BOLSA DE VALORES

Ibovespa sobe 1,01%, aos 107,1 mil pontos, no maior nível desde fevereiro

Dólar à vista encerrou sessão em baixa de 0,48%, cotado a R$ 4,9875
Por Estadão Conteúdo 10/05/2023 - 04:20
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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

Mesmo com os juros domésticos longos sob pressão como ontem, e o prosseguimento da cautela externa quanto ao teto da dívida americana e os sinais negativos em torno dos bancos regionais, na véspera de nova leitura sobre a inflação nos Estados Unidos, o Ibovespa se manteve descolado de Nova York nesta terça-feira, emendando o quarto ganho diário: mais longa sequência de recuperação desde os cinco avanços entre os dias 24 e 30 de março. No último dia 3, o índice fechou aos 101,8 mil pontos e, desde então, a retomada chega a 5,3 mil pontos neste começo de maio.

Hoje, a referência da B3 oscilou entre 105.549,08 e 107.731,10 (+1,59%) para fechar em alta de 1,01%, aos 107.113,66 pontos, no maior nível desde 23 de fevereiro, então aos 107.592,87. Enfraquecido em relação às duas sessões anteriores, em que havia se reaproximado do limiar de R$ 30 bilhões, o giro financeiro ficou em R$ 21,9 bilhões nesta terça-feira. Na semana, o Ibovespa sobe 1,87% e, no mês, 2,57%, limitando as perdas no ano a 2,39%. Em Nova York, os principais índices de ações fecharam o dia em baixa entre 0,17% (Dow Jones) e 0,63% (Nasdaq) na sessão

"O índice deu prosseguimento ao movimento do dia anterior, mesmo sem apoio de Nova York e dos juros futuros, com retomada das ações de bancos e também de commodities - em que a China, apesar dos dados mistos sobre o comércio exterior, tem mostrado em geral nível de atividade melhor do que as demais economias, que têm piorado na margem", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Assim, como na segunda-feira, os segmentos mais líquidos e de maior peso no índice avançaram, e mesmo as utilities, que ontem haviam operado na contramão do Ibovespa, subiram hoje, com Eletrobras à frente (ON +4,13%, PNB +3,82%), mais do que recuperando as perdas da elétrica no dia anterior. Na ponta ganhadora do índice na sessão, ações do setor de consumo, como Natura (+15,08%), Magazine Luiza (+6,98%), Via (+5,05%) e Renner (+4,17%), além de IRB (+5,50%). No lado oposto, Raízen (-3,93%), Yduqs (-2,95%), TIM (-2,86%) e Hapvida (-1,37%).

Entre as blue chips, Petrobras (ON +0,77%, PN +0,33%) e Vale (ON +1,03%) mostraram hoje ganhos mais modestos, o que restringiu o dinamismo do Ibovespa ao longo da tarde. Algumas ações de bancos, por sua vez, acabaram fechando o dia em baixa, como PN de Bradesco (-0,98%) e BB ON (-0,30%).

Destaque da agenda doméstica, a ata do Copom, divulgada pela manhã, corroborou a impressão conservadora deixada no comunicado emitido pelo colegiado na noite de quarta-feira passada, quando, conforme esperado, manteve a Selic em 13,75%, sem sinais de flexibilização da taxa de juros, no curto prazo. A ata chega no dia seguinte à confirmação de que o secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, é o escolhido do governo para ocupar a diretoria de Política Monetária do Banco Central, em aberto desde o fim de fevereiro.

"A ata veio igual ao comunicado, sem novidades, com uma linguagem mais 'light' quanto a elevar juros, mas sem sinalização alguma quanto a corte para a reunião de junho. No segundo semestre, com as expectativas de inflação parando de crescer e caindo um pouco mais, quem sabe podem vir, a partir de agosto, pequenos cortes de 25 pontos-base, considerando o horizonte relevante, de 18 meses, usado pelo Banco Central com relação à meta de inflação", diz Igor Barenboim, sócio e economista-chefe da Reach Capital.

"Galípolo é um cara articulado e capaz de construir consensos, conhecedor do sistema financeiro, o que pode contribuir para que se comece a cortar a Selic em 25 pontos-base em agosto - quando certamente estará nomeado -, chegando ao fim do ano a 12,75%, de 25 pontos em 25 pontos até lá", acrescenta o economista, para quem a escolha retira um pouco do "risco de cauda".

"É um nome alinhado ao governo, mas foi presidente de banco - um nome bom dentro do universo possível. E quando sentar na cadeira, não será o Galípolo do PT, amigo do Lula. O BC tem institucionalidade: ele precisará envolver o corpo técnico e construir consensos. Terá responsabilidades, sem estripulias", acrescenta.

Dólar


O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 9, em baixa de 0,48%, cotado a R$ 4,9875, devolvendo parte da alta de 1,37% no pregão de ontem, na esteira da confirmação do nome do secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a diretoria de Política Monetária do Banco Central. Pela manhã, a divisa chegou até a esboçar um avanço pontual, atingindo máxima a R$ 5,0375, mas não se sustentou muito tempo em terreno positivo e, com renovação sucessiva de mínimas no início da tarde, desceu até R$ 4,9735.

