A PEDIDO DA PRIMEIRA-DAMA
Obras sacras vão deixar o Palácio da Alvorada
Com a posse de Jair Bolsonaro, obras de arte com imagens sacras devem ser transferidas do Palácio da Alvorada, onde irá morar a família do presidente eleito, rumo ao Palácio do Jaburu.
Hoje, a residência oficial apresenta como parte de seu mobiliário cinco peças de simbologia católica: um par de anjos barrocos tocheiros, na biblioteca, e quatro estátuas de santos nas salas de música e de estado.
Uma das imagens é uma representação em madeira de Santa Bárbara, do século 18. O vice-presidente eleito, Hamilton Mourão, confirmou o recebimento da escultura. "Ela é, inclusive, padroeira da artilharia”, disse à Folha.
O general e sua mulher são católicos e, assim como o presidente eleito, ele estudou na Academia Militar das Agulhas Negras com especialidade em artilharia.
Antes da mudança, no próximo ano, a peça de arte passará por uma restauração. Segundo relatos feitos à Folha por três funcionários do Palácio do Planalto, a transferência ocorrerá após a futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, ter demonstrado um desejo na retirada das obras.
Ela teria perguntado se seria possível que as obras deixassem o Palácio da Alvorada. Procurada pela reportagem, a assessoria da futura primeira-dama informou que ela não tinha interesse em falar com a Folha. A mulher do presidente eleito frequenta a Igreja Batista Atitude, no Rio de Janeiro.
As denominações evangélicas não costumam adorar esculturas de santo. Para o ex-curador da Presidência da República Rogério Carvalho, a futura primeira-dama tem sido mal assessorada. Na sua avaliação, é natural que o novo presidente faça mudanças na área privativa, cujo acesso não é público.
“Mas, na parte pública, o ideal é que as peças de arte sejam mantidas para preservar a leitura histórica”, disse. Ele conta que, de acordo com relatos de antigos funcionários da Presidência da República, no passado, o presidente Ernesto Geisel, que era luterano, pediu a retirada da pintura “Orixás”, de Djanira da Motta.
A obra de arte, uma tela de grande formato de divindades do candomblé, só voltou a ser exposta nos palácios do governo anos depois, pelas mãos da ex-primeira-dama Ruth Cardoso (falecida esposa de Fernando Henrique Cardoso). A pintura, hoje exibida no segundo andar do Palácio do Planalto, também deve deixar as vistas da família de Jair Bolsonaro. A previsão é que ela seja cedida ao Masp (Museu de Arte de São Paulo) para uma exposição, a partir de fevereiro, e depois viaje pelo país. O empréstimo deve durar cerca de oito meses.