Conteúdo do impresso Edição 1273

PL DO ABORTO

Lira tenta limpar imagem entre mulheres após polêmica

Presidente da Câmara aproveita encontro internacional em Maceió para se redimir
Por BRUNO FERNANDES 06/07/2024 - 05:00

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Marina Ramos/Câmara dos Deputados
Arthur Lira concede entrevista após abrir encontro de mulheres do P20
Arthur Lira concede entrevista após abrir encontro de mulheres do P20

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, discursou em Maceió durante a 1ª Reunião de Mulheres Parlamentares do P20, onde defendeu os direitos das mulheres, afirmando que "promover os direitos femininos é um passo civilizacional que precisa ser dado". No entanto, suas declarações pareceram contraditórias em relação às suas ações recentes, especialmente quando ele pautou a urgência do Projeto de Lei 1904/24, que criminaliza o aborto após 22 semanas de gestação, mesmo em casos de estupro.

O evento em Maceió, que reuniu parlamentares de 20 países, passou a ser visto nas redes sociais como uma tentativa de Lira de reparar sua imagem pública, que foi danificada pelos protestos e críticas ao PL 1904/24. A estratégia de Lira agora parece focar em reconquistar a confiança do eleitorado feminino.

Durante o evento, representantes do Movimento de Mulheres Olga Benário tentaram pendurar uma faixa com a mensagem "Abaixo o PL do Estupro. Fora Lira! Criança não é mãe, estuprador não é pai", mas foram impedidas por um agente da Polícia Federal e, em seguida, removidas do local por policiais militares.

A urgência em recuperar a imagem de Lira se deve à proximidade das convenções partidárias, nas quais partidos e federações escolherão seus candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador, a serem realizadas até 5 de agosto. Lira é a principal referência para vereadores e prefeitos, especialmente no interior de Alagoas, na busca por votos. Qualquer dano à imagem do deputado pode impactá-los negativamente.

A urgência do PL 1904/24 foi aprovada pela Câmara dos Deputados, tratando o aborto após 22 semanas como homicídio. Esse movimento foi visto como uma tentativa de Lira de agradar à bancada conservadora do Congresso, visando garantir apoio político para seu sucessor na presidência. A proposta, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), também aumenta de 10 para 20 anos a pena máxima para quem realizar o procedimento. Segundo Lira, o tema será debatido com mais "clareza" no segundo semestre.

Desde então, movimentos sociais de defesa dos direitos das mulheres têm se reunido em frente ao Anexo 2 da Câmara dos Deputados, exigindo o arquivamento definitivo do PL 1904/24. As manifestações têm sido organizadas pela Frente Nacional Contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto, em resposta à aprovação da urgência do projeto.

Na tentativa de limpar sua imagem, Lira afirmou que a proposta do chamado PL do Aborto foi "mal conduzida" e tratada de forma "equivocada". "Não teria a Câmara votado [a urgência] de forma simbólica e unânime se fosse para tratar de aborto. Isso foi uma pauta mal conduzida com relação às versões que saem, principalmente as versões publicadas", disse.

Acusação de Estupro pela Ex-Esposa

Uma das controvérsias levantadas pelos movimentos que lutam pelo arquivamento do projeto é a acusação contra Arthur Lira feita por sua ex-mulher, Jullyene Lins, com quem foi casado por dez anos. Ela alegou que, seis meses após a separação, em 5 de novembro de 2006, foi agredida e estuprada pelo político após ele descobrir que ela estava se encontrando com outro homem.

"Agredida, violentada, ameaçada, censurada, coagida, além de sofrer crises corriqueiras de pânico, e se tudo isso não bastasse, ainda sou perseguida pela sua Gestapo institucional que não compartilha provas, não investiga, não julga processos, apenas engaveta tudo que possa expor esse chantagista", publicou Jullyene em suas redes sociais, mesmo após decisão proferida que absolveu o deputado.

Lira foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) depois que Jullyene alterou seu depoimento, alegando ter sido ameaçada por ele de perder a guarda dos filhos se não retirasse a queixa. No ano passado, Jullyene revelou à Agência Pública que a violência também incluiu abuso sexual. Em seu depoimento, ela detalhou o abuso, descrevendo o episódio em que Lira a teria agredido fisicamente e sexualmente.


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