Beira-Mar é transferido de Mossoró, quase 3 semanas após fuga de cadeia
Fernandinho Beira-Mar, apontado por autoridades de segurança como líder da facção criminosa Comando Vermelho (CV), foi transferido do presídio de Mossoró (RN) para outra unidade do sistema penitenciário federal. Houve "rodízio", ou seja, a troca de presídio, de outros 22 criminosos no regime federal. A cadeia potiguar registrou no mês passado a primeira fuga do sistema federal, quando dois detentos ligados à mesma facção de Beira-Mar escaparam. As buscas pela dupla se estendem há quase três semanas.
Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi o primeiro detento levado a uma cadeia federal, quando o modelo foi criado, em 2006. Na época, ele foi para a unidade de Catanduvas (PR). Nos bastidores, fontes admitem em caráter reservado que, embora a transferência já fosse prevista, a fuga de Mossoró teve impacto na medida.
Hoje, são cinco penitenciárias federais de segurança máxima: Mossoró, Catanduvas, Porto Velho, Campo Grande e Brasília. Elas são preparadas para receber criminosos de alta periculosidade e líderes de facções. É comum que os detentos se alternem entre diferentes unidades ao longo dos anos.
SEM DETALHAMENTO
Segundo a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) do Ministério da Justiça, de 1º a 3 de março, foi realizado "o rodízio periódico de 23 presos entre as penitenciárias federais, com a finalidade de garantir o enfraquecimento das lideranças do crime organizado". O novo destino de Beira-Mar não foi informado pelas autoridades. "É importante salientar que a movimentação dos internos é parte da rotina das unidades e, por questões de segurança, a Senappen não informa a localização dos presos nem detalhes dessas operações", acrescentou a pasta.
Parte dos especialistas vê na criação dos presídios federais a oportunidade de um "intercâmbio" entre chefes de facções locais, que dividem experiências e aprendem outras estratégias de atuação criminosa com líderes de outros grupos. "Foi um equívoco criar o modelo de presídios federais", disse ao Estadão a socióloga Julita Lemgruber, ex-diretora do Departamento Penitenciário do Rio. "Se há uma contribuição inegável das unidades federais é que as lideranças de facções conseguiram se agrupar."
MAPEAMENTO
Mapeamento sigiloso feito pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública e obtido pelo Estadão mostra que há pelo menos 72 facções nas prisões brasileiras. A análise leva em consideração informações enviadas pelas agências de inteligência penitenciária dos 26 Estados e do Distrito Federal.
O relatório revela o alcance dos rivais Primeiro Comando da Capital (PCC) e CV, presentes em quase todos os Estados, e a pulverização de grupos locais - uma rede de alianças e tensões que frequentemente resulta em rebeliões sangrentas e violência local.