Ibovespa inicia outubro em alta de 0,51%, perto de 132,5 mil pontos

Por Agência Estado 01/10/2024 - 18:42

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Embora em ritmo menor do meio para o fim da tarde, a reação dos preços do petróleo ao acirramento das tensões no Oriente Médio assegurou o desempenho positivo do Ibovespa nesta terça-feira, 1º, movido por Petrobras (+2,67% na ON e também na PN). Dessa forma, o índice da B3 ensaiou recuperar o nível de 133 mil pontos, vindo de perdas nas duas sessões anteriores - e de retração de 3,08% ao longo de setembro. Hoje, além de Petrobras, contou também com o apoio de Vale (ON +0,49%) e de parte do setor financeiro, à exceção de Itaú (PN -1,63%) e Banco do Brasil (ON -0,37%) entre as maiores instituições.

No fechamento, o Ibovespa mostrava ganho mais acomodado, de 0,51%, aos 132.495,16 pontos na sessão, em que oscilou dos 131.816,56, mínima na abertura, até os 133.405,49 pontos, na máxima desta terça-feira. O giro foi a R$ 23,6 bilhões. Na semana, o Ibovespa segue no negativo (-0,18%), com perda no ano a 1,26%. Na ponta do índice na sessão, MRV (+4,56%), Ambev (+3,98%) e Petz (+3,39%). No lado oposto, Assaí (-4,69%), Azul (-4,65%) e Vamos (-2,27%).

A curva de juros doméstica acompanhou hoje, moderadamente, a regressão observada nos rendimentos dos Treasuries, com a demanda pelos títulos americanos em alta ante a aversão a risco derivada da escalada do conflito militar no Oriente Médio. O dólar à vista encerrou o dia em leve alta, de 0,31%, a R$ 5,4641. Em Nova York, prevaleceu a cautela na sessão, o que levou os principais índices de ações a fechar o dia em baixa de 0,41% (Dow Jones), 0,93% (S&P 500) e de 1,53% (Nasdaq).

A escalada militar no Oriente Médio, com desdobramentos como a invasão de Israel por terra ao Líbano e a promessa de revide, concretizada hoje pelo Irã, ao desmantelamento da cúpula do Hezbollah - aliado persa no sul do Líbano -, colocou o petróleo em alta que chegou a 5% em Londres durante a sessão, impulsionando as ações da Petrobras na B3. Ao fim, os contratos do Brent (Londres)e do WTI (Nova York) mostravam avanço menos acentuado, em torno de 2,5%.

"O Oriente Médio foi o assunto do dia, e o Irã levou adiante o que disse que faria, com efeitos diretos para o preço e a oferta de petróleo - o que deu impulso ao setor de energia, não apenas na Bolsa brasileira", diz Rodrigo Alvarenga, sócio e assessor da One Investimentos, referindo-se ao ataque iraniano com mísseis a Israel - contido pelo sistema de defesa aérea israelense. Foi o segundo ataque direto do Irã a Israel, após a inédita ofensiva, também com mísseis, em abril.

Antes do início da ofensiva iraniana nesta terça-feira, a polícia israelense informou que seis pessoas foram mortas em ataque a tiros em Tel Aviv, e que outras sete ficaram feridas. Os atiradores foram mortos por policiais.

O governo israelense promete uma resposta à ofensiva iraniana. O porta-voz das forças armadas, Daniel Hagari, disse que o ataque terá "consequências" e que o país permanece em alto nível de alerta. "Estamos em alerta elevado, para defesa e ataque. Haverá consequências. Temos planos e agiremos", disse Hagari em transmissão pela TV, após o sistema de defesa de Israel ter neutralizado o ataque com mísseis desta terça-feira.

Na agenda de dados econômicos dos Estados Unidos, destaque nesta manhã para a divulgação do Jolts referente a agosto, relatório sobre o giro de mão de obra que costuma ser monitorado de perto pelo Federal Reserve (Fed), em leitura acima do esperado para o mês - e também para novas leituras do PMI, abaixo do esperado e aquém do limiar de 50 em setembro, o que indica retração da atividade, na margem.

"Em termos de política monetária, esses dados do PMI reforçam o cenário de enfraquecimento especialmente do setor industrial, o que pode justificar próximo corte de juros, de 0,25 ponto porcentual, pelo Fed para sustentar a atividade econômica", avalia Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.

Dólar

O dólar se fortaleceu contra a maior parte das divisas neste primeiro pregão de outubro, e com o real não foi diferente, visto que o mercado adotou uma postura mais defensiva após ataque a mísseis do Irã a Israel nesta tarde e ainda reverberando a possibilidade de uma flexibilização monetária mais comedida pelo Federal Reserve (Fed). O real, contudo, teve performance melhor do que algumas divisas fortes, a exemplo de moedas europeias, por conta da valorização de mais de 2% do petróleo, considerando que o Brasil é exportador da commodity.

