BOLSA DE VALORES

Ibovespa cai 1,40%, a 101,9 mil pontos, e cede 1,58% na semana

O dólar terminou a sessão cotada a R$ 5,2702, em alta de 0,58%
Por Estadão Conteúdo 18/03/2023 - 04:20
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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

O Ibovespa estendeu pela quarta semana a série negativa iniciada com tombo de 3,09% no intervalo entre 22 e 24 de fevereiro, que sucedeu à pausa do Carnaval. Desde então, tem acumulado apenas perdas, vindo dos 109 mil pontos na sexta-feira, 17, que antecedeu o feriado de fevereiro, há um mês Hoje, oscilou entre mínima de 101.663,65 e máxima de 103 433,65, da abertura, para fechar em baixa de 1,40%, aos 101 981,53 pontos, no menor nível de encerramento desde 27 de julho (101.437,96).

Com vencimento de opções sobre ações nesta sexta-feira, o giro financeiro foi a R$ 34,3 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa acumulou perda de 1,58%, após ceder 0,24% e 1,83% nos dois períodos anteriores. No mês, cai 2,81% e, no ano, 7,07%.

Dentre as ações de maior peso, Vale (ON +1,20%) conseguiu escapar ao tom negativo da sessão, em dia de leve recuperação (+0,44%) para os preços do minério de ferro na China (Dalian) - na semana, a ação da mineradora cedeu 0,18%. Destaque negativo mais uma vez para os grandes bancos, especialmente para a queda de 4,17% em Bradesco PN - na mínima da sessão no fechamento assim como a ON (-3,16%) -, que havia escapado de correção no dia anterior e sido um dos destaques de alta.

Na ponta perdedora do Ibovespa, Eztec (-10,73%), em reação ao balanço da noite anterior, à frente de Hapvida (-10,23%) e Cyrela (-7,47%). No lado oposto, 3R Petroleum (+16,73%), após a Petrobras ratificar a continuidade do processo de transição do Polo Potiguar, um ativo importante para a 3R. Destaque também para Ecorodovias (+8,86%) e BRF (+4,63%) nesta sexta-feira.

A Bolsa chegou ao final da semana da forma como encerrou a anterior, com investidores ainda monitorando o risco de crise de crédito que, nos últimos dias, fez emergir nomes além do SVB, como Credit Suisse e First Republic Bank. Em Nova York, as perdas no fechamento da sessão ficaram entre 0,74% (Nasdaq) e 1,19% (Dow Jones), mas tanto o índice amplo (S&P 500) como o tecnológico (Nasdaq) conseguiram avançar na semana, em alta respectivamente de 1,43% e 4,41%.

Hoje, a Fitch manteve a observação negativa do rating de crédito do First Republic Bank, mesmo após o socorro de US$ 30 bilhões de 11 grandes instituições financeiras ao banco. Segundo a agência, a franquia e o perfil de liquidez da empresa continuam "significativamente enfraquecidos".

"O dia começou de forma até positiva, mas lá fora o pedido de recuperação judicial da controladora do Silicon Valley Bank (SVB) acentuou o movimento de queda, agravando a percepção quanto à crise do setor de crédito no exterior", diz Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos, destacando também a leitura bem abaixo do esperado para o índice de confiança do consumidor nos EUA, da Universidade de Michigan. "Dificuldades em bancos costumam anteceder períodos de recessão forte nos Estados Unidos. Sobe a pressão sobre o Fed quanto aos juros."

"O cenário global está bem sensível aos sinais de pré-colapso em uma parte do sistema bancário, o que afetou o desempenho das ações do segmento também na B3", diz Alex Carvalho, analista da CM Capital. Na semana, as perdas nas ações de grandes bancos ficaram entre 1,35% (Bradesco ON) e 3,72% (Unit do Santander Brasil). O tombo de cerca de 12% acumulado pelo barril do Brent no intervalo, em meio a temores sobre o efeito do aperto de crédito no ritmo de crescimento mundial, resultou em recuos mais acentuados, de 5,88% e 7,18%, respectivamente, para as ações PN e ON da Petrobras na semana - hoje, PN subiu 1,07%, na máxima do dia no fechamento, e ON avançou 0,42%, após terem passado boa parte da sessão em baixa.

No Brasil, "o mercado está bastante indeciso em relação ao futuro dos juros", diz Acilio Marinello, coordenador do MBA Executivo em Digital Finance da Trevisan Escola de Negócios. Para a reunião do Copom na próxima quarta-feira, mesmo dia em que o comitê do Fed voltará a deliberar sobre os juros americanos, a tendência é de que a Selic seja mantida em 13,75% ao ano. "O consenso é de que redução não deve ocorrer antes do segundo trimestre", aponta Marinello, acrescentando que a atenção do mercado estará concentrada na "sinalização" do BC, especialmente se o novo arcabouço fiscal, como tudo indica, for anunciado até lá.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje que a decisão sobre o momento de divulgar o arcabouço cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele que decide agora" afirmou, ao ser questionado sobre a possibilidade de ser anunciado ainda nesta sexta-feira. Sobre eventuais mudanças na proposta elaborada pela equipe econômica, o ministro afirmou também que a decisão é do presidente. "Decisão é dele. Fazenda cumpriu seu cronograma, vamos entregar ao presidente os cenários e ele encaminha", afirmou a jornalistas.

O Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira mostra que para 50% dos participantes a próxima semana será de ganhos para o Ibovespa, enquanto 33,33% esperam perda. Para 16,67%, o período entre 20 e 24 de março será de variação neutra. Na pesquisa anterior, para 37,50% a atual semana seria de ganhos; para 50,00%, de estabilidade; e para 12,50%, de queda.

