CASO JONAS

Servente de pedreiro foi sequestrado, torturado e morto por militares, confirma inquérito

Ministério Público de Alagoas pediu prisão preventiva dos cinco policiais envolvidos na ação
Por Ministério Público Estadual 29/03/2021 - 14:44
Atualização: 29/03/2021 - 15:18

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Cortesia ao EXTRA
Jonas Seixas, desaparecido desde outubro após ser abordado por PMs
Jonas Seixas, desaparecido desde outubro após ser abordado por PMs

O Ministério Público de Alagoas (MPAL) pediu prisão preventiva nesta segunda-feira, 29, dos cinco policiais suspeitos de sumirem com o servente de pedreiro Jonas Seixas no dia 9 de outubro de 2020.

Segundo o órgão ministerial, de posse da conclusão do inquérito policial, é possível afirmar que o caso se trata de sequestro, tortura, homicídio qualificado e ocultação de cadáver.

Nos autos, os promotores de Justiça, Dênis Guimarães e Rodrigo Soares e, das 47ª e 9ª Promotorias de Justiça da Capital, respectivamente, ressaltam que é nítida a contradição existente nas versões dos denunciados em suas oitivas, inclusive, tentaram plantar um álibi, orientado uma testemunha, amiga de um deles.

“Os denunciados realizaram o sequestro da vítima e a submeteram a sessão de tortura, e, após ceifarem a vida da vítima, ocultaram o cadáver, o qual jamais veio a ser encontrado, aumentando o sofrimento da família da vítima”, afirmam os promotores de Justiça. E continuam: “Assim, faz-se necessária a decretação da segregação cautelar a bem da garantia da ordem pública”.

Os membros do Ministério Público asseveram, baseados nas investigações da Delegacia de Homicidios, que os policiais militares das equipes da Força Tática do BPE, Fabiano Pituba Pereira, Filipe Nunes da Silva, Jadson Chaves da Costa, João Victor Caminha Martins de Almeida e Tiago de Asevedo Lima usaram de violência, ameaçaram, torturaram a vitima e, para garantir que não seriam denunciados, acabaram a executando e escondendo o respectivo cadáver.

Após a repercussão do caso, indagados pelo oficial de operações da referida unidade militar, os policiais teriam garantido a liberação da vítima, nas proximidades da loja Leroy Merlin, na Avenida Beira-Mar.

No entanto, no curso das investigações, apresentaram versão diferente da que teriam dito ao seu superior, dizendo agora que teriam liberado a vítima ao lado do viaduto de Jacarecica, entre o meio do viaduto e a rotatória, entre 15h56 e 15h57, que é o horário em que o GPS indica o trânsito dos investigados nas imediações do referido viaduto.

Comprovou-se, através de sigilo telefônico e de dados, reforçam os promotores de Justiça, que às 16h52, ou seja, quase uma hora depois da suposta liberação alegada pelos denunciados. Jonas ainda estava em poder dos militares que o levaram.

“Isto porque foram obtidos áudios de whatsapp enviados por um denunciado à sua noiva, no momento em que, inclusive, os denunciados se encontravam na aludida região da mata por trás do Motel Ceqsabe, em que é possível ouvir, ao fundo, a voz de Jonas, no momento em que era submetido a uma sessão de tortura, quase uma hora depois do momento em que os denunciados alegaram ter liberado Jonas no viaduto de Jacarecica”.

Fim de justificarem a coincidência de não haver dados de GPS de todos os radiocomunicadores das duas guarnições pelo período de mais de uma hora, durante o tempo em que permaneceram na aludida região de mata por trás do motel, os denunciados alegaram uma suposta perda de sinal por ausência de cobertura.

Ocorre que há provas nos autos, levantada junto à administração de que, por ocasião da contratação da empresa responsável pela operacionalização de tais equipamentos, foi realizado estudo técnico, pré-implantação e realização de testes in loco que atestaram a plena cobertura de área, o que indica que os rádios não ficaram sem comunicação/sinal por ausência de cobertura, mas sim foram deliberadamente desligados pelos denunciados.

Os militares, alegaram que após levarem Jonas Seixas teriam ficado sem sinal pelos radiocomunicadores por uma hora e que precisaram , em seguida, voltar à base para trocar os aparelhos, mas tais alegações foram rebatidas pela Secretaria de Segurança. E os membros do Ministério Público chamam a atenção para os autos.

O caso

De acordo com investigação da Polícia Civil, o servente de pedreiro tinha 32 anos quando desapareceu após uma abordagem policial, no Jacintinho, em Maceió.

Durante os depoimentos, os policiais investigados sustentam a versão de que levaram Jonas para uma averiguação, mas o liberaram com vida no bairro de Jacarecica. O corpo da vítima nunca foi encontrado.

Ao longo dos meses, familiares do servente de pedreiro realizaram protestos cobrando respostas das autoridades públicas. Com cartazes e faixas nas mãos, todos sempre pedem respostas para a pergunta: ''Onde está Jonas"?

Além da Polícia Civil, a corregedoria da Polícia Militar conduz uma investigação administrativa sobre a conduta de 8 PMs que participaram da ação. A identidade dos policiais envolvidos no caso não foi divulgada.

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