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Dólar e Real, relação de altos e baixos
O dólar à vista subiu pela segunda sessão consecutiva nesta terça-feira, 30, e se firmou acima da linha de R$ 5,00, em dia marcado por tombo das commodities e fortalecimento da moeda americana em relação à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de matéria-prima. Pesam sobre essas moedas a crescente perspectiva de aumento de juros Estados Unidos em junho e sinais de perda de fôlego da China.
Ao ambiente externo desfavorável soma-se a possibilidade cada vez mais forte de início de ciclo de corte da taxa Selic, reforçada pela deflação do IGP-M de maio, divulgado pela manhã, e por declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com visão mais otimista sobre o cenário inflacionário A combinação de taxas em níveis mais altos nos EUA com cortes da Selic reduz o diferencial de juros interno e externo. Investidores ajustam posições e aproveitam para embolsar lucros com venda de moedas latino-americanas de países com juros altos e ganhos em 2023, caso do real, que hoje amargou o pior desempenho entre pares.
Tirando uma queda pontual e bem limitada na abertura, o dólar operou em terreno positivo ao longo de todo o dia. Com máxima a R$ 5,0694 (+0,60%), no início da tarde, a moeda encerrou a sessão em alta de 0,60%, cotada a R$ 5,0423 - maior valor de fechamento desde 2 de maio. No mês, a divisa acumula valorização de 1,10%, o que reduz as perdas no ano para 4,50%.
"Essa alta aqui parece um movimento normal, com avanço do dólar contra outras moedas. Commodities como trigo, milho, soja estão caindo e o petróleo perdendo bastante. Não vejo fatores internos para alta do dólar", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando que real tem "andando junto" com outras divisas nos últimos dias.
Em artigo para o Broadcast publicado nesta terça-feira, o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, lembra que, historicamente, as duas variáveis mais importantes para o comportamento do câmbio são o diferencial de juros e os preços de commodities. Por sorte, escreve Padovani, a "direção das duas principais variáveis explicativas é mais clara hoje".
Ele observa que a tendência é de queda do diferencial de juros, uma vez que, mesmo que o Fed não dê continuidade ao processo de alta de juros, o Banco Central deve começar a reduzir a taxa Selic no segundo semestre. "Acompanhando a alta de juros nos Estados Unidos, os preços de commodities também mostraram reversão a partir do segundo trimestre do ano passado e, com a desaceleração global em curso, dificilmente irão mudar de tendência", afirma Padovani.
Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em leve baixa ao longo do dia, mas ainda acima da linha dos 104 mil pontos e no maior nível desde meados de março. As taxas dos Treasuries caíram em bloco sob pressão da demanda, o que sinaliza busca por proteção. Há ainda certo receio com a tramitação do projeto de lei que aumenta o teto da dívida dos EUA no Congresso americano.
As cotações do petróleo recuaram mais de 4%, com o contrato do Brent para agosto fechando em baixa de 4,40%, a US$ 73,71 o barril, em meio a rumores de que pode haver mudança no corte de produção na reunião da Opep+ na próxima semana diante de dúvidas sobre a demanda global. Líder do cartel, a Arábia Saudita fez críticas à Rússia por não cumprir integralmente a promessa de limitar a produção.
Ibovespa
Nesta penúltima sessão de maio, em que o petróleo cedeu mais de 4%, a aversão a risco desde o exterior resultou em realização de lucros um pouco mais forte na B3, em terreno negativo pelo segundo dia. Após sequência de ganhos desde o dia 4 - interrompida apenas no dia 16, e que o alçou a 110,7 mil pontos no fechamento de 19 de maio, maior nível então desde 1º de fevereiro -, o Ibovespa passou a alternar séries mais curtas, de avanços e recuos, a partir do último dia 22. Desde 22, foram cinco perdas, incluindo a de hoje, e apenas dois ganhos, em 25 e 26 de maio, quando chegou aos 110,9 mil pontos, superando a marca do último dia 19.
