Meio Ambiente

Pesquisa indica redução de 60% da vazão do Rio São Francisco

Trabalho também indica perda de 15% de cobertura vegetal na bacia hidrográfica
Por Ufal/Lapis 31/08/2024 - 08:47

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Agencia Brasil
Redução do volume do Rio São Francisco afeta economia e população do Nordeste
Redução do volume do Rio São Francisco afeta economia e população do Nordeste

A vazão anual do cento-norte do Rio São Francisco diminuiu mais de 60%, em média, nas últimas três décadas. A conclusão é de uma nova pesquisa publicada pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da universidade Federal de Alagoas (Ufal), no periódico internacional Water. De acordo com o estudo, houve perda de 15% de cobertura vegetal na Bacia hidrográfica, somente no período de 2012-2020, quando ocorreu uma das secas mais longas registrada na história da região.

Os pesquisadores do Lapis/Ufal analisaram como a rápida intensificação das secas-relâmpago, de 1991 a 2020, reduziu a vazão do Rio São Francisco. Seca-relâmpago é um extremo climático de início rápido e forte intensidade, caracterizado pela queda brusca nos volumes de precipitação, combinada com altas temperaturas. Essa nova categoria de seca sempre existiu, mas se tornou comum nas últimas décadas. Os primeiros estudos sobre o assunto surgiram nos Estados Unidos, em 2002.

De acordo com Humberto Barbosa, meteorologista fundador do Laboratório Lapis/Ufal e responsável pelo estudo, o principal motivo para o encolhimento do Rio São Francisco foram as altas temperaturas, principalmente no início dos eventos de secas-relâmpago.

“Temperaturas mais altas aumentam o uso diário da água pelas plantas, além da evaporação dos corpos d’água e dos solos. As ondas de calor extremo foram cruciais para reduzir o volume do rio. À medida que fica mais quente, a atmosfera retira mais água das fontes da superfície e a principal consequência é que menos água flui para o rio São Francisco. Essas descobertas da pesquisa podem ser aplicadas a todos os rios brasileiros”, ressalta Humberto.

O Rio São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica brasileira, com extensão de 2,7 mil km e importância histórica para o país. Conhecido como o rio da integração nacional, por interligar área significativa do seu território, a Bacia é formada por 504 municípios, desde Minas Gerais até Alagoas, e além do seu curso d’água principal, compõe 168 rios afluentes, temporários e permanentes.

Durante a seca 2011-2017, a nascente do São Francisco secou na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Nesse período, a barragem de Sobradinho, o maior lago artificial da América Latina, construído na década de 1970, atingiu seu volume morto.

Mapeamento 

No período de 1991-2020, o estudo identificou cinco eventos de secas-relâmpago na Bacia do São Francisco, com diferentes períodos de duração. O mapeamento permitiu analisar a duração, intensidade e persistência de cada uma dessas secas extremas.

O estudo concluiu que a região centro-norte do Rio São Francisco atravessou secas-relâmpago mais frequentes e longas, nos últimos 30 anos. Já no centro-sul da Bacia, esses eventos extremos foram mais curtos e menos frequentes. Mesmo assim, um fator preocupante é que embora as secas-relâmpago tenham sido menos frequentes no centro-sul da bacia, sua intensidade e duração foram maiores do que em outras áreas.

O evento mais severo de seca-relâmpago ocorreu em 2012-2013, com duração de 21 meses, impactando intensamente todo o território da Bacia do Rio São Francisco. “Embora as condições extremas dessa seca tenham surgido de forma repentina, ela ainda não havia sido estudada como um evento extremo de seca-relâmpago. A principal característica dessa nova tipologia de seca é se intensificar rapidamente, sendo diferente das secas convencionais, que começam de forma lenta e ficam mais intensas ao longo do tempo”, explica o professor Humberto Barbosa.

Ele aponta que a degradação da vegetação e a desertificação pioram ainda mais as condições de seca na Bacia do Rio São Francisco. A redução de 15% da cobertura vegetal na Bacia, no período 2012-2020, ilustra o ritmo da degradação. Em 2023, outra pesquisa publicada pelo Laboratório Lapis/Ufal identificou que áreas severamente degradadas já influenciam na atmosfera, reduzindo a formação de nuvens de chuva nessa região.


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