Conteúdo do impresso Edição 1302

BRIGA NA FEDERAL

Sucessão na Ufal gera disputa no grupo do atual reitor

Eleição é em 2027, mas discussões estão adiantadas
Por ODILON RIOS 08/02/2025 - 06:00
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Ana Luíza Ambrózio
UFAL
UFAL

A eleição para reitor na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) será em 2027, mas as articulações para a sucessão estão bem adiantadas. O atual reitor Josealdo Tonholo ocupa o cargo pela segunda vez consecutiva e não poderá disputar a reeleição. O grupo dele é formado por alguns ex-reitores e fortalece o nome do professor Anderson Moreira, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade.

Moreira formou-se em 2007, terminou o mestrado no ano de 2010 e o doutorado em 2016. Atualmente é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia e seus estudos estão concentrados na linha de economia da saúde, pobreza e desigualdade de renda e avaliação de políticas públicas. Moreira ainda não é consenso. Uma outra parte do grupo quer a atual vice-reitora, Eliane Aparecida Holanda Cavalcanti, bacharela em Ciências Biológicas, mestra em Biologia Animal e doutora em Oceanografia. Ela foi diretora geral e administrativa do campus Arapiraca entre os anos de 2010 e 2019.

Teoricamente ela seria lançada como oposição a Tonholo, mas existe um entendimento de que o nome dela e de Anderson, lançados ao mesmo tempo na disputa, fortalece o grupo. Isso porque a eleição na Ufal não é direta. A comunidade acadêmica (professores, alunos e técnicos) vai às urnas, forma uma lista com os três candidatos mais votados e a lista é enviada ao presidente da República, que decide por um deles. Havia uma tradição: o mais votado na lista era o escolhido pelo chefe do Executivo, mas Jair Bolsonaro quebrou essa regra.

No caso da Ufal, até hoje, o mais votado foi o escolhido. E levando em conta a discussão para apresentar dois nomes do grupo que apoia a administração de Josealdo Tonholo, o terceiro deve vir do grupo da ex-reitora Valéria Correia. O mais forte, por enquanto, é o professor João Araújo, graduado em 2007 no curso de Nutrição, com especialização (2007), mestrado (2010) e doutorado (2014).

O maior temor do grupo é que a professora Eliane “cresça demais”. A vice-reitora presidiu esta semana uma reunião do Conselho Superior da universidade, para discutir a insegurança no campus da Ufal em Maceió, além da presença do tráfico de drogas. As maiores reclamações são do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte (ICHCA), que há anos cobra mais investimentos em infraestrutura e atenção da reitoria. O ICHCA tem onze cursos, quatro programas de pós-graduação, uma especialização, além de projetos de extensão. Cinco cursos anunciaram na semana passada a suspensão das aulas, admitindo o clima de insegurança.

A vice-reitora é testada para lidar com a maior crise da universidade neste início de ano. Criada em 1961 pelo presidente da República Juscelino Kubitschek, a Ufal é a maior instituição de ensino superior pública de Alagoas. Ano passado seu orçamento foi de R$ 992 milhões.

Um dos agravantes nos últimos anos: a Ufal enfrenta duras medidas do governo federal que contingencia recursos no ensino superior, levando a ameaças de atraso no pagamento de bolsas de pesquisas, por exemplo. Com 104 cursos de graduação, 95% deles presenciais e um campus em Maceió com bastante espaço para ampliação, a maior universidade pública de Alagoas está no 3º estado mais pobre do país, onde ¼ da população está inserida no Bolsa Família.

Há 25 anos atrás, a Ufal ocupava apenas o amplo terreno na parte alta de Maceió, a alguns poucos quilômetros do Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares. Naquela época, grande parte dos alunos era de classe alta ou, no máximo, classe média baixa. Hoje os campi estão espalhados em Arapiraca, Viçosa, Penedo, Palmeira dos Índios e Sertão.

Na pandemia, 11.800 alunos estão em situação de vulnerabilidade. Ou seja: não tinham condição nem de pagar um plano de internet para acompanhar as aulas à distância. Um pedaço do retrato social. E a maior parte dos alunos têm problemas de baixa visão – são 782. 264 têm alguma deficiência física e 155 têm “altas habilidades e superdotação”. Segundo os números da universidade, 142 alunos têm cegueira e 264 apresentam deficiência física (parte deles usa cadeira de rodas).


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