EMBAIXADOR

Brasil abrigou acusado de crime de guerra por quase dois anos

Por Folha de S.Paulo 29/08/2017 - 08:42

ACESSIBILIDADE

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Autor da denúncia contra o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, o jurista espanhol Carlos Castresana-Fernandez reuniu-se nesta segunda, 28, com um representante do Ministério Público Federal para pedir ao Brasil que solicite a prisão preventiva do embaixador do Sri Lanka, Jagath Jayasuriya, pela Interpol.

O embaixador é acusado de cometer crimes de guerra quando comandava as tropas do governo na guerra civil do Sri Lanka, em 2009, segundo relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos.

Tropas sob seu comando mataram 40 mil civis. A acusação o responsabiliza pela matança, tortura e o estupro sistemático de prisioneiras pelas forças de segurança.

Mas Jayasuriya deixou o posto no Brasil e partiu para o Sri Lanka no domingo, 27, véspera da reunião no MPF. Sua partida já era prevista.

"Diante da fuga, temos que recorrer à Interpol", diz Castresana, que representa a ONG International Truth and Justice Project Peace and Justice Project, que trabalha com vítimas de violações de direitos humanos no Sri Lanka.

Ele se reuniu com o secretário de cooperação internacional do MPF, Vladimir Aras, e pediu a emissão de uma ordem internacional de captura. O caso está em análise.

Jayasuryia foi nomeado embaixador no Brasil em agosto de 2015 e chegou ao país em novembro do mesmo ano. Ele também é representante diplomático do Sri Lanka na Colômbia, Peru, Argentina, Chile e Suriname.

A então presidente Dilma Rousseff recebeu as credenciais e ele ficou no Brasil até agora sem ser incomodado.

"É um criminoso de guerra, como [o alemão Josef] Mengele ou [o sérvio Slobodan] Milosevic, nenhum país democrático pode deixar uma pessoa dessas solta pelas ruas", disse Castresana.

O Brasil poderia não ter recebido as credenciais do embaixador. Também poderia declará-lo persona non grata ou requerer ao país de origem que sua imunidade diplomática fosse retirada.

"O prêmio que ele ganhou por ter matado 40 mil pessoas foi ficar passeando pela América do Sul", diz Castresana. Na página do general em uma rede social, há fotos dele na praia e nadando com botos na Amazônia.

Além de Dilma, o representante tem fotos com a chilena Michelle Bachelet e o colombiano Juan Manuel Santos, também Nobel da paz.

Como chefe das Forças de Segurança de Vanni, Jayasuriya comandou as ofensivas do final da guerra, em 2008 e 2009, no norte do Sri Lanka. As forças lutavam contra os rebeldes separatistas Tigres Tâmeis, que também são acusados de crimes de guerra.

Segundo o relatório da ONU "o quartel general das forças de segurança para o Vanni, comandado na época pelo general Jayasuriya, era um dos principais campos onde os detentos eram sujeitos a interrogatórios e frequentemente torturados."

A ONU afirma ainda que o mesmo quartel era palco de violência sexual e acusa as forças comandadas por Jayasuriya de bombardear intencionalmente hospitais e zonas de segurança para civis.


Encontrou algum erro? Entre em contato