BOLSA DE VALORES

Ibovespa emenda 5º ganho e sobe 0,31%

Dólar cai 0,75% e fecha abaixo de R$ 4,95 com exterior
Por Estadão Conteúdo 11/05/2023 - 04:30
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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

O Ibovespa resistiu em terreno positivo pela quinta sessão seguida, igualando série entre 24 e 30 de março, quando saiu de 97,9 mil, no encerramento do dia 23, para os 103,7 mil pontos. Agora, tenta se consolidar em patamar mais alto, aos 107 mil, reconquistado ontem em fechamento pela primeira vez desde 23 de fevereiro - e preservado hoje mais uma vez sem a contribuição de Nova York, que operou com viés indefinido, tendendo ao negativo em boa parte da sessão.

Por lá, persiste cautela quanto à elevação do teto da dívida pública, ainda não decidida. Assim, o sinal no fechamento foi misto em Nova York (Dow Jones -0,09%, S&P 500 +0,45% e Nasdaq +1,04%), em sessão na qual a atenção também esteve concentrada, pela manhã, na leitura sobre a inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em abril. O dado trouxe desaceleração no mês, o que ajuda pelo lado dos juros deliberados pelo Federal Reserve, mas traz incerteza quanto ao ritmo de atividade na maior economia, ainda sob risco de recessão na visão do mercado, aponta Judah Nunes, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos.

Conforme observa Antonio Sanches, analista da Rico Investimentos, a inflação acumulada ficou abaixo de 5% ao ano pela primeira vez em dois anos. "No entanto, continua forte e historicamente alta. O resultado de abril demonstrou que os preços mensais ao consumidor nos EUA ainda estão subindo, com destaque para o setor de serviços, especialmente aluguéis", ressalva o analista.

Aqui, mais acomodado, o índice de referência da B3 subiu hoje 0,31%, aos 107.448,21 pontos, ainda no maior patamar de encerramento desde 23 de fevereiro (107.592,87), operando nesta quarta-feira entre mínima de 106.538,01 e máxima de 107.744,37, maior nível intradia desde 12 de abril (108.277,02). Como ontem, o giro financeiro voltou a se enfraquecer, a R$ 22,0 bilhões, após a reaproximação do limiar de R$ 30 bilhões vista na última sexta e na segunda-feira. Na semana, o Ibovespa sobe 2,19% e, no mês, 2,89%, limitando a perda do ano a 2,08%.

"Boa notícia o Ibovespa estar sustentando recuperação, o que mostra uma melhora da percepção sobre o cenário macro: nos últimos meses, quando subia, a devolução vinha rápido. Muita coisa já foi para o preço dos ativos e, é provável, o pior parece ter ficado para trás. Com o arcabouço fiscal avançando em plenário, de preferência com algumas alterações corretivas que possam aprimorá-lo, o caminho vai se abrindo para juros mais baixos", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos.

"O noticiário político também tem melhorado, com declarações dadas por Arthur Lira presidente da Câmara defendendo aperfeiçoamento no arcabouço fiscal, no qual o não cumprimento da meta traga, de fato, consequências mais pesadas", observa Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research.

"Investidores seguem atentos a essa questão, dado que um arcabouço crível pode contribuir para a redução do risco fiscal, aumentando a confiança dos agentes econômicos na sustentabilidade das contas públicas, com efeito para os juros, bolsa, câmbio e a economia como um todo", diz Antonio Sanches, da Rico.

Na B3, a sessão foi negativa para as ações do setor metálico, em nomes como Vale (ON -1,88%) e Gerdau (PN -3,14%), que ainda acumulam perdas no mês (-4,20% e -3,22%, respectivamente), mas a resiliência mostrada em boa parte da sessão por Petrobras em dia negativo para a commodity - ainda que enfraquecida no fim do dia (ON +0,18%, PN -0,24%) - contribuiu para o Ibovespa, assim como o desempenho dos bancos, com Itaú (PN +1,47%), Santander (Unit +1,31%) e BB (ON +1,30%) à frente.

Na ponta do Ibovespa, destaque nesta quarta-feira para Yduqs, que saltou 23,80%, com balanço acima do esperado para o primeiro trimestre, em que o destaque foi a redução da dívida líquida, o que abre caminho para um ano sólido para a empresa, na avaliação do Bank of America. O desempenho de Yduqs puxou o de outra empresa do segmento de educação, Cogna, em alta de 6,98% no fechamento, em sessão positiva também para MRV (+6,54%), do setor de construção. No canto oposto do Ibovespa, Cielo (-3,50%), Gerdau (-3,14%) e JBS (-2,75%).

"Ativos cíclicos e que tinham caído muito nos últimos meses continuaram, hoje, em recuperação, com destaque para o setor educacional", diz Matheus Sanches, da Ticker Research. "Caso a perspectiva de queda de juros e de avanço de reformas se materialize, setores como tecnologia, varejo e construção civil devem continuar subindo nas próximas semanas, inclusive apoiados por dados econômicos acima das expectativas aqui no Brasil, como, por exemplo, o número de produção industrial divulgado hoje pela manhã."

Dólar


O dólar emendou nesta quarta-feira, 10, o segundo pregão consecutivo de queda no mercado doméstico de câmbio, em dia marcado por sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior. Leitura do índice de inflação ao consumidor nos EUA em abril não apenas reforçou a perspectiva de pausa no aperto monetário pelo Federal Reserve em junho como alimentou apostas em cortes da taxa americana a partir de setembro.

Afora uma alta muito limitada e pontual nos primeiros minutos de negócios, quando registrou máxima a R$ 4,9901 (+0,05%), o dólar operou em baixa firme ao longo do pregão. Com mínima a R$ 4,9391 (-0,97%), a moeda fechou em queda de 0,75%, cotada a R$ 4,9499. Apesar de dois recuos seguidos, a divisa ainda acumula leve valorização na semana (+0,13%), em razão do avanço de 1,37% na segunda-feira.

