BOLSA DE VALORES

Sem NY, Ibovespa inicia semana em baixa de 0,52%

Dólar supera R$ 5,00
Por Estadão Conteúdo 30/05/2023 - 04:20
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Divulgação
Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

O Ibovespa teve um início de semana com variação e giro financeiro restritos pelo feriado em Nova York e também na principal praça financeira europeia, Londres. Assim, sem catalisadores domésticos que elevassem o índice da B3 pelo terceiro dia seguido, ou que resultassem em realização de lucros significativa, a referência oscilou menos de mil pontos entre a mínima (110.195,11) e a máxima (111.168,05) do dia, em que saiu de abertura aos 110.905,81 pontos.

No fechamento, mostrava perda de 0,52%, aos 110.333,40 pontos, com giro fraquíssimo nesta segunda-feira, a R$ 11,9 bilhões. No mês, que termina na quarta-feira, o Ibovespa acumula ganho de 5,65%, que coloca o do ano a 0,55%.

As ações de maior peso e liquidez tiveram inclinação moderada ao longo da sessão, na maioria em baixa, como Petrobras (ON -0,63%, PN -0,41%), e ao final com sinal misto para as de grandes bancos (Itaú PN -0,44%, Bradesco PN +0,12%, Unit do Santander +0,31%). Apesar da recuperação de quase 5% para o preço do minério neste início de semana na China, o setor metálico, que chegou a esboçar reação mais cedo, fechou o dia em baixa, com Vale (ON -0,75%) à frente.

Na ponta do Ibovespa, destaque nesta segunda-feira para CVC (+4,03%), Cogna (+3,26%), Eztec (+2,45%) e Méliuz (+2,30%). No lado oposto, Vibra (-3,91%), BRF (-2,89%), Fleury (-2,31%) e Equatorial (-2,28%).

"Com liquidez muito baixa, o dia foi de ajuste leve, com o mercado tendo a seu favor o alívio, que deve ser maior amanhã com Nova York, proporcionado pelo entendimento sobre a elevação do teto da dívida americana, no fim de semana. Mercado trabalhou hoje aqui perto do zero a zero, com o setor metálico devolvendo a alta vista mais cedo. Dia bem tranquilo, sem grandes movimentações", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

"O acerto sobre o limite do teto nos Estados Unidos, que será votado na quarta-feira, afasta o risco de calote na dívida americana. E o acordo veio com o compromisso do presidente Joe Biden, junto aos republicanos, de não aumentar gastos públicos nos próximos dois anos - algo que foi visto de forma positiva nos índices futuros dos Estados Unidos, e que deve se refletir amanhã na retomada dos negócios em Nova York", diz Alan Dias Pimentel, especialista da Blue3 Investimentos.

Na agenda doméstica neste começo de semana, destaque pela manhã para a divulgação do Boletim Focus, que trouxe nova redução nas projeções de mercado para o IPCA no fechamento de 2023, a 5,71%, em mais um desdobramento que contribui para a redução da pressão sobre os juros no Brasil, observa Vanessa Naissinger, especialista da Rico Investimentos. Ela destaca, na semana, outro ponto da agenda com potencial para orientar os negócios, o PIB brasileiro no primeiro trimestre. A mediana da pesquisa Projeções Broadcast indica alta de 1,2% para o indicador ante o mesmo período de 2022.

Dólar


Após trocas de sinal pela manhã, o dólar à vista se firmou em terreno positivo ao longo da tarde e encerrou a sessão desta segunda-feira, 29, em alta de 0,48%, cotado a R$ 5,0124. Sem a referência de Treasuries e dos índices acionários em Nova York, em razão feriado de Memorial Day nos Estados Unidos, o mercado de câmbio local trabalhou em marcha lenta. As movimentações foram contidas, com oscilação de apenas cerca de quatro centavos entre mínima (R$ 4,9743) e máxima (R$ 5,0155). O contrato futuro para junho, principal termômetro do apetite por negócios, apresentou volume financeiro inferior a US$ 8 bilhões.

"Com o feriado nos EUA, a liquidez foi mínima. O exterior acabou ditando o ritmo, com o dólar aqui acompanhando o comportamento de alta em relação a alguns pares emergentes do real", afirma o analista de câmbio Elson Gusmão, da corretora Ourominas, acrescentando que amanhã à tarde o mercado já deve começar a se movimentar para a rolagem de posições no segmento futuro e a disputa pela formação da última Ptax de maio.

Lá fora, o índice DXY - termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em leve alta ao longo da tarde, na casa dos 102,200 pontos, em razão da fraqueza do euro. Haverá antecipação de eleição geral na Espanha, após derrota do Partido Socialista do primeiro-ministro Pedro Sánchez em pleito regional neste domingo.

O dólar ganhou força na comparação com a maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, incluindo moedas latino-americanas de países de juros altos, à exceção do peso mexicano. A lira turca renovou mínimas históricas, após o presidente Recep Tayyip Erdogan conseguir se reeleger.

