IMUNIZANTE ÚNICO

Especialistas condenam tomar vacinas diferentes contra covid-19

Por R7 25/11/2020 - 07:33

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Pesquisadores alertam para riscos de tomar mais de um tipo de vacina
Pesquisadores alertam para riscos de tomar mais de um tipo de vacina

Pelo menos sete das mais de 170 vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento no mundo poderão ser colocadas à disposição dos brasileiros, pelo poder público ou no mercado privado, a partir de 2021, se todas forem aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).Quatro delas estão na fase 3 de testes, a final, no Brasil: a CoronaVac, parceria chinesa com o Instituto Butantan; a da universidade britânica de Oxford com o conglomerado anglo-sueco AstraZeneca; a da multinacional de origem norte-americana Pfizer associada ao grupo alemão BioNTech; e a dos norte-americanos da Johnson & Johnson com o laboratório Janssen, da Bélgica.

O governo brasileiro ainda não decidiu se investirá na CoronaVac e estuda incluir também a do grupo Bharat Biotech, da Índia, caso ela receba o aval da Anvisa (conheça aqui, em detalhes, a situação atual de cada uma das sete vacinas).

A ansiedade natural de se ver protegido, somada às polêmicas pela adoção de uma ou outra vacina, gerou em muitos a vontade de tomar vacina de mais de um fabricante nesses meses iniciais. Desejo sempre acompanhado de uma dúvida importante: será que isso poderá ter efeito negativo e fazer mal à saúde?

A resposta de dois dos maiores especialistas brasileiros em infectologia, patologia e vacinação consultados pelo R7 é a seguinte: como os pesquisadores ainda não possuem – e não deverão possuir tão cedo – uma resposta cientificamente comprovada para a questão, mesmo porque não há voluntário para mais de uma vacina ao mesmo tempo nos testes, cedo, a atitude correta agora é tomar doses de vacina de um único fabricante.

“Os estudiosos ainda não possuem elementos para sanar essa dúvida. E certamente só poderão dizer algo seguro sobre isso com as avaliações, após algum tempo de vacinação em massa no Brasil e no mundo”, alerta o patologista e pesquisador Paulo Saldiva, professor titular do Departamento de Patologia da USP (Universidade de São Paulo). “Por isso, antes que conheçamos os efeitos de cada imunizante, o certo é tomar apenas uma das vacinas”, acrescenta ele.

Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas e dos hospitais Santa Joana e Pro Matre Paulista, tem a mesma opinião. “Neste primeiro momento eu não tomaria nem tampouco aconselharia meus pacientes ou qualquer brasileiro a tomar mais de um imunizante”, resume.

A pesquisadora apresenta seus motivos. “Em outros casos históricos, as pessoas, é verdade, acabaram sendo vacinadas com imunizantes de fabricantes distintos, o que se chama na medicina de intercambialidade”, explica. “Mas isso depois de um tempo, com o estudo dos efeitos, a exemplo do que ocorreu com a meningite e outras doenças. No caso do coronavírus, será necessário cuidado absoluto nessa fase inicial. Até porque as vacinas são desenvolvidas com tecnologias diferentes e a combinação delas no ser humano precisa ser estudada com cautela e responsabilidade”.

Os primeiros consórcios a publicarem estudos de suas vacinas apresentaram índices animadores. A Pfizer divulgou 95% de eficácia após o 28º dia de aplicação. O laboratório americano Moderna, 94,5%. E a Oxford, média de 70%, com pico de 90% no grupo que recebeu a primeira dose integral e a segunda fracionada. Nos primeiros estudos, os índices da vacina russa superaram 95%.

Os chineses da CoronaVac ainda não publicaram resultados finais, mas anunciaram a produção de anticorpos em 97% dos voluntários avaliados nas fases 1 e 2. Todos esses índices estão bem acima da eficácia de 50% considerada mínima pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para um imunizante ser usado em massa. A eficácia das vacinas de gripe aplicadas anualmente no Brasil, por exemplo, gira em torno dos 60%. Uma vacina com 95% de eficácia significa que uma pessoa imunizada por ela terá 95% menos chance de desenvolver a doença, se comparada aos que decidiram não serem vacinados nas campanhas ou, em casos pouco prováveis, a quem tenha tomado placebo como voluntário nos testes e, depois, optado por não se imunizar.

A maioria das principais vacinas será aplicada em duas doses, em intervalos de duas a quatro semanas. “Mesmo que o poder público compre as doses e as ofereça gratuitamente, as pessoas terão níveis de dificuldade diferentes para ter acesso a imunizantes distintos. Ainda não se sabe quais delas estarão à disposição da população sem custo