Assim, o Ibovespa oscilou nesta terça-feira entre mínima de 108 551,51 e máxima de 111.290,69 pontos, para fechar aos 108.967,03 pontos, em baixa de 1,24% na sessão, em que saiu de abertura aos 110.333,40 pontos. O giro não foi tão fraco quanto o de ontem, então abaixo de R$ 12 bilhões com o feriado nos Estados Unidos, mas seguiu moderado, como tem sido a tendência recente, a R$ 23,2 bilhões. Na semana, o índice da B3 cede 1,75%, mas ainda avança 4,34% no mês. Em 2023, oscila hoje para baixo, com recuo de 0,70% no ano.
"O Ibovespa vinha de pé trocado, subindo mesmo quando as bolsas lá fora caíam, e agora volta ao suporte que corresponde à média móvel de 200 períodos, um pouco abaixo dos 109 mil. Chegado o fim do mês, é natural uma realização de lucros, considerando que o Ibovespa ainda sobe mais de 4% em maio, com avanço bem distribuído por diferentes setores", diz Marco Monteiro, analista da CM Capital, mencionando ganhos superiores a 16% para o setor imobiliário, acima de 12% para as 'small caps' - ações de menor capitalização de mercado, menos líquidas -, e de quase 12% para o segmento de consumo no mês, pouco antes do fechamento desta terça-feira.
"A queda de hoje foi muito condicionada pelas commodities, como o petróleo, principalmente, e o minério de ferro, que já vem mais fraco há algum tempo, o que afeta empresas de peso como Petrobras e Vale", diz Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester Investimentos. Ele observa que a pressão sobre os preços das commodities acabou por ofuscar, na sessão, outros desdobramentos recentes positivos, como o avanço de uma solução para o teto da dívida nos Estados Unidos e, no Brasil, a leitura mais fraca do IGP-M, com deflação de 1,84% em maio - e uma queda de 4,47% em 12 meses. A moderação dos índices de inflação se reflete na curva de juros doméstica, que tem melhorado com a acomodação dos preços.
Lá fora, por outro lado, os contratos futuros de petróleo aprofundaram perdas ao longo da sessão, em queda acima de 4% nos fechamentos de Nova York e Londres. As tensões emergentes entre Arábia Saudita e Rússia quanto a cortes de oferta pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) estiveram no radar nesta terça-feira. A Rússia continua a disponibilizar grandes volumes de petróleo mais barato, minando esforços sauditas para fortalecer os preços da commodity, segundo fontes familiarizadas com o assunto.
Petrobras ON e PN encerraram a sessão em baixa, respectivamente, de 0,94% e 1,12%, enquanto Vale ON cedeu 2,35%, com o minério abaixo de US$ 100 por tonelada na China (Dalian). O dia foi amplamente negativo para o setor metálico como um todo, com destaque para CSN (ON -3,77%, mínima do dia no fechamento, a R$ 12,00).
Na ponta perdedora do Ibovespa, além de CSN, de CSN Mineração (-2,84%) e de Usiminas (-2,88%), nomes correlacionados ao ciclo doméstico, como CVC (-3,87%) e Petz (-3,72%). No lado oposto, destaque para IRB (+4,31%), Hapvida (+4,10%), Raízen (+1,98%) e Dexco (+1,41%). Entre os grandes bancos, o dia foi majoritariamente negativo, com perdas de até 2,73% (Bradesco PN) no fechamento, à exceção de BB (ON +0,86%).
Juros
Os juros futuros terminaram a terça-feira, 30, entre a estabilidade e leve queda, num desempenho que pode ser considerado positivo se comparado às perdas dos demais ativos domésticos e também diante da forte queima de prêmios na curva na semana passada que, em tese, chamaria para uma realização de lucros mais pronunciada.
