Com Fed e Moody's, Ibovespa sobe 0,95%; dólar cai 1,53% e fecha a R$ 5,1128

Por Agência Estado 02/05/2024 - 18:33

ACESSIBILIDADE


Como os demais ativos domésticos, o Ibovespa reagiu bem às duas principais notícias do feriado de 1º de maio: a elevação da perspectiva da nota de crédito do Brasil pela Moody's, de estável para positiva, e os sinais, tidos como favoráveis sobre os juros dos Estados Unidos, emitidos pelo Federal Reserve na decisão de política monetária, ontem.

Assim, o índice da B3 operou em alta desde a abertura e encerrou a sessão com ganho de 0,95%, aos 127.122,25 pontos. Hoje, oscilou de mínima na abertura aos 125.925,55 até os 127.670,16 pontos, na máxima do dia, com giro a R$ 24,1 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa avança agora 0,37% - no ano, ainda cede 5,26%

No comunicado do Fed, observa a Guide Investimentos, "os formuladores da política monetária reconheceram que embora a inflação tenha se moderado ao longo do último ano nos EUA, permanece elevada - e houve uma notável falta, nos últimos meses, de progresso adicional em direção à meta", de 2% ao ano, para os preços.

Ainda assim, durante a coletiva de imprensa após a decisão, o presidente do BC americano, Jerome Powell, afirmou não considerar provável um aumento na taxa de juros de referência, observando também que a política monetária atual estaria em estágio "suficientemente" restritivo para que se atinja a meta de inflação, aponta também a Guide, em nota.

Nesse contexto, a comunicação do Fed, como um todo, foi considerada relativamente branda, 'dovish', o que contribuiu para a reversão dos temores que se impunham aos ativos domésticos no começo da semana. Para a melhora do humor, a avaliação benigna feita pela Moody's sobre a trajetória da economia e da dívida soberana no Brasil, que resultou em elevação da perspectiva para o rating do País, veio como cereja no bolo nesta retomada dos negócios após o feriado, com acomodação do câmbio a R$ 5,11, em queda de 1,53% na sessão, e recuo também na curva de juros doméstica, em linha com os Treasuries.

"O dia foi duplamente positivo com ganhos estendendo-se por hoje, em função da fala de Powell e do comunicado do Federal Reserve, ontem, quando o BC dos Estados Unidos manteve os juros pela sexta reunião seguida, conforme se esperava - e com um tom muito menos conservador, menos duro, do que se temia", diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research. Ela destaca a referência clara de que os juros dos EUA não devem voltar a subir, no cenário do Fed, e a falta de aceno à possibilidade de que corte fique muito para o fim do ano ou mesmo para o começo de 2025 - o que resulta em fechamento da curva de juros, lá fora, com implicações para o dólar e o câmbio com o real.

"Após uma arrancada muito forte, que levou a moeda americana dos R$ 4,90 aos R$ 5,31, vemos finalmente um movimento de correção para o que imagino que deva ser sua nova área de negociação nas próximas semanas, na faixa entre R$ 5,00 e R$ 5,20", diz Anderson Silva, head de renda variável e sócio da GT Capital.

Dessa forma, em dia de reprecificação na curva futura após o Fed, o mercado ampliava até mesmo a ainda minoritária chance de o BC dos Estados Unidos abrir o ciclo de relaxamento monetário já na próxima reunião, em junho, conforme dados da plataforma do CME Group. Nesta tarde, a ferramenta apontava 85,8% de probabilidade de a taxa básica dos EUA seguir entre 5,25% e 5,50% no mês que vem, comparada a 90,7% na véspera. E a possibilidade de haver um corte de 25 pontos-base no próximo mês cresceu de 9,3% para 14,2%, reporta o jornalista André Marinho, do Broadcast.

Para John Lloyd, líder de estratégias de crédito multissetoriais e gestor de portfólio na Janus Henderson, independentemente de as taxas de juros do Fed ficarem "mais altas por mais tempo" ou de permanecerem "mais altas por enquanto", os investidores tendem a continuar a tirar proveito "desses rendimentos elevados", destaca em nota.

