Ibovespa cai 1,55% e recua 2,83% na semana; após 7 pregões de queda, dólar sobe 1,78%

Por Agência Estado 20/09/2024 - 18:21

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Em dia de dólar em alta após uma longa sequência de apreciação do real, o Ibovespa acentuou perdas ao longo da tarde e testou a casa dos 130 mil pontos na mínima desta sexta-feira, em nível não visto no intradia desde 12 de agosto e, no fechamento, desde o dia 9 daquele mesmo mês. Hoje, o índice da B3 flutuou em faixa mais ampla, dos 130.907,42 aos 133.128,36, saindo de abertura aos 133.120,87 pontos. E fechou aos 131.065,44 pontos, em queda de 1,55%, que colocou a perda da semana a 2,83% e a do mês, até aqui, a 3,63%. Na semana anterior, o Ibovespa havia acumulado leve ganho de 0,23%, após revés de 1,05% no intervalo precedente.

O desempenho negativo na semana e no mês inclina o índice da B3 abaixo no ano, em recuo de 2,32% até esta sexta-feira - dia de vencimento de opções sobre ações, em que o giro financeiro foi a R$ 33,4 bilhões. A perda de quase 3% acumulada na semana foi a maior para o índice desde a queda, exatamente de 3,00%, no intervalo entre 20 e 24 de maio. E o recuo de 1,55% nesta sexta foi o maior para o Ibovespa desde a retração de 1,73% em 7 de junho. Das cinco sessões da semana que chega ao fim, o Ibovespa avançou apenas na segunda-feira - e só 0,18%

Na B3, dentre as principais ações, apenas as de Petrobras chegaram a ensaiar alta até o fim da tarde, mas cederam os ganhos e fecharam em torno da estabilidade (ON sem variação, PN -0,03%) - em sessão negativa para o petróleo, com o Brent em baixa de 0,5%. Na ponta perdedora do Ibovespa, CSN (-7,63%), Magazine Luiza (-7,26%) e CVC (-6,97%). No lado oposto, Raízen (+2,28%), Embraer (+1,60%) e TIM (+1,30%). Entre as blue chips, Vale ON fechou em baixa de 1,51% e as perdas no setor metálico - além do forte ajuste em CSN, a maior queda do Ibovespa - foram também sentidas em Usiminas (PNA -5,62%) e Gerdau (PN -2,17%).

"Queda de 1,5% na sessão e de quase 3% na semana para o Ibovespa, com aversão a risco prevalecendo nesta sexta-feira. Lá fora, hoje também negativo, em correção após o otimismo que se seguiu ao corte de juros do Fed desde a tarde de quarta-feira. No doméstico, o ajuste de hoje refletiu muito a alta na curva de juros local, especialmente nos vencimentos de longo prazo, o que colocou a maioria dos papéis do Ibovespa em rumo negativo na sessão. Há percepção de que Selic possa subir mais, e num contexto que já envolvia receios do mercado quanto ao fiscal", diz Jennie Li, estrategista de ações da XP.

"Dia mais estressado do que o do costume recente, com a Bolsa vindo se mostrando bem estável na faixa acima dos 130 mil pontos. Importante ressaltar que a curva de juros abriu muito, embora a elevação da Selic em 25 pontos-base fosse amplamente esperada. Movimento de juros contra ações evidente desde então, com juros para cima e ações para baixo. E mercado ajustando também no câmbio, com dólar em alta hoje, mesmo considerando que deve vir fluxo com o diferencial de juros Selic em alta e Fed funds em baixa", diz Felipe Moura, analista da Finacap.

"Parece haver uma correção, uma realização de lucros em cima do 'fato'. Não vejo mudança estrutural em relação ao que vínhamos tendo, mas é preciso aguardar agora a ata do Copom na próxima terça-feira e outros desdobramentos", acrescenta. Nesta sexta-feira, além da progressão observada na curva de juros doméstica, o dólar à vista fechou o dia em alta de 1,78%, a R$ 5,5209.