Dólar


Após recuo de 1,03% ontem, o dólar voltou a subir no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira, 17, em meio a aumento da aversão a risco no exterior com temores de crise no sistema financeiro americano e europeu. Com máxima a R$ 5,2850, a moeda terminou a sessão cotada a R$ 5,2702, em alta de 0,58%, encerrando a semana com valorização de 1,19%.

Informações de forte aumento de busca de instituições por linhas de redesconto do Federal Reserve nos últimos dias e o pedido de recuperação judicial do SVB Financial Group, controlador do Silicon Valley Bank (SVB), acenderam o sinal de alerta entre investidores, que ontem haviam comemorado o socorro de US$ 30 bilhões de 11 bancos americanos ao First Republic Bank. Ainda pairam dúvidas sobre a sustentabilidade do Credit Suisse, a despeito de a instituição ter conseguido linha de crédito de mais de US$ 50 bilhões do Banco Central suíço.

Lá fora, o dólar caiu em relação a divisas fortes e moedas de países exportadores de commodities desenvolvidos, mas subiu na comparação com moedas emergentes, em especial latino-americanas, movimento do qual o real não escapou. Como em episódios de estresse ao longo da semana, as maiores perdas ficaram por conta do peso mexicano. As cotações do petróleo voltaram a recuar, com tipo Brent para maio fechando em queda de 2,31%, a US$ 72,97 o barril.

"Ainda que medidas tenham sido tomadas em ambos os casos, permanece um significativo risk-off já que persiste a incerteza em relação aos desdobramentos da crise nos bancos médios nos EUA e no Credit Suisse", afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, acrescentando que a China também agiu para dar suporte à liquidez bancária com corte de 25 pontos-base em sua taxa de compulsório. "A decisão veio após 'hard datas' chineses indicarem uma retomada menos pujante que a esperada. Esse conjunto de fatores penalizou as moedas de países emergentes e tende a continuar mantendo a aversão ao risco elevada".

No mercado de renda fixa, a taxa do Treasury de 2 anos, mais ligada à perspectiva para o rumo da taxa básica americana, caiu quase dois dígitos e voltou a operar abaixo da linha de 4,00%. Parte do mercado especula que o Fed possa optar, na próxima quarta-feira, 22, por manter os Fed Funds inalterados, em vez de elevá-los em 25 pontos-base.

O economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, observa que os pequenos bancos americanos, quando olhados em conjunto, têm um peso relevante e superam as grandes instituições no segmento imobiliário comercial americano. "O difícil 'trade-off' que os EUA enfrentam é entre proteger os depositantes não segurados em pequenos bancos versus uma crise de crédito pontualmente profunda", afirma Brooks, no Twitter.

Apesar do escorregão com a crise externa, analistas destacam que o real parece, por hora, bem ancorado, dado que a moeda brasileira sofreu menos que seus pares. Embora tenha atingido máxima a R$ 5,3288 na quarta-feira, 15, o dólar respeitou o teto de R$ 5,30 no fechamento. As taxas reais domésticas elevadas, mesmo com eventual redução da taxa Selic nos próximos meses, e certo otimismo com a possibilidade de anúncio do novo arcabouço fiscal estariam dando suporte ao real.

"A semana foi contaminada pelas preocupações com possível crise financeira depois dos problemas de liquidez dos bancos americanos. Mas o real até que se comportou bem. Temos ainda um patamar de juro elevado que estimula o carry trade e vejo possibilidade de o dólar se acomodar mais perto de R$ 5,15", afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha.

Uma ala do mercado alimenta expectativas que a proposta seja divulgada antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira à noite, o poderia abrir espaço, ao lado da piora das condições de crédito, para o colegiado do BC sinalizar possível redução da taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano, ainda no primeiro semestre.

Juros


O mercado de juros esteve por mais uma sessão a reboque do ambiente externo, que se sobrepôs no período da tarde para colocar as taxas em queda junto com os yields dos Treasuries e o novo recuo dos preços do petróleo. Os temores sobre uma crise no sistema financeiro, com novos problemas nos EUA, voltaram a pesar sobre os ativos, às vésperas de decisões de política monetária tanto lá quanto aqui.

Internamente, a expectativa pela apresentação do arcabouço fiscal cresceu nesta sexta-feira em que a proposta foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No acumulado da semana, houve perda de prêmio em todos os contratos, mais acentuada nos vértices intermediários, justamente os que refletem a perspectiva para o novo ciclo de política monetária. O mercado ampliou a probabilidade de que comece em maio, com a curva apontando 40% chance de queda de 0,25 ponto porcentual na atual Selic de 13,75%.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 12,97%, de 13,035% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,182% para 12,075%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 12,485%, de 12,593% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2029, em 12,940%, de 13,033%.

Após percorrerem a manhã oscilando ao redor dos ajustes, sem direção firme, os juros engrenaram movimento de queda na jornada vespertina, na medida em que crescia o temor de que as questões de liquidez que ainda estão, por ora restrita, a poucas instituições se espalhe pelo sistema bancário.

A controladora do falido SVB, a SVB Financial, entrou com pedido de recuperação judicial após a quebra do banco, na semana passada. Ainda, o acesso à linha de empréstimos da chamada janela de redesconto disparou a US$ 152,9 bilhões, recorde histórico e que supera o pico de US$ 111 bilhões registrado durante a crise financeira de 2008.

Como o risco de um "credit crunch" pressionaria os bancos centrais a adotarem uma postura mais dovish, a curva dos Treasuries afundou, principalmente o juro da T-Notes de 2 anos, que chegou a rodar abaixo de 3,80% nas mínimas do dia. O da T-Note de dez anos também caiu de forma expressiva, abaixo de 3,40% no fim da tarde. 

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