CASO KLEBER MALAQUIAS
Assassinos vão a júri popular dia 17 em crime ainda com mandante desconhecido
Empresário foi executado a tiros em Rio Largo há quatro anos
Na próxima quarta-feira, dia 17, terá início o júri popular de três dos seis acusados pelo assassinato do ativista político e empresário Kleber Malaquias, um dos crimes de mando mais misteriosos de Alagoas. O assassinato, ocorrido a 15 de julho de 2020, no dia do aniversário de 41 anos de Kleber, chocou pela sua brutalidade e pelo fato de ter sido perpetrado à luz do dia, dentro do banheiro do Bar da Buchada, em Rio Largo. O julgamento será realizado na 8ª Vara Criminal da Capital, no Fórum de Maceió, após um pedido de desaforamento que transferiu o caso do Fórum de Rio Largo.
Fredson José dos Santos (ex-militar), Edinaldo Estevão de Lima (o Galeguinho do Som) e José Mário de Lima Silva (sargento da Polícia Militar) estão presos desde as primeiras investigações do crime pela Polícia Civil e agora enfrentarão as acusações em tribunal. Segundo a denúncia, Fredson foi o autor dos disparos que mataram Kleber, enquanto Edinaldo e José Mário foram responsáveis pelo planejamento do crime. Até hoje o mandante do assassinato não foi identificado.
Outros três acusados, Marcelo José Souza da Silva, Jefferson Roberto Serafim da Rocha e Marcos Maurício Francisco dos Santos serão julgados no final de novembro, na comarca de Rio Largo. Todos os acusados respondem por homicídio qualificado.
Evany Maria Malaquias de Oliveira, mãe de Kleber, em desabafo ao EXTRA, expressou sua esperança de que a justiça seja feita: “Eu espero justiça, que a justiça seja feita, que não só os executores que planejaram a morte do meu filho, mas também os mandantes sejam descobertos e punidos conforme a lei. É uma dor horrível, a dor de uma mãe, de uma família destruída. Pela perda tão cruel e covarde do meu filho, eu peço justiça, imploro aos homens e mulheres, juízes, promotores, defensores, direitos humanos, a todos que fazem parte da justiça, que me ajudem a evitar a impunidade de um crime tão cruel e covarde cometido contra o meu filho.”
Evany relembra o comprometimento do filho com a verdade e a justiça: “Meu filho sempre falou a verdade. Ele defendia a verdade, colaborava com a imprensa e a justiça. Ele lutava pela verdade, pela justiça e pelo bem de todos. Não gostava de corrupção, de corruptos, de pessoas erradas. Ele era contra tudo isso e pagou com a própria vida, implorando por justiça para este estado e para este povo sofrido. E hoje sou eu que vivo sofrendo, implorando e pedindo, sempre confiante em Deus, por justiça para ele.
Mãe teme mandantes do crime
A mãe de Kleber também faz um apelo à comunidade de Rio Largo: “Cadê aqueles que se diziam amigos? Cadê vocês de Rio Largo, que se diziam amigos e estavam com meu filho? Me ajudem, minha gente, eu preciso de justiça. Eu imploro. Estou aqui na expectativa, estou fora do estado, distante, doente, sofrida, já perdi meu marido. Vivo sobrevivendo a cada segundo, com medo desses infelizes, mandantes e assassinos. Mas eles estão se esquecendo de uma coisa: Deus é bem maior. Deus sabe de tudo, e com toda certeza a justiça será feita.”
De acordo com as investigações, Kleber Malaquias foi levado ao local por “amigos” que aguardavam a chegada do atirador. O empresário, conhecido por suas denúncias contra prefeitos, parlamentares e magistrados, foi alvejado dentro do banheiro do estabelecimento no dia de seu aniversário de 41 anos.
As investigações apontam que Kleber foi atraído ao bar sob o pretexto de uma comemoração, mas na realidade, seus algozes o esperavam para cumprir a execução planejada. O crime teve grande repercussão não só pela sua violência, mas também pelo fato de que a vítima era um conhecido ativista contra a corrupção, atuando de maneira incisiva na cidade de Rio Largo.
Quem mandou matar ?
Alagoas parece colecionar casos semelhantes ao de Kleber Malaquias quando se trata de crimes de mando, onde os mandantes nunca são identificados. Entre os exemplos mais notórios está o assassinato do empresário Rodrigo Alapenha Cardoso Silvestre, de 35 anos. Rodrigo foi morto a tiros no início da tarde de 11 de agosto de 2017, por volta das 13h, em Delmiro Gouveia.
O empresário estava em sua caminhonete quando foi alvejado por cerca de trinta disparos, supostamente efetuados por ocupantes de um carro de passeio. Testemunhas relataram que Rodrigo tentou fugir, mas foi atingido e colidiu seu veículo contra uma árvore, a poucos metros de sua residência. Ele foi baleado mais de dez vezes em várias partes do corpo e morreu no local.
Rodrigo Alapenha era casado com a empresária Emilene Ferreira, filha do ex-prefeito de Delmiro Gouveia, Luiz Carlos Costa, conhecido como Lula Cabeleira. Residindo há anos na cidade, Rodrigo era proprietário das empresas Mult Pneus (Delmiro) e RDC Locações e Terraplanagem, atuando em Alagoas e Pernambuco. Até hoje, os autores e mandantes do crime permanecem desconhecidos, assim como a motivação.
Outro caso recente que pode ter motivação política ocorreu em 18 de junho deste ano, em Junqueiro. Adriano Farias, de 32 anos, foi assassinado com quatro tiros enquanto voltava da academia em seu carro vermelho. Dono de um blog de política, Adriano foi alvo de nove disparos. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra a janela do veículo crivada de balas. A autoria do crime ainda não foi identificada, e a Polícia Civil investiga se há motivação política.
E o assassinato mais emblemático dos últimos dez anos em Alagoas é o do vereador de Batalha, Adelmo Rodrigues de Melo, conhecido como Neguinho Boiadeiro (PSD). Ele foi morto a tiros na tarde de 9 de novembro de 2017, logo após sair da Câmara. O segurança do vereador, Joaquim Pirauá, 54 anos, foi ferido e levado a um hospital em Arapiraca, onde sobreviveu. O crime, de grande repercussão, ainda carece de esclarecimentos e identificação do mandante.
A filha de Boiadeiro, Maria Cavalcante de Melo, a Bahia Boiadeiro, nunca escondeu sua desconfiança de que o crime teria sido encomendado pela família do governador Paulo Dantas, levando o caso à Polícia Federal. À época, a ex-primeira dama de Alagoas, Marina Dantas, era a prefeita da cidade.
No dia do crime, o pecuarista José Emílio Dantas, conhecido como Zé Emílio, 48, também foi baleado numa tentativa de assassinato por parte do filho de Neguinho, o Pretinho Boiadeiro, por motivo de vingança após a morte do pai. De lá para cá, um vereador chegou a ser apontado como réu na morte de Neguinho. Trata-se de Sandro Pinto, que no início do ano foi detido em um veículo que apresentava registro de furto ou roubo. A relação entre os Dantas e os Boiadeiro sempre foi complicada, com um histórico de mortes em ambas famílias.