Ibovespa atinge novo recorde, a 137 mil; dólar sobe quase 1% com exterior e política monetária

Por Agência Estado 28/08/2024 - 18:13

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A confirmação de que Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do Banco Central, substituirá Roberto Campos Neto na presidência da autarquia em 2025 deu impulso ao Ibovespa do meio para o fim da tarde. Até então, o índice da B3 orbitava a estabilidade na sessão, indeciso entre ganho e perda, e a definição levou os investidores a compras na B3, conduzindo o Ibovespa a novos recordes no intradia como no fechamento, agora na casa de 137 mil pontos.

No novo pico intradia, o Ibovespa foi hoje aos 137.469,26 pontos, e encerrou em alta de 0,42%, aos 137.343,96 pontos, saindo de mínima a 135.746,40 e de abertura aos 136.775,91 pontos. Pela terceira sessão consecutiva, o Ibovespa testou o nível dos 137 mil, visto pela primeira vez durante o pregão da última quarta-feira, 21. O giro financeiro foi a R$ 19,8 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa avança 1,28% e no mês, 7,59%. No ano, o ganho é de 2,35%.

Ponto positivo do dia desde mais cedo, Petrobras ON avançou hoje 2,27% e a PN, 1,43%, o que compensou a realização parcial em Vale (ON -0,72%), que ontem havia subido 3% com a definição do nome do futuro CEO da mineradora. Além de Petrobras, as ações dos grandes bancos também ganharam impulso na sessão com Galípolo para o comando do BC - destaque para Itaú (PN +2,16%) e Bradesco (ON +1,29%, PN +1,62%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, além de Petrobras ON e de Itaú, destaque também para Marfrig (+2,60%), Cemig (+2,30%) e Embraer (+1,93%). No lado oposto, São Martinho (-4,06%), Lojas Renner (-3,76%) e Usiminas (-3,41%).

"A definição do nome traz previsibilidade. Obviamente as próximas falas do Galípolo serão ainda mais monitoradas, com peso cada vez maior. Ele já vinha se posicionando de forma mais positiva com relação a Selic e inflação", observa o economista Paulo Henrique Duarte, da Valor Investimentos.

"Daqui até a posse, é que as declarações de Galípolo farão mais preço. De certa forma, veio a confirmação de um nome que já era esperado pelo mercado - é um desfecho que já vinha sendo precificado, não surpreende", diz Felipe Castro, sócio da Matriz Capital. "Ironicamente, ele deve assumir no momento em que o desajuste fiscal do governo deve levar os juros a retomar trajetória de alta, com consenso do mercado apontando Selic ao redor de 12%", acrescenta.

"Vai ser interessante ver o discurso do governo diante da alta da taxa de juros sob a presidência de um indicado pelo próprio governo", acrescenta Castro, referindo-se ao fogo cerrado a que foi submetido Campos Neto em sua presidência, durante os anos que coincidiram com o governo Lula, desde janeiro de 2023.

"Desde o ano passado, o mercado já trabalhava com a hipótese de Galípolo na presidência do BC. E houve uma certa mudança de percepção em relação ao diretor de política monetária. No passado, o mercado entendia que Galípolo sucumbiria a pressões do governo. Falava-se até em 'Tombinização' do BC", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, referindo-se a Alexandre Tombini, presidente do BC no governo de Dilma Rousseff, a quem teria submetido a orientação da política monetária, então considerada muito frouxa.

"A postura que Galípolo assumiu recentemente, mais dura com relação à inflação, reduziu essa percepção", acrescenta a economista. "E um nome diferente do de Galípolo, nesse momento em que o mercado já havia se acomodado ao que já era visto como a mais provável indicação para a presidência do BC, poderia trazer uma desconfiança desnecessária", conclui Camila. Ela destaca, também, que a alta de juros aguardada para o intervalo de setembro a dezembro deste ano será monitorada de perto. "O mercado assistirá com bastante atenção o posicionamento do indicado."

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 28, em alta firme e voltou a superar a barreira técnica e psicológica de R$ 5,55, impulsionado pela valorização global da moeda americana, em especial na comparação com divisas latino-americanas, e pelo sentimento de aversão ao risco no exterior.

O real pouco reagiu ao tom um pouco mais conservador do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela manhã, que sugere eventual alta da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em setembro.

Tampouco a indicação do atual diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, para o comando da instituição à tarde deu alento à moeda brasileira. Pelo contrário. Enquanto Ibovespa se firmava em terreno positivo e os juros futuros ganharam ainda mais força, o dólar à visita não apenas se manteve em alta firme como tocou pontualmente o nível de R$ 5,56.

Galípolo era o favorito na corrida para o comando do BC e, embora seja visto como mais próximo à heterodoxia econômica, deu declarações recentes de que não sofre pressões política do governo e que não hesitará em optar por uma alta de juros, caso necessário.

Com máxima a R$ 5,5645 na última hora de negócios, a moeda terminou a sessão cotada a R$ 5,5555, avanço de 0,96% - o que levou os ganhos na semana para 1,39%. A desvalorização acumulada em agosto, que chegou a superar 3%, caiu para 1,76%.

Termômetro do desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subiu mais de 0,50% e voltou a superar os 101,100 pontos. A moeda americana recupera parte das perdas recentes, deflagradas pela sinalização do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de início de corte de juros em setembro.