Na B3, entre as principais ações do Ibovespa, apenas Bradesco (ON +0,24%, PN -1,14%) destoou do sinal único, positivo, nesta quinta-feira. O segundo maior banco privado do País divulgou o balanço do primeiro trimestre e, embora os resultados em geral não tenham desagradado tanto como em divulgações anteriores, há preocupação do mercado com relação ao cumprimento do guidance para o ano de 2024.

Em relatório, os analistas Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, da XP, destacam que a margem financeira com clientes permaneceu pressionada devido ao mix de crédito com spreads mais baixos. Além disso, os analistas apontam que a carteira de crédito ampliada "cresceu tímidos 1,2%, bem abaixo do piso do guidance", reporta a jornalista Beth Moreira, do Broadcast.

Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, destaque para CVC (+12,44%), Pão de Açúcar (+8,53%) e Magazine Luiza (+7,35%), com o setor de varejo e outros ativos sensíveis a juros e ao ciclo doméstico indo bem na sessão. No lado oposto, além de Bradesco PN, apareceram Embraer (-1,89%), Weg (-1,77%), Prio (-1,21%) e Localiza (-1,06%).

Dólar

O dólar apresentou queda firme hoje no mercado doméstico de câmbio e voltou a se aproximar do nível de R$ 5,10 no fechamento. A sinalização de ontem do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de que não haverá alta de juros nos EUA continuou a reverberar hoje, levando a enfraquecimento adicional da moeda americana no exterior e a recuo das taxas dos Treasuries.

O real, que costuma apanhar mais em episódios de aversão ao risco, foi o que mais se beneficiou da recuperação do apetite de investidores por divisas emergentes, em especial as latino-americanas. Como o mercado local estava fechado ontem, em razão do feriado do Dia do Trabalho, a moeda brasileira refletiu hoje os eventos no ambiente externo na quarta-feira, 1º.

Jogou a favor do real também a alteração da perspectiva do rating do Brasil, de "estável" para "positiva", pela agência de classificação de risco Moody's. Segundo operadores, esse conjunto de informações abriu espaço para um movimento de correção mais forte da moeda, uma vez que o dólar fechou terça-feira, 30, em alta de 1,51%, próximo de R$ 5,20 e com valorização de 3,53% em abril.

Em baixa desde a abertura, o dólar à vista furou o piso de R$ 5,15 na primeira meia hora de negócios e tocou o nível de R$ 5,10 no fim da manhã. À tarde, a divisa esboçou operar abaixo de R$ 5,10, ao registrar mínima a R$ 5,1004, em meio ao aprofundamento da queda das taxas dos Treasuries. No fim do dia, o dólar recuava 1,53%, cotado a R$ 5,1128 - menor valor desde 11 de abril.

Para o sócio e diretor de investimento da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, o mercado de câmbio "corrige hoje um pouco do excesso de pessimismo dos últimos tempos", provocado pelas dúvidas sobre o nível de juros nos EUA ao longo deste ano, em razão da difícil conversão da inflação para as metas. "Como a barra para novas altas de juros por lá ficou mais elevada e ainda existe algum diferencial de juros a favor do real, o mercado consegue respirar", afirma Monoli.

Como esperado, ontem o Fed anunciou manutenção da taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50%. A novidade foi a redução do ritmo mensal de redução do balanço do BC americano, de US$ 60 bilhões para US$ 25 bilhões a partir de junho - o que, na prática, significa retirar menos liquidez do sistema.

Em entrevista coletiva, Powell disse que é "improvável" uma alta de juros nos EUA, hipótese que vinha ganhando corpo nas últimas semanas em meio à surpresa com a força da economia americana e temores de estagnação do processo de desinflação. Para combater uma inflação ainda elevada, disse o presidente do BC, os juros podem ser mantidos nos níveis atuais "por mais tempo". Amanhã, é divulgado o relatório mensal de emprego (payroll) nos EUA referente a abril, o que pode provocar mudanças nas projeções dos agentes para a taxa básica americano no fim do ano.