O tombo superior a 4% nos preços do petróleo, a forte deflação do IGP-M em maio e o fechamento da curva dos Treasuries em meio às dúvidas sobre a votação do acordo sobre o teto da dívida nos Estados Unidos acabaram ancorando as taxas, apesar do desempenho negativo das moedas de economias emergentes, incluindo o real.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,20%%, estável ante o ajuste de ontem, e o DI para janeiro de 2025 caiu de 11,48% para 11,16%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,95% (10,96% ontem) e a do DI para janeiro de 2029, em 11,29%, mesma taxa do ajuste de ontem.
O ajuste de alta visto ontem nas taxas não conseguiu avançar nesta sessão, em meio a vários fatores potencialmente desinflacionários e que podem contribuir, se não para um início imediato do ciclo de queda da Selic, ao menos para uma sinalização do Copom sobre quando isso poderá ocorrer. Antes da abertura, o mercado já conhecia o IGP-M, que acelerou a deflação de 0,95% em abril a 1,84% em maio, coincidindo com o piso das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast. Ainda que o IPC-M tenha subido (0,46% para 0,48%), a expectativa é de que o tombo do IPA (-2,72%) possa chegar mesmo que parcialmente aos preços ao consumidor.
Ao mesmo tempo, o recuo das commodities reforça a perspectiva benigna para a inflação de curto prazo no Brasil. Hoje, os preços do petróleo tombaram mais de 4% dadas as incertezas sobre o acordo para elevar o teto da dívida dos Estados Unidos e também sobre o ritmo da demanda global. O barril do tipo WTI com vencimento em julho, que fechou em US$ 69,46, não caía abaixo de US$ 70 desde 4 de maio.
A leitura dos analistas é de que esse alívio nas matérias-primas será importante para fazer frente ao impacto que a mudança na cobrança de ICMS sobre a gasolina terá sobre os preços. A partir de quinta-feira (1º), o tributo passa a ser cobrado com uma alíquota fixa (R$ 1,22 por litro), em vez de porcentagem sobre o preço. Além disso, como destacou o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, o governo concluirá o ciclo de reoneração da gasolina e etanol no fim de junho, quando acaba a vigência do imposto de exportação sobre óleo cru para compensar a elevação gradual das alíquotas de PIS e Cofins. Ceron disse que o imposto de exportação não será renovado e que os tributos federais voltarão a ser cobrados com alíquota cheia.
O gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cássio Andrade Xavier, afirma que o mercado de juros hoje não teve um "grande driver" e que as preocupações com o ritmo da economia da China, ante os dados que saem nesta semana, estão pesando mais diretamente no câmbio e na Bolsa. "Os números podem ser feios, mas na curva local, esta expectativa não tem afetado tanto". Nesta noite, serão divulgados os PMIs na China.
Para o sócio e estrategista de renda fixa e câmbio da Garin Investimentos, Felipe Beckel, os prêmios na curva já estão bem magros e a tendência é que o mercado opere mais de lado no curto prazo. "O 'play' mais tranquilo para agora é o de inclinação. Por mais que já se tenha precificado a queda da Selic, é perigoso ficar unidirecional", afirma Beckel, para quem os riscos são simétricos.
Ele argumenta que o discurso do Banco Central tem sido mais cauteloso do que os sinais apontando para um relaxamento monetário nos próximos meses. "Tem muita narrativa e pressão para o BC cortar o juro, mas parece que Roberto Campos Neto está receoso em dar pistas sobre o ciclo", disse.
Ontem, em discurso em Fortaleza, Campos Neto expressou otimismo com a melhora das expectativas de inflação no longo prazo, mas, observou, seguem bastante elevadas em razão do debate sobre a meta e as incertezas fiscais. Parte destas, ponderou, está sendo endereçada após a aprovação do arcabouço pela Câmara. "Então, a gente entende que isso vai melhorar", declarou o presidente do BC, após mostrar que, apesar da melhora das expectativas para a inflação de 2023 e 2024, as projeções de longo prazo do mercado seguem em 4%, quando a meta é de 3%.
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