Investidores se acautelaram hoje à espera do balanço da Nvidia, divulgado após o fechamento do mercado. Há expectativa também pela divulgação da segunda leitura do PIB americano amanhã, 29, e do índice de preços de gastos com consumo (PCE na sigla em inglês) na sexta, 30 - eventos que podem ajudar a calibrar as expectativas para a magnitude do corte de juros nos EUA.

Entre as divisas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes, apenas o peso mexicano se apreciou. A moeda mexicana se recuperou do tombo de ontem diante da informação de que a presidente eleita do México, Claudia Sheinbaum, teria pedido menos pressa na tramitação do projeto de reforma do judiciário.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, avalia que o dólar perdeu valor principalmente em relação a moeda fortes após a sinalização de Powell. As moedas latino-americanas tiveram reação bem mais modesta e voltaram a se desvalorizar.

"Na margem, o real está em linha com as outras moedas da América Latina, que estão piores que outras divisas emergentes e ligadas a commodities", diz Adauto. "Powell trouxe uma apreciação momentânea para o câmbio bem menor do que se imaginava. As moedas latino-americanas sofrem mais com a aversão ao risco".

Por aqui, chamou a atenção o tom mais duro de Campos Neto. Ele disse que o IPCA-15 de agosto, divulgado ontem, "veio um pouco melhor", mas ainda não "dá conforto" ao Copom. "Temos enfatizado que o BC vai fazer o que for preciso para atingir a meta", disse Campos Neto.

O presidente do BC repetiu que a autoridade monetária esteve prestes a intervir no mercado de câmbio durante a depreciação aguda do real no início de agosto. Ele afirmou que o BC "sempre ali com o dedo no gatilho", embora tenha ressaltado que só age para evitar disfuncionalidades. Tais afirmações foram vistas por parte de operadores como recado velado de que o BC está atento a eventuais movimentos especulativos exagerados.

Lima, da Western Asset, observa que um aumento do diferencial de juros, com eventual alta da taxa Selic e corte de juros pelo Fed, é apenas um dos fatores para a formação da taxa de câmbio. Ele ressalta que há questões domésticas pendentes do ponto das contas públicas, uma vez que o detalhamento de corte de gastos para 2025 feito hoje pelo ministério do Planejamento não abrange questões estruturais e há dúvidas sobre o impacto do novo programa de auxílio-gás sobre o arcabouço fiscal.

Em relação à indicação de Galípolo à presidência do BC, Lima afirma que a falas recentes do diretor reduziram temores de interferência do governo Luiz Inácio Lula da Silva na condução da política monetária, mas que ainda existem dúvidas sobre como Galípolo vai se portar como presidente da instituição a partir de 2025.

O economista ressalta que os receios de postura menos técnica do BC a partir do ano que vem despertados pela decisão dividida do Comitê de Política Monetária (Copom) em maio ainda estão presentes. Na ocasião, quatro diretores indicados por Lula votaram por redução menor da taxa básica.

"O próprio Galípolo reconhece nas suas falas que essa desconfiança existe e é legítima. Esse risco político diminuiu com as falas recentes mais duras, de que vai subir juros e precisar, mas ele ainda existe", afirma Lima.

Juros

As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) tiveram mais um dia de avanços, impulsionadas inicialmente por declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterando preocupações com as expectativas do mercado para a inflação, e recebendo um impulso extra do anúncio de Gabriel Galípolo como o indicado do governo para assumir o comando da instituição a partir do ano que vem.

Os investidores já esperavam há semanas a indicação do diretor de Política Monetária do Banco Central como sucessor de Campos Neto, e especialistas apontaram que a confirmação deste cenário remove um elemento de incerteza e favorece uma transição suave na presidência da instituição. As taxas de juros, porém, refletiram menos este alívio e mais outros fatores relacionados a como será a condução futura da política monetária.

Em pronunciamentos recentes, Galípolo reforçou que o Banco Central precisa buscar o centro da meta de inflação, e não descartou a retomada de um movimento de alta na Selic para alcançar este objetivo. "Galípolo vem se posicionando comprometido em manter a inflação dentro da meta. Como temos um contexto de pressão inflacionária, a tendência é de alta nos juros", disse Paulo Saad, COO da assessoria de investimentos WFlow.

A indicação de Galípolo, porém, também pode ter revivido preocupações com o poder de influência do governo, defensor de juros menores, sobre o Banco Central, e a necessidade de um esforço maior da política monetária para conter a inflação no longo prazo.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, ressalta que Galípolo era um nome que já estava "acomodado" nas expectativas do mercado, e teoricamente a indicação dele para a presidência do Banco Central não deveria ter efeito na curva de juros. No entanto, "é um candidato indicado pelo governo. Tem toda a leitura que o mercado já tem em relação à preferência da administração atual de condução de política monetária", afirmou.

Vale ressaltar que antes mesmo de Galípolo tomar a dianteira das atenções do mercado, as taxas de DI já operavam em alta, impulsionadas por comentários de Campos Neto, atual presidente do BC, e acompanhando o movimento das taxas de Treasuries mais longas, que renovaram máximas intradia na segunda metade do pregão,

Por aqui, Campos Neto destacou que a leitura de ontem do IPCA-15, que mostrou desaceleração na inflação, não dava conforto ao Comitê de Política Monetária (Copom), e que a inflação implícita nas taxas de mercado subiram muito - ambos fatores que mantêm na mesa a possibilidade de uma Selic mais alta em setembro.

No fechamento, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 subia a 11,715%, de 11,546% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 aumentava a 11,64%, de 11,48%, e a taxa para janeiro de 2029 avançava a 11,735%, de 11,579%.


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