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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Mesmo em leve ajuste negativo nas duas últimas sessões do intervalo, o Ibovespa encerrou a semana com ganho de 5,41%, em seu melhor desempenho desde a que antecedeu o Natal, entre 19 e 23 de dezembro, quando avançou 6,65%. Hoje, a referência da B3 fechou em baixa de 0,17%, aos 106.279,37 pontos, entre mínima de 104.934,09 e máxima de 106.700,62, com abertura aos 106.457,58 pontos. Fraco, o giro ficou em R$ 21,4 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa sobe 4,32%, reduzindo as perdas do ano a 3,15%.
O ganho semanal sucede perda de 1,04% na anterior. Assim, nas últimas três semanas, o Ibovespa conseguiu avançar em duas, considerando a que ora chega ao fim, mostrando melhora em relação a uma sequência de cinco perdas semanais, iniciada ainda em fevereiro e que se estendeu à penúltima semana de março.
Em Nova York, os índices de ações também pisaram no freio nesta sexta-feira, embora reduzindo perdas perto do fechamento, em especial o Nasdaq (-0,35%), que havia subido quase 2% ontem. Prevaleceu, na sessão, certa moderação do entusiasmo recente em torno da perspectiva para os juros americanos. Declarações de autoridades do Federal Reserve e dados mistos sobre o varejo e a produção industrial nos Estados Unidos, divulgados nesta sexta-feira, sugerem que a opção do Fed tende a ser, mesmo, de aumento de 25 pontos-base na taxa de juros na próxima reunião, em maio.
Ontem, "o PPI (índice de preços ao produtor) americano, abaixo do esperado, tinha tracionado as bolsas globais, com as curvas de juros cedendo", diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos, referindo-se ao efeito da melhora nos indicadores de inflação sobre a perspectiva para os juros americanos. Para a B3, o grande destaque da semana foi a leitura do IPCA de março, abaixo do teto da meta oficial no acumulado em 12 meses, o que não ocorria havia alguns anos. "Hoje, a Bolsa brasileira ficou mais perto do zero a zero, em calmaria natural: uma ressaquinha após alta forte (na semana)", acrescenta.
A agenda doméstica reservou para esta sexta-feira a divulgação de dados do IBGE sobre o setor de serviços. "O volume de vendas no setor caiu 3,1% em janeiro, na série com ajustes sazonais, e veio abaixo da expectativa do mercado. O índice acumula uma alta de 6,1% na comparação com o mesmo período do ano passado e de 8,0% nos últimos 12 meses", observa em nota Rafael Perez, economista da Suno Research.
"O resultado no mês elimina a forte expansão verificada em dezembro do ano passado quando houve um crescimento de 3,1%. O segmento encontrava-se em máximas históricas, o que acabou influenciando o dado do mês por conta da base de comparação elevada", acrescenta.
Na B3, em dia também marcado pelo início da temporada de balanços do primeiro trimestre nos Estados Unidos, as ações do setor financeiro deram algum suporte ao Ibovespa, que chegou a neutralizar a perda diária na máxima da sessão. Os resultados dos bancos americanos ganharam ainda mais relevância após as turbulências recentes no mercado de crédito do país, em março, com as dificuldades vistas em instituições regionais, de menor porte.
"Alguns números (divulgados hoje pelos bancos americanos) vieram bem fortes, acima até do que se esperava, num momento em que o mercado se posicionava para o fim do ciclo de aumento de juros pelo Fed, movimento que tinha ganhado força com o PPI desta semana", diz Eduardo Teles, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos. Por outro lado, ele menciona os temores em torno de uma possível recessão nos Estados Unidos, o que afetaria outras economias e os mercados globais.
Aqui, a alta no setor financeiro nesta sexta-feira foi liderada pelas ações de Itaú (PN +1,44%), Santander (Unit +1,13%) e Banco do Brasil (ON +1,71%), com Bradesco (ON +0,08%, PN -0,14%) na contracorrente no fechamento. Outro carro-chefe do Ibovespa, Petrobras encerrou o dia no positivo (ON +1,50%, PN +1,04%), em contraponto à perda de 0,88% em Vale ON. O dia foi misto para outros nomes do setor metálico, com CSN em queda aguda (ON -7,35%) e Gerdau (PN) em alta de 0,81% no encerramento.