Nos EUA, os números do CPI e de seu núcleo - que exclui itens voláteis como alimentos e energia - vieram em linha com o esperado por analistas em abril. Na comparação anual, o índice subiu 4,9%, enquanto a expectativa era de 5%. Já o núcleo do CPI marcou alta de 5,5%, de acordo com o consenso do mercado e com leve desaceleração na comparação com março (5,6%).

"Parte do movimento do dólar aqui é por fator externo. A leitura de inflação esta corroborando a narrativa de pausa do Fed na alta de juros. Outras moedas emergentes também estão se apreciando frente ao dólar", afirma o economista Rafael Rondinelli, do banco Modal, que vê espaço para uma rodada de queda da taxa de câmbio.

Segundo Rondinelli, o real tende a ser favorecido pelos superávits comerciais elevados, em especial com exportações de soja e minério de ferro, e a manutenção de um diferencial de juros interno e externo ainda elevado nos próximos meses, o que estimula as operações de "carry trade". O economista do Modal ressalta que o real apresenta um desempenho abaixo de seus pares nos últimos anos, em razão de prêmios de risco associados à turbulência política e a incertezas em relação às contas públicas.

"A redução da incerteza no cenário fiscal com o novo arcabouço, ainda que não tão forte quanto o desejado pelo mercado, pode abrir espaço para maior apreciação do real", diz Rondinelli, que mantém ainda projeção de dólar a R$ 5,25 no fim do ano, mas com viés para baixo. "Provavelmente, o Banco Central terá espaço para reduzir juros antes do Fed, o que vai diminuir o diferencial de juros e o câmbio pode voltar um pouco".

Em entrevista à BandNews quando o mercado de câmbio spot já estava fechado, o secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, indicado pelo governo Lula à diretoria de Política Monetária do Banco Central, disse que não faz projeções sobre a política monetária, mas pontuou que a curva de juros futuros local já mostra que pode haver cortes da Selic no segundo semestre.

Pela manhã, o relator do projeto do novo arcabouço fiscal, deputado Claudio Cajado (PP-BA), disse, em entrevista à Globo News, que o texto está concluído e aguarda apenas o retorno do governo. Há possibilidade de que o parecer seja divulgado amanhã, o que abriria possibilidade de votação na próxima semana

Juros


A curva de juros futuros achatou-se nesta quarta-feira, 10, em sessão marcada por quedas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) médios e, mais acentuadamente, longos, diante da desaceleração da inflação anual nos Estados Unidos. O índice de preços ao consumidor (CPI) menor que o esperado no acumulado de 12 meses reforçou a avaliação de que o Federal Reserve (Fed) encerrou o ciclo de aperto monetário e pode começar a cortar juros já em setembro, o que derrubou os rendimentos dos Treasuries e o dólar e favoreceu o rali das taxas domésticas.

Na comparação com o ajuste de terça-feira, 9, a maior parte dos contratos de juros futuros fechou em baixa, com quedas nos vencimentos de janeiro de 2025 (11,763% para 11,685%), 2027 (11,608% para 11,465%) e 2029 (12,019% para 11,850%). O spread entre os DIs para janeiro de 2025 e janeiro de 2029 caiu de 25,6 para 16,5 pontos-base, o menor desde a última sexta-feira (14,4 pontos). Em contrapartida, o contrato para janeiro de 2024 avançou de 13,246% para 13,265%.

O recuo dos Treasuries - de 8 a 11 pontos-base nos vencimentos de dois, cinco e dez anos até o fechamento dos DIs - balizou a queda das taxas domésticas ao longo da sessão, enquanto agentes do mercado observavam os sinais positivos da inflação americana na passagem de março para abril, tanto no CPI cheio (5,0% para 4,9%), quanto no núcleo do índice (5,6% para 5,5%). As medianas da pesquisa Projeções Broadcast indicavam taxas de 5,0% e 5,5% para as leituras, respectivamente.

Os resultados fortaleceram no mercado a avaliação de que o Fed não só encerrou o de aperto monetário nos Estados Unidos na semana passada como pode iniciar um ciclo de afrouxamento em breve. Na comparação com esta terça-feira, o monitoramento do CME Group mostra aumento na chance de manutenção dos juros americanos na faixa de 5,0% a 5,25% em junho (78,77% para 99,63%), enquanto a aposta em um corte da taxa dos Fed Funds em setembro tornou-se majoritária, com probabilidade de 80,14%.

"Sem dúvida, grande parte do rali de juros do mercado doméstico é por causa desse otimismo com a queda de juros lá fora", diz a estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira. "O mercado ficou muito otimista vendo uma desaceleração da inflação dos Estados Unidos, o que acabou fazendo não só a curva americana fechar, mas ajudou a nossa curva a fechar e levou a essa valorização de quase 1% do real."

Na última hora de negócios, os DIs chegaram a tocar as mínimas da sessão durante entrevista do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, à BandNews TV. O indicado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central sancionou as afrouxamento monetário embutidas na curva de juros, mas se recusou a fazer projeções sobre a taxa Selic, alvo de críticas do governo. "Já não fazia projeção como secretário-executivo, e muito menos como indicado", afirmou.

O mercado observou ainda a queda das commodities no exterior, em especial a baixa do petróleo, que tem potencial desinflacionário A matéria-prima foi enfraquecida diante de incertezas sobre a demanda, após aumento inesperado dos estoques nos Estados Unidos e por temores de recessão na maior economia do mundo. Houve baixa de 1,33% do barril do Brent, para US$ 76,41. O contrato é a referência de preços para a Petrobras.

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