder da caneta. Se eles quiserem moer essa cana todinha, aí eles moem. Só que tem um problema: fica com medo de a gente tocar fogo em tudo, nem a gente nem eles”, diz Joaquim Beltrão em um dos trechos.

Raimundo Tavares comenta sobre os custos envolvidos no processo: “É como o Joaquim e o Alfredo disseram aí, agora há pouco, que é caro demais, agora é porque também é muita gente comendo”. Beltrão responde: “É… não é porque… é gente comendo, também, os caras querem muito”. Tavares finaliza: “É caro por isso. Muita gente comendo demais. É o promotor, é o administrador, é o povo de São Paulo, aí é Sandro, aí é desembargador, é filho de desembargador. Quando soma, é um valor da p*rra. É por isso que fica caro”. Os nomes dos desembargadores e promotores envolvidos não foram citados.

Embora somente agora os áudios tenham vindo a público, a Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de Alagoas nomeou, em dezembro, dois promotores para investigar o conteúdo das gravações, que datam de 21 de outubro de 2022. Os áudios foram adicionados ao processo de falência da Laginha, que tramita desde 2014 na Vara de Coruripe. A cada ano, a administração judicial da Massa Falida vende a cana produzida nas terras das usinas para arrecadar fundos e amortizar as dívidas, já que as unidades industriais do grupo estão inoperantes devido à falta de manutenção.

Um dos pontos centrais da crise é a ocupação ilegal das terras da Usina Guaxuma, desativada após a falência do grupo. Joaquim Beltrão e um grupo de empresários do Litoral Sul de Alagoas são acusados de invadir essas terras, pertencentes à Massa Falida. Em setembro de 2022, a administração da massa falida lançou um edital para vender a cana produzida na Usina Guaxuma. A venda previa 229 mil toneladas de cana cultivadas em 2,9 mil hectares, com estimativa de receita de R$ 34,7 milhões, com o repasse para a Massa Falida de R$ 12,5 milhões, descontados os custos de “corte-carregamento-transporte (CCT)”.

A única empresa a aceitar a proposta foi a Impacto Bioenergia, que seria responsável pelo plantio e colheita da cana. No entanto, as terras estavam ocupadas por invasores. Em um acordo informal, a Impacto concordou em comprar a cana dos invasores, pagando duas vezes pelo produto – tanto à Massa Falida quanto aos invasores.


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