O índice DXY, que mede a variação da moeda americana ante uma cesta de pares fortes, fechou em alta de 0,41%, a 101,194 pontos. Já o dólar à vista subiu 0,31% contra o real, a R$ 5,4641, após pregão com volatilidade, em que a moeda chegou a R$ 5,4787 na máxima e a R$ 5,4307 na mínima, ambas pela manhã.

"O ataque do Irã contra Israel causou um aumento de incerteza entre os investidores, que buscaram ativos mais seguros como o dólar", avalia Elson Gusmão, diretor de câmbio da corretora Ourominas.

O acirramento das tensões no Oriente Médio - região crucial para a produção e oferta global do petróleo - também movimentou os contratos futuros do Brent e WTI, que fecharem em alta superior a 2%. O desempenho da commodity fez com que o real brasileiro "até se comportasse bem", segundo Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine.

"Temos rublo, shekel israelense e até mesmo moedas europeias que perderam mais hoje do que o real. E aí quem está ganhando, ou no zero a zero, são principalmente moedas que se beneficiam do aumento de preços de commodities, como é o caso do real", afirma Oliveira. Ele frisa que o Brasil tem a nuance de que a alta do barril do petróleo é positiva para a moeda, porque o País é exportador líquido de petróleo.

Gusmão, da Ourominas, avalia que o real operou em uma "linha tênue" entre alguns investidores - entrando para comprar real por conta do petróleo mais caro - e outros querendo se proteger no cenário de guerra e comprando dólares. Petrobras, exportadora de petróleo, por exemplo, viu suas ações subirem 2,67%, tanto na ON como na PN.

Já moedas da zona do euro, por exemplo, tiveram desempenho inferior ao real pela permanência da atividade industrial europeia na zona de contração. Além disso, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, adotou um discurso mais dovish ao dizer que os dirigentes do BCE não vão esperar que a inflação retorne à meta de 2% para seguir com novos cortes das taxas de juros.

Também ecoaram as perspectivas de corte mais conservador de juros pelo Fed nas próximas duas reuniões monetárias deste ano, em um contexto em que o diferencial de juros entre as economias é um dos fatores de atenção para quem opera no câmbio.

Juros

Depois de um avanço significativo em setembro, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) começaram outubro em queda, acompanhando o movimento dos juros dos Treasuries, que refletiram o aumento na busca por ativos seguros diante de um ataque a mísseis do Irã contra Israel. A ofensiva era esperada há dias, depois de o governo israelense ter bombardeado o Líbano e matado o líder do Hezbollah no fim de semana.

No fim do pregão, a decisão da agência de classificação de risco Moody's de elevar a nota de crédito do Brasil para Ba1, apenas um nível abaixo do chamado grau de investimento, também contribuiu para as perdas, levando algumas das taxas a aprofundarem o ritmo de queda e a terminarem o dia nas mínimas da sessão.

O estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, viu o movimento da curva hoje totalmente associado ao risco de uma guerra mais aberta no Oriente Médio e se surpreendeu com o desempenho positivo dos mercados pela manhã. "Parecia que não estavam sentindo o risco de guerra por procuração, com Israel lutando contra grupos armados, se transformar numa guerra regional contra o Irã, o que é algo completamente diferente. Mas há uma escalada", avalia.

Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group, considerou que o recuo nas taxas de DI foi "puramente externo", dado que no mercado doméstico os fundamentos justificam a abertura dos juros, e não o contrário.

"A nossa curva de juros está muito relacionada ao fiscal. O que está atrapalhando o nosso mercado é a gente mesmo, não é mais o mundo, que está bastante positivo para emergentes", disse Miraglia, citando o pouso suave da economia dos Estados Unidos e os estímulos da China ao setor imobiliário.

Nem mesmo os preços do petróleo, que hoje chegaram a subir mais de 5% por causa da tensão no Oriente Médio, estão contribuindo para a abertura da curva no momento, segundo o economista. "Até US$ 80 por barril é neutro para a inflação mundial e para o Brasil, e abaixo disso ajuda", afirmou. Em setembro, o valor médio do petróleo Brent foi de aproximadamente US$ 72,50 por barril.

Marcela Kawauti, economista-chefe da gestora Lifetime, ponderou que o recuo de hoje nas taxas embute também um respiro após o forte avanço acumulado em setembro. "Os DIs já tinham puxado bastante e, apesar da piora lá fora, que impulsionou o dólar, teve correção por conta da acomodação. Talvez se a gente não tivesse a piora do risco geopolítico hoje a acomodação pudesse ter sido um pouco maior."

Diante do exterior turbulento, os comentários do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, feitos antes do ataque do Irã a Israel não provocaram reação do mercado.

Além do risco de conflito ampliado no Oriente Médio, fica no radar dos investidores nos próximos dias a divulgação dos dados sobre a produção industrial de agosto, amanhã, e, principalmente, os números do payroll sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos, que serão publicados na sexta-feira (4).

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 caiu a 12,225%, de 12,324% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 recuou a 12,255%, fechando na mínima da sessão, de 12,379% ontem, e a taxa para janeiro de 2029 caiu a 12,340%, também no menor nível do dia, de 12,457%.


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