DISTORÇÃO
Cidade de Alagoas com 3 mil habitantes é a 3ª maior em emendas no Brasil
Levantamento aponta que município recebeu R$ 6,4 milhões este ano, o que dá R$ 2 mil por habitanteCom pouco mais de 3 mil habitantes, Mar Vermelho, cidade localizada na Zona da Mata de Alagoas, é a terceira cidade do Brasil que mais recebe emendas parlamentares. De janeiro até o início de julho, o município recebeu R$ 6,4 milhões em emendas, o que dá R$ 2.013 por habitante. O levantamento foi feito pelo jornal "Folha de S Paulo".
O Delegado Fábio Costa (PP-AL) é o parlamentar que mais destina recursos para Mar Vermelho. Curiosamente, Costa foi o candidato a deputado federal menos votado na cidade em 2022, recebendo apenas 35 votos. Fábio Costa destinou R$ 2,9 milhões das chamadas "emendas Pix", que caem direto no caixa da prefeitura.
Em março, Costa postou em suas redes sociais um vídeo ao lado do prefeito de Mar Vermelho, André Almeida (MDB), que deve disputar a reeleição, segurando um cheque no valor de R$ 1,74 milhão que seria usado para pavimentação de uma importante via da cidade.
Por meio de sua assessoria, o deputado afirmou que as verbas destinadas por ele também serão usadas na construção de um ponto turístico e que ele prioriza "municípios com capacidade de execução e transparência para garantir a melhor aplicação dos recursos", não havendo relação entre "quantidade de votos e valor das emendas".
O valor repassado à cidade de Mar Vermelho é um reflexo da distorção nas emendas parlamentares, causada pela multiplicação do valor das emendas nos últimos anos e a quase total autonomia de deputados federais e senadores na distribuição do dinheiro.
Isso coloca cidades pequenas no topo do ranking de verba por habitante. Segundo o levantamento feito pela "Folha de S Paulo", todas as dez cidades proporcionalmente mais beneficiadas têm menos de 6.000 moradores. No topo da lista das cidades mais beneficiadas proporcionalmente estão Bom Sucesso e Curral Velho, na Paraíba.
As emendas são uma forma pela qual deputados e senadores conseguem enviar dinheiro para obras e projetos em suas bases eleitorais e, com isso, ampliar seu capital político.
Pressionado pelo Congresso, o governo Lula (PT) acelerou a liberação de emendas e pagou cerca de R$ 23 bilhões até a primeira semana de julho, principalmente aos municípios. A pressa deve-se à trava imposta pela legislação eleitoral a novos repasses nos três meses que antecedem as eleições.