Operadores atribuíram a recuperação do real a ajustes de posições e movimento de realização de lucros no mercado futuro de câmbio. O tom duro da ata do Copom, que afasta a perspectiva de redução de juros já na virada do semestre, fluxo financeiro para a bolsa e internalização de recursos por exportadores teriam contribuído para segurar o dólar no mercado doméstico.

No exterior, a moeda americana subiu em relação ao euro e à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, em dia de baixo apetite ao risco diante de preocupações com o setor bancário americano e resultado abaixo do esperado da balança comercial chinesa. Pares do real, como o peso mexicano e, em especial, o peso chileno, contudo, foram na contramão e ganharam força em relação ao dólar.

"O real se desvalorizou muito ontem com a indicação de Galípolo aumentando o temor de pressão sobre o Banco Central e hoje está devolvendo um pouco com a ata do Copom sinalizando que não vai ter redução de juros tão cedo", afirma o sócio da Nexgen Capital Felipe Izac, para quem Galípolo é um nome "técnico" e com boa passagem no mercado financeiro, mas está identificado com as ideias do governo sobre a política monetária. "Além do ajuste de ontem, vi um movimento forte de entrada de capital, com diversas empresas exportadoras colocando ordens depois que o dólar bateu máxima".

À tarde, Galípolo fez seu primeiro pronunciamento após ser indicado ao BC e concedeu entrevista. Ele se esquivou de comentar a ata do Copom, algo que julgou inadequado antes de ser sabatinado pelo Senado. O secretário-executivo da Fazenda disse que mantém uma boa relação com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e que recebeu de Haddad a missão de evitar que as políticas monetárias e fiscal sigam caminhos distintos

A ata do Copom manteve o tom do comunicado da semana passada, quando o colegiado do BC decidiu manter a taxa Selic em 13,75%. O cenário de retomada do ciclo de alta de juros passou a ser "menos provável", mas as expectativas de inflação seguem desancoradas. A reoneração dos combustíveis e apresentação da proposta de arcabouço fiscal "reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal", embora ainda seja preciso esperar o desenho final "a ser aprovado pelo Congresso".

O relator do projeto do novo arcabouço, deputado Cláudio Cajado (PP-BA) disse hoje que deve entregar o relatório até quinta-feira, 11. Parlamentares ouvidos pelo Broadcast Político disseram, contudo, que a entrega do texto vai ser adiada para a semana que vem.

"Parece que o texto do arcabouço vai ser finalmente entregue e deve ser aprovado. Temos bolsa barata em dólar e taxa de juros muito atraente que atraem capital, o que favorece a queda do dólar. Além disso, o fluxo comercial segue forte", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, que vê a taxa de câmbio oscilando em uma banda entre R$ 4,90 e R$ 5,10 no curto prazo.

Juros


As taxas dos contratos de juros futuros avançaram levemente na sessão desta terça-feira, 9, puxadas inicialmente pelo tom hawkish da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio. Durante a tarde, declarações do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, indicado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central, acentuaram a tendência de alta, embora tenham sido lidas pelo mercado como melhores do que o previsto. A curva, contudo, apresentou leve desinclinação.

Na comparação com o ajuste de segunda-feira, 8, o contrato de DI para janeiro de 2024 avançou de 13,207% para 13,240%, mesmo movimento visto nos vencimentos para janeiro de 2025 (11,665% para 11,795%), 2027 (11,550% para 11,655%) e 2029 (11,951% para 12,050%). O spread entre os contratos para janeiro de 2025 e janeiro de 2029 ficou em 25,5 pontos-base, pouco abaixo do observado na comparação entre os ajustes anteriores (28,6 pontos).

Os primeiros pronunciamentos públicos de Galípolo após a confirmação da sua indicação para o BC foram o destaque da etapa vespertina. Em entrevista coletiva a jornalistas por volta de 15h, o secretário-executivo da Fazenda reforçou seu alinhamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Fernando Haddad, mas garantiu ter boa relação com o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, e prometeu que terá uma conversa "educada e cordial" dentro da autarquia.

Pouco depois, em entrevista à CNN Brasil, Galípolo repetiu ter bom trato com Campos Neto e os demais membros do Copom e se comprometeu a tentar facilitar a relação entre a Fazenda e a autoridade monetária, que tem sido alvo de críticas do governo por manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. "A minha missão no Banco Central é de ser facilitador de convergência entre o BC e a Fazenda", afirmou.

"Até achei que a curva podia inclinar um pouco mais, porque a nomeação de Galípolo e as declarações poderiam ter tido um tom mais bélico, de forçar o corte de juros, e o fato de ele ter vindo com um discurso mais ameno foi positivo. Por isso, a curva reagiu aumentando o nível, e não inclinando", avalia o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Xavier Andrade. "As últimas falas colocam um tom para o curto prazo de que ele não necessariamente vai interferir tanto na política monetária."

A ata do Copom de maio também ajudou a sustentar o aumento dos contratos de DI, após o BC reiterar a mensagem de "paciência e serenidade" na condução da política monetária e repetir que vai perseverar na sua estratégia até que as expectativas do mercado convirjam às metas e o processo de desinflação se consolide. Para analistas, o tom do documento mostrou que a autoridade monetária não vislumbra espaço para cortes dos juros nos próximos meses.

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