O Goldman Sachs rebaixou a recomendação da CSN, de neutra para venda, e reduziu o preço-alvo em 22%, para R$ 12,50. O novo valor representa potencial queda de 20% em relação ao fechamento anterior. A expectativa do banco é de que os ganhos e a geração de fluxo de caixa livre da companhia atinjam o pico no segundo trimestre de 2023 e sejam seguidos por ventos contrários. Entre eles, aumento de Capex, queda dos lucros e alavancagem elevada, em um ambiente de alta taxa de juros.
Por sua vez, o UBS BB elevou a recomendação da Braskem, de neutra para compra, mencionando que as ações da companhia estão bastante descontadas. Já o preço-alvo foi mantido em R$ 26,00, o que representa um potencial de valorização de 27,7% sobre o fechamento anterior, quando o papel era cotado a R$ 20,36.
Ambas as recomendações tiveram peso na definição dos ponteiros da sessão desta sexta-feira, com Braskem entre as líderes de ganhos (+2,16%) na sessão, logo após Cielo (+2,83%) e Locaweb (+2,27%), e a CSN no lado contrário (-7,35%), à frente de Rede D'Or (-6,02%) e Alpargatas (-5,13%).
No campo positivo nesta sexta-feira, destaque também para as ações da B3 (+1,96%), que recebeu autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para comprar, por R$ 1,142 bilhão, a Neurotech Tecnologia da Informação, empresa especializada na criação de sistemas e soluções de inteligência artificial, machine learning e big data.
O Termômetro Broadcast Bolsa não trouxe mudanças na percepção do mercado para as ações no curtíssimo prazo, em comparação aos resultados apurados na pesquisa anterior. Entre os participantes, a expectativa de alta para o Ibovespa na próxima semana continua com fatia de 62,50% e a de estabilidade, em 25,00%. Os que preveem queda são 12,50%, mesmo porcentual do último Termômetro.
Juros
Os juros futuros subiram ao longo de toda a estrutura a termo, hoje especialmente nos vértices intermediários, em movimento de realização de lucros após as quedas recentes. A correção se deu em meio à piora da percepção sobre a política monetária nos Estados Unidos que também pressionou para cima os retornos dos Treasuries, apoiada por indicadores, especialmente de inflação, e falas de dirigentes do Federal Reserve. A virada do dólar para a queda no meio da tarde não foi capaz de aliviar as taxas, que, no entanto, devolveram prêmios na semana em relação aos ajustes da quinta-feira da semana passada.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,19%, de 13,15% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 avançou de 11,77% para 11,87%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de uuu% (11,64% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 encerrou em 12,05%, de 12,01%. Na semana, a ponta curta caiu 4 pontos, enquanto os longos fecharam 30 pontos.
O exterior foi o principal vetor a conduzir os negócios no mercado de juros. O destaque local, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), mais fraca que o esperado, teve efeito pontual de baixa sobre as taxas no começo do dia. Depois acabou ficando em segundo plano, ofuscada por dados da economia americana divulgados ao longo da manhã, seguidos por declarações "hawkish" de dirigentes do Federal Reserve, que impulsionaram as chances de em alta de juro pelo Fed no encontro de maio para mais de 80% no termômetro das apostas do CME Group. O diretor do Fed Christopher Waller afirmou que a política monetária precisará continuar apertada por um período considerável - e por mais tempo que os mercados antecipam.
Os juros dos Treasuries avançaram, com o yield da T-Note de 10 anos novamente acima de 3,50% e o de 2 anos, acima de 4%. Esse impulso preponderou sobre as taxas domésticas, mesmo quando o dólar voltou a cair no meio da tarde, para fechar em R$ 4,9151.
O economista da BlueLine Asset Flávio Serrano explica que havia espaço para correção na curva da B3. "Tivemos um fechamento forte das taxas ao longo da semana com um noticiário mais animador sobre o arcabouço fiscal e melhora dos indicadores de inflação nos Estados Unidos e no Brasil", lembrou. Além disso, tem havido contribuição favorável do câmbio, sobretudo como amortecedor da pressão altista vinda do petróleo na inflação.
As declarações dos diretores do Banco Central Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais) e Diogo Guillen (Política Econômica), ontem a investidores em Washington, onde estão para participar da Reunião de Primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, foram monitoradas, mas sem impacto relevante sobre a curva. Ambos mantiveram a linha da comunicação recente da autoridade monetária. Guillen disse que é preciso observar uma queda mais contundente dos núcleos de inflação e da inflação de serviços. Guardado reconheceu que houve alguma melhora recente, mas que as estimativas para a inflação permanecem "em níveis muito altos".
*(Com Elisa Calmon, Jorge Barbosa e Juliana Garçon)
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