"O cenário de cautela, na minha visão, também reflete uma correção após intensas apostas em cortes nas taxas de juros americanas que, no início da semana, levaram as T-notes a seus menores níveis em quase dois anos", diz Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital. "Com o avanço dos juros dos Treasuries, o dólar se valorizou, especialmente, em relação ao real que havia se fortalecido por sete pregões consecutivos", pondera. Ele menciona também aspectos domésticos, como a situação fiscal interna - e qual será a dimensão do esforço orçamentário do governo por meio do bloqueio de recursos, incerteza que contribui para a pressão no câmbio.

"Esses fatores elevam as taxas dos contratos de DI, que já precificam quase 100% de probabilidade de um aumento de 0,50 ponto porcentual na Selic na próxima reunião do Copom, prevista para novembro", observa Iarussi.

Nesse contexto de apelo ainda mais forte para a renda fixa, as expectativas quanto ao comportamento das ações no curtíssimo prazo estão mais pessimistas no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 37,50% esperam que a próxima semana será de perdas para Ibovespa e outros 37,50% preveem estabilidade. Por fim, os demais 25% estimam alta. No levantamento anterior, as respostas se dividiam entre ganhos (50%) e variação neutra (50%).

Dólar

A apreciação cambial vista nos últimos 7 pregões foi deixada para trás nesta sexta-feira, com o real tendo o pior desempenho entre as principais moedas de emergentes e exportadores de commodities. Apesar de na semana ter recuado 0,83%, o dólar à vista tocou máxima a R$ 5,52 hoje, devido à deterioração do cenário fiscal e político, principalmente de tarde, após o sindicato dos servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) convocar ato contra o comando da instituição.

O dólar à vista subiu ainda mais assim que o sindicato Assibge-SN convocou os trabalhadores a aderirem a um ato de protesto "contra as medidas autoritárias" do atual presidente do IBGE, Marcio Pochmann, marcado para a próxima quinta-feira, 26 de setembro.

O mercado interpretou o movimento como um simbolismo de que as bases do governo federal estariam mais frágeis, enquanto segue na missão de apresentar o relatório bimestral de receitas e despesas ainda hoje. Assim, o dólar à vista subiu 1,78%, a R$ 5,5209, perto da máxima de R$ 5,5239 alcançada pela tarde.

"A convocação do ato contra Pochmann acaba indicando uma degradação do governo até dentro de sua própria base, e não só da oposição. Isso pode gerar problema para que o governo passe emendas dentro do Congresso e do Senado. Então piora do mercado local não é tanto pela manifestação em si, mas mais pelo simbolismo que representa para o governo", comenta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.

Para o economista, o mercado já tendia a fazer uma "correção da euforia da semana" que foi causada pelo corte de 0,50 ponto porcentual nas taxas do Fed funds feita pelo banco central americano na quarta-feira, mas hoje também há uma grande parte de "aversão a risco local".

Além da nota do sindicato do IBGE, há incertezas quanto ao quadro fiscal do País, que tende a embutir risco nos ativos domésticos. "A discussão agora é essa, e a política monetária vai ser pautada no fiscal", comenta Hugo Queiroz, sócio diretor da L4 Capital.

O Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) informou que divulgará os principais pontos do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 4º bimestre entre o fim da tarde e o começo da noite de hoje. Contudo, a apresentação tradicional seguida de coletiva de imprensa só deve ocorrer na segunda-feira.

"Governo está meio de calças justas. O fiscal está totalmente descontrolado. E o governo tem abacaxi grande para resolver, porque a briga era para cair juros, mas acabou que a Selic subiu", acrescenta Velloni. Mais do que isso, o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe um tom mais hawkish (duro) do que o mercado esperava.

Segundo Rodrigo Brolo, analista da Criteria Investimentos, há um receio de nova alta de 0,50 ponto porcentual da Selic pelo mercado, fazendo com que fundos vendidos em taxa comprem futuros, provocando alta da curva de juros e, na esteira, fazendo o dólar subir. A divisa, segundo ele, também sobe influenciada pela escalada dos ataques israelenses ao Líbano.

O DXY, índice que mede a performance do dólar contra uma cesta de moedas fortes, subia 0,14% no fim da tarde, na casa dos 100,757 pontos, em razão, sobretudo, da alta de 0,92% da divisa americana em relação ao iene.

"O cenário interno é bem complicado quando se olha o endividamento do Brasil, então vai ser um pouco mais difícil termos um rali de Brasil em relação a outros emergentes", segundo Velloni, da Frente Corretora. Para ele, uma âncora importante do País que atrapalha é a China, que tem "tido um ritmo de crescimento muito duro, e tende a pressionar o real".

Hoje a segunda maior economia do mundo decepcionou parte do mercado, visto que o Banco do Povo da China (PBoC) manteve suas taxas inalteradas. Havia expectativa por um corte de juros e a percepção é de que o PBoC estaria pressionado pelas preocupações com a lucratividade bancária e o recuo do rendimentos de longo prazo, segundo avaliou a Capital Economics.


Juros

Após já terem engatado alta firme ontem, os juros futuros continuaram subindo de forma expressiva nesta sexta-feira refletindo, em boa medida, ajustes técnicos relacionados à zeragem de posições aplicadas de investidores estrangeiros, o que explica especialmente a disparada das taxas longas. A volta do dólar a R$ 5,50 pesou sobre a curva, assim como a apreensão com o cenário fiscal escalou antes da divulgação do relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas, esperado para ainda hoje, e o exterior não ajudou. Para piorar o clima negativo, o sindicato dos servidores do IBGE divulgou uma nota denunciando "comportamento autoritário" do presidente do instituto, Marcio Pochmann.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 estava em 12,15%, de 12,04% ontem no ajuste, e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 12,21%, ante 12,01% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2029 subia de 12,09% para 12,31%.

No balanço da semana, as taxas acumularam alta expressiva, mas as longas ainda em maior magnitude, conferindo à curva ganho de inclinação, mesmo com o comunicado "hawkish" do Copom estimulando apostas pesadas no ciclo de aperto monetário.

Se ontem o ajuste ao Copom penalizou principalmente a ponta curta dos DIs, hoje o destaque foram os vencimentos longos, que nas máximas chegaram a abrir mais de 30 pontos no começo da tarde, aparentemente o momento do pico do movimento de stop loss. O trecho longo é a área de maior interesse dos não-residentes e teve hoje giro de contratos acima da média diária padrão. "O problema hoje parece ter sido muito mais de fluxo, com estrangeiros sendo forçados a um ajuste, do que fundamentos", afirma o economista-chefe da Terra Investimentos, João Mauricio Rosal.

Houve ainda cautela antes da divulgação do relatório bimestral. Diante das dificuldades recentes do governo em conseguir receitas e controlar despesas, a expectativa é por um novo contingenciamento e/ou bloqueio de recursos que possa manter viva a possibilidade de cumprimento dos objetivos do arcabouço.

"A perspectiva é de reavaliação mais para baixo das receitas e o crescimento dos gastos realmente está mais forte do que o esperado. Há ainda uma especulação de que mais gastos vão ser excluídos da meta", afirma o economista-chefe e sócio da JF Trust, Eduardo Velho. Segundo ele, o mercado vê como crescente a probabilidade da dominância fiscal na política econômica, o que contribui para a alta dos juros.

Variável monitorada de perto por seu impacto nos modelos de inflação, o dólar, após uma sequência de sete sessões em queda, hoje passou por uma realização de lucros e subiu para além dos R$ 5,50, fechando em R$ 5,5209, sendo outro fator a ajudar a estressar a curva.

As máximas da sessão coincidiram com a divulgação, no início da tarde, da nota do sindicato nacional dos servidores do IBGE, refletindo os temores do mercado de ingerência e heterodoxia dentro do principal órgão de estatísticas públicas do país. No texto, o sindicato convoca trabalhadores a aderirem a um ato de protesto "contra as medidas autoritárias" de Marcio Pochmann. O sindicato pede diálogo do presidente com os servidores em relação às diversas alterações em curso no Instituto. Segundo apurou o Broadcast junto a fontes, coordenadores e gerentes do IBGE teriam manifestado preocupação com medidas tomadas por Pochmann e enviado carta ao conselho diretor, assim como as ministras Esther Dweck (Gestão) e Simone Tebet (Planejamento) também teriam sido notificadas.


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