No front externo, o destaque foi o acordo firmado entre o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, o republicano Kevin McCarthy, e o presidente Joe Biden para ampliação do teto da dívida americana. A perspectiva é que o projeto de lei seja votado nesta quarta-feira, 31. Afastado o risco de calote e paralisação de serviços públicos, o foco dos investidores se volta para a trajetória de taxa de juros nos EUA. Dados mais recentes de atividade e inflação aumentam as chances de nova elevação da taxa em 0,25 ponto porcentual pelo Federal Reserve em junho e desautorizam apostas mais contundentes em cortes os juros ainda neste ano.

Segundo o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, a perspectiva de alta da taxa básica americana em junho, após acordo em torno do teto da dívida, tende a apoiar o dólar no exterior. "O acordo da dívida nos EUA aliviou e eliminou a antecipação da recessão e o eventual rebaixamento do rating, mas também reforça dólar e alta dos juros pelo Fed", afirma Velho.

Por aqui, Velho afirma que a expectativa de mais ingresso de recursos externos nos próximos dias, em especial para a Bolsa, e exportações líquidas fortes devem sustentar a taxa de câmbio ao redor de R$ 5,00 no curtíssimo prazo.

Investidores vão monitorar nas próximas semanas a tramitação da nova proposta de arcabouço fiscal no Senado, após a aprovação por votação por folga na Câmara. O avanço do novo marco fiscal e a desaceleração surpreendente do IPCA-15 de maio, somadas a declarações em tom mais ameno do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, estimularam na semana passada as apostas em corte da taxa Selic em agosto.

Juros


Os juros futuros começaram a semana com leve alta, numa sessão de liquidez fraquíssima imposta pela ausência de negócios em Wall Street. Os últimos quatro dias de baixa deixaram espaço para uma realização de lucros que, no entanto, foi discreta considerando o tamanho da queima de prêmios na semana passada. Sem os mercados em Nova York e sem destaques internos - a pesquisa Focus trouxe poucas novidades -, a curva hoje ficou a mercê de fatores técnicos e fluxos pontuais.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13,220%, de 13,168% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025, em 11,50%, de 11,43%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,97%, de 10,94% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2029 ficou em 11,29%, de 11,28%.

O sinal positivo das taxas se instalou logo pela manhã, alinhado ao movimento de correção que se via nos segmentos de ações e câmbio que, assim como na renda fixa, ficaram reféns do giro fraco. Hoje é feriado nos Estados Unidos, o Memorial Day, em homenagem aos militares norte-americanos mortos em guerras, e, por isso, os mercados não operaram por lá. "O fechamento do mercado dos EUA tende a enfraquecer a liquidez e a tomada de novas posições", disse o economista-chefe da JFTrust, Eduardo Velho. Para se ter ideia, o DI mais líquido, janeiro de 2025, movimentou apenas 245 mil contratos, ante média diária de 639 mil nos últimos 30 dias.

Após o bull flattening da curva na semana passada, Velho vê o mercado bem ajustado e com menos espaço para novas quedas, uma vez que também acredita que o investidor já precificou de forma plena a aprovação do arcabouço fiscal pelo Congresso. Esta semana o texto deve começar a tramitar no Senado.

Do lado externo, ele cita expectativa de nova alta dos juros pelo Federal Reserve em junho, de 25 pontos-base, e de números ainda altos do payroll que sai na sexta-feira, o que estaria "induzindo menos espaço, ou então mais tempo, para o início da queda dos juros". Ainda, para o economista, o mercado pode estar antecipando que os dados fiscais, que saem amanhã e na quarta-feira, ainda serão fracos comparativamente a 2022.

Também amanhã a instituição realiza leilão de NTN-B e resta saber se a oferta virá tão elevada quanto na semana passada, quando foi ofertado um lote 2,5 milhões de títulos, absorvido integralmente. Hoje, o Tesouro divulgou o relatório da dívida referente a abril, segundo o qual a emissão líquida de R$ 92,3 bilhões naquele mês foi a maior desde junho de 2021. No ano, o saldo ainda é de resgate, R$ 125,82 bilhões, pressionado pelas elevadas torres de vencimento em janeiro e março. "Ao longo do ano temos outras pela frente. A maior torre que teremos é a de setembro, algo em torno de R$ 300 bilhões", disse o coordenador-geral de Operações da Dívida Luis Felipe Vital.

Pelo lado da inflação, a pesquisa Focus trouxe alívio na mediana de IPCA em 2023, de 5,80% para 5,71%, na esteira do IPCA-15 de maio mais baixo e da sequência de revisões baixistas que se seguiu à divulgação do índice. Não houve, no entanto, alteração nas medianas para 2024 (4,13%) e 2025 (4,00%). Todas elas se mantêm acima do centro das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional.

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