O diretor de investimento da Azimut Brasil destaca que Powell "não sinalizou claramente que cortes nas taxas são prováveis neste ano" e tampouco afirmou que os juros "estão no pico", como disse em outras ocasiões. "De qualquer maneira, como ficou claro na fala de Powell, eles estão longe de uma leitura de riscos mais simétricos para a inflação, de forma que a barra para novas altas está realmente elevada", diz Monoli.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - operou em queda firme e renovou mínima à tarde, aos 105,299 pontos. Destaque para os ganhos de mais de 1% do iene, que vem em uma toada de recuperação desde a semana passada, em meio a rumores de tentativa do governo de apoiar a moeda. Segundo Monoli, dados do Banco do Japão (BoJ) sugerem que houve mais uma intervenção, de aproximadamente 3,5 trilhões de ienes, o equivalente a US$ 22,5 bilhões.

Para o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, a solidez das contas externas e o menor risco político contribuíram para a mudança da perspectiva da nota de crédito brasileira pela Moody's. "Mantemos a estimativa de valSão Paulo, 02/05/2024 - orização do real nos próximos meses por conta da robustez das contas externas e menor risco soberano", afirma Oliveira, que prevê taxa de câmbio em R$ 4,85 no fim do ano.

À tarde, o BC divulgou que o fluxo cambial em abril (até o dia 26) é negativo em US$ 741 milhões, com saída de US$ 10,635 bilhões pelo canal financeiro se sobrepondo à entrada líquida de US$ 9,893 bilhões via comércio exterior. No ano, o fluxo total ainda é positivo em US$ 4,021 bilhões.

Juros

As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) voltaram do feriado em baixa, refletindo a percepção de que o Federal Reserve foi menos austero do que o esperado ao anunciar a decisão de política monetária e reagindo à decisão da agência de classificação de risco Moody's de elevar a perspectiva do rating brasileiro, de estável para positiva.

Ontem, o banco central americano manteve os juros dos Estados Unidos intactos, como era amplamente previsto, e o presidente da instituição, Jerome Powell, afastou a hipótese de um aumento nas taxas. Além disso, o Federal Reserve vai diminuir a intensidade da redução do balanço, drenando um volume menor de liquidez do sistema financeiro a partir do mês que vem. Esta medida, especificamente, tem impacto relevante na perspectiva do mercado.

Segundo o economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, o ajuste na política do balanço equivale, sozinho, a um corte de 0,15 a 0,20 ponto porcentual nos juros americanos e sinaliza que o Fed quer evitar um aumento do juro longo. "Essa taxa afeta muito o Brasil, o mundo inteiro. A taxa tendo um comportamento um pouco mais benigno deve ajudar os mercados emergentes", afirmou.

Mesmo com a queda dos juros hoje, o investidor ainda adota uma postura de cautela, com a curva indicando expectativa de dois cortes de 0,25 ponto porcentual na Selic daqui para frente - diferente do que aponta o guidance do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), de pelo menos mais um corte de 0,50 ponto na semana que vem.

O head da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, explica que no início do ano havia uma expectativa de muito mais cortes tanto da taxa dos Fed Funds quanto da Selic, e destaca que a correlação entre a curva americana e a brasileira está elevada.

"Quando aconteceu a reprecificação da curva americana, reprecificou a nossa curva. O Copom vai ser cauteloso porque, se continuar cortando mais forte, o real vai se desvalorizar", afirmou Weigt, que espera um corte de 0,25 ponto porcentual na Selic na próxima quarta-feira. "As expectativas de inflação da Focus estão subindo um pouco. Tem que ser 3,00%, está em 3,60%. Isso pesa bastante", acrescentou.

Não há consenso, porém, de que o próximo corte na Selic fugirá do guidance do Copom. Pedro Coutinho, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, ressalta que a inflação medida pelo IPCA está sob controle, e acredita que o Banco Central seguirá o plano de voo apresentado na reunião de março.

"A grande questão vai ser o que será falado após essa decisão e o que vai ser sinalizado daqui para frente. O cenário, exceto pelo lado fiscal, parece estar confirmando um corte na linha dos 0,50 ponto porcentual", avaliou. Miraglia também espera um corte de 0,50 ponto porcentual na Selic.

No fechamento, a taxa do contrato para janeiro de 2025 caiu a 10,215%, de 10,311% no ajuste anterior, enquanto a do contrato para janeiro de 2026 recuou a 10,465%, de 10,634%. A taxa para janeiro de 2027 teve queda a 10,785%, de 10,989%, e a para janeiro de 2029 recuou a 11,310%, de 11,523%.


Encontrou algum erro? Entre em contato