Com Vale e siderurgia, Ibovespa sobe 1,08%; dólar cai 0,57% e fecha abaixo de R$ 5,45

Por Agência Estado 26/09/2024 - 18:13

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O Ibovespa acentuou máximas no meio da tarde, contando desde cedo com impulso do setor metálico, em especial da ação de maior peso individual no índice da B3, Vale ON, que avançou 6,01%. A sessão foi positiva para o minério de ferro na China e em Cingapura, de volta à casa de US$ 100 por tonelada, mas negativa para o Brent e o WTI, em Londres e Nova York, o que colocou Petrobras (ON -2,10%, PN -2,16%) na defensiva nesta quinta-feira. O cabo de guerra entre os pesos-pesados do Ibovespa inclinou o índice para cima, em dia no qual contou também com bom apoio do setor financeiro, de nomes como Itaú (PN +1,27%) e Bradesco (ON +2,09%, PN +2,56%).

Se, por um lado, o minério de ferro seguiu em alta nesta quinta-feira com o entusiasmo em torno dos estímulos chineses, por outro o petróleo retrocedeu mais de 2% em Londres e Nova York, ante receios de que grandes exportadores, como a Arábia Saudita, venham a aumentar a produção da commodity.

No fechamento, o Ibovespa mostrava ganho de 1,08%, aos 133.009,78 pontos, entre mínima de 131.593,50 e máxima de 133.312,77 pontos na sessão, em que saiu de abertura aos 131.595,04 pontos. O giro financeiro foi a R$ 27,2 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 1,48%, ainda cedendo 2,20% no mês e 0,88% no ano.

"Desde que emergiram novos estímulos à economia na China, o setor metálico tem mostrado forte reação, e pelo peso que o segmento, em especial Vale, possui no Ibovespa, o índice vem acompanhando essa melhora após ter tocado os 130,5 mil pontos no fechamento da última segunda-feira", aponta Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos, referindo-se ao menor nível de encerramento para o índice desde 8 de agosto.

De segunda-feira para cá, foram três sessões, com duas em alta pouco acima de 1% para o Ibovespa, entremeadas por uma baixa de 0,43%, ontem. "Há muita cautela ainda com a situação fiscal doméstica, e o fluxo estrangeiro para a B3, em setembro, ainda não mostrou o que se viu na recuperação de julho e agosto. Há muitas variáveis para destravar fluxo para as ações, apesar dos descontos que ainda existem na B3", diz Harada, que vê espaço para o Ibovespa levar a retomada um pouco adiante, até a resistência dos 134,9 mil pontos.

Hoje, com a alta de 6%, o avanço de Vale na semana chega a 12% e, no mês, a quase 8%. Outras ações do setor metálico também mostram desempenho robusto no mesmo intervalo, como CSN ON, que sobe mais de 19% na semana e cerca de 12% no mês. Na sessão desta quinta-feira, além de Vale, de CSN (+8,95%), CSN Mineração (+6,67%) e de Bradespar (+6,45%), destaque também para Azul (+10,00%) e Cogna (+7,20%), na ponta do índice. No lado oposto, Brava (-6,54%), Prio (-4,84%) e Vivara (-3,13%).

"China trouxe injeção de US$ 142 bilhões para os bancos estatais, em suporte à economia do país e para que se atinja a meta de crescimento: é o maior pacote desde 2008", resume Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

Metais como ouro, cobre e prata seguiram em alta nesta quinta-feira, refletindo não apenas perspectiva mais favorável sobre a segunda maior economia do mundo, mas também as tensões geopolíticas e o viés de baixa para os juros de referência americanos - este com efeito para o dólar, que tem se acomodado a níveis menores.

Nesta quinta-feira, a moeda dos Estados Unidos fechou em baixa de 0,57%, a R$ 5,4447. Apesar da cautela ainda derivada do fiscal, algumas boas novas têm contribuído para firmar sentimento um pouco mais favorável em relação a ativos brasileiros, como as revisões, para cima, nas projeções de crescimento da economia em 2024. Hoje, o Banco Central revisou, de 2,3% para 3,2%, a projeção de crescimento do PIB em 2024, no relatório trimestral de inflação (RTI).

Nesse contexto, a Bolsa recuperou toda a queda do pregão anterior e foi além da máxima intradia dos quatro pregões anteriores, "o que demonstra possível retorno de força compradora", diz Inácio Alves, analista da Melver, destacando também os quatro pregões consecutivos de alta para o principal papel da B3, Vale ON.

"A grande notícia continua a ser o 'pacotaço' de incentivos da China, com o detalhamento das informações e dos recursos para estimular a economia, que envolvem também cortes de impostos para estimular o consumo e os setores de infraestrutura e imobiliário", com reflexo direto para a precificação de ativos brasileiros, como os do setor metálico, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Dólar

O dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 26, em queda firme no mercado doméstico, em linha com o comportamento da moeda americana no exterior. O compromisso das principais lideranças da China com novos estímulos econômicos impulsionou os preços de commodities metálicas, o que serviu de gatilho para nova onda de valorização de moedas de países emergentes e de exportadores de produtos básicos, com destaque para o peso chileno e o dólar australiano.

Em queda desde a abertura, o dólar esboçou furar o piso de R$ 5,40 nos primeiros negócios, quando desceu até R$ 5,4051, na mínima. Ao longo da manhã, a divisa reduziu o ritmo de perdas, diante do tombo do petróleo e de alta das taxas dos Treasuries mais curtos, na esteira de dados da economia americana. As chances de novo corte de 50 pontos-base nos juros pelo Federal Reserve em novembro passaram a ficar abaixo de 60%, segundo monitoramento do CME Group.

Com máxima a R$ 5,4542 na sessão, o dólar terminou o dia em baixa de 0,57%, cotado a R$ 5,4447 - o que leva as perdas acumuladas na semana a 1,38%. Em setembro, a moeda americana apresenta desvalorização de 3,38% em relação ao real.

O analista de câmbio da B&T Câmbio, Bruno Nascimento, observa que, além de impulsionar os preços de commodities metálicas, os estímulos à economia chinesa "reduzem a aversão global ao risco, o que fortalece moedas de mercados emergentes".

Por aqui, as atenções se voltaram à divulgação, pela manhã, do Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central (RTI). O documento trouxe revisões para cima do IPCA no chamado "horizonte relevante da política monetária", que já abrange 2026. As projeções para a inflação se mantêm acima da meta, de 3%, pelo menos até o primeiro trimestre de 2027.

Embora o BC tenha reiterado que está em aberto tanto o ritmo de alta da Selic quanto o tamanho do ciclo de aperto, ambos dependentes da evolução dos indicadores, a maioria dos analisas ouvidos pelo Broadcast afirma que o cenário traçado pelo RTI enseja uma elevação mais pronunciada da taxa básica

Na avaliação do Bradesco, o fato de o BC estimar IPCA acima da meta de 3% no horizonte relevante sugere a necessidade de um aperto monetário adicional "significativo", elevando as chances de uma alta da Selic em 0,50 ponto-base na reunião do Copom de novembro. Por ora, o banco ainda projeta elevação de 0,25 ponto e taxa básica em 11,50% em janeiro de 2025.

Em tese, taxa Selic maior - e por período mais prolongado - tende a ser favorável ao real, uma vez que eleva o diferencial de juros internos e externo, sobretudo com o início do processo de redução pelo Federal Reserve. Apesar disso, há ceticismo entre analistas ouvidos recentemente pelo Broadcast com a possibilidade de que a taxa de câmbio se firme abaixo de R$ 5,40.

Em evento hoje, o ex-diretor de política monetária do BC e sócio-fundador da Ibiuna Investimentos, Mario Torós, afirmou que a percepção de risco do Brasil tem pesado de forma "muito significativa" na taxa de câmbio. Ele diz que o real ganhou "uma série de incentivos externos" nos últimos dias, com aumento da taxa de juros no Brasil enquanto houve queda nos Estados Unidos, além de estímulos anunciados pelo governo chinês, o que fortalece as commodities.

"Foi o suficiente para levar o real para R$ 5,40, mas ainda é uma taxa muito desvalorizada. Se com todos esses incentivos não conseguirmos um processo de apreciação da moeda, ficaria preocupado", afirma o gestor, acrescentando que, atualmente, não razões para manter posições compradas (que apostam na alta) da moeda brasileira.

Juros

A curva de juros voltou a abrir nesta quinta-feira, com as taxas longas subindo cerca de 10 pontos, principalmente após relatório da Fitch Ratings destacar que o "forte crescimento" da economia brasileira não reduz a incerteza fiscal. A ponta curta, por sua vez, seguiu o comportamento das Treasuries e também considerou que o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do Banco Central projetou o IPCA para o 2º trimestre de 2026 de 3,5%, sinalizando que o Comitê de Política Monetária (Copom) potencialmente será mais agressivo no aperto monetário. Pela precificação na curva de juros, a Selic deve ficar em 12,50% em março de 2025 e em 12,50% em março de 2026.

A taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu a 12,200%, de 12,086% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 avançou a 12,245%, de 12,111%, e o vencimento para janeiro de 2029 saltou a 12,33%, ante 12,23%.

Os juros longos operavam perto dos ajustes de quarta-feira no início da tarde, mas acabaram mudando a tendência para alta na segunda etapa do pregão. A Fitch Ratings disse, em relatório divulgado por volta das 15h do horário de Brasília, que apesar do "forte crescimento" da economia brasileira, o desempenho fiscal está abaixo das projeções originais do orçamento de 2024, e que a atividade econômica aquecida "pode resultar em parte da posição fiscal frouxa".

Na avaliação de Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, "o relatório da Fitch sugere que com o fiscal atual dificilmente o país verá uma elevação da nota de crédito nos próximos anos". Ele complementa que, "como não há sinais de disposição do governo de mudar a rota, a notícia acabou favorecendo um aumento no prêmio de risco".

Caio Tonet, sócio e diretor de operações da W1 Capital, diz que o relatório da Fitch elevou as preocupações fiscais ainda mais. "Brasil foi perdendo credibilidade aos poucos no âmbito fiscal, principalmente desde semana passada."

O BTG Pactual também avalia que a abertura do diferencial de juros de longo prazo entre Brasil e Estados Unidos está sendo impulsionada por preocupações crescentes sobre a situação fiscal brasileira. Para o banco, a incerteza quanto ao cumprimento das regras fiscais para 2025 aumentou, especialmente porque o orçamento do ano que vem enviado ao Congresso está excessivamente dependente de fontes de receitas incertas.

O vértice mais curto da curva de juros, por sua vez, esteve mais atrelado à expectativa de política monetária, após RTI do Banco Central, e ao desempenho dos Treasuries, visto que a T-note de 2 anos subiu a 3,619%, e o da T-note de 10 anos avançou a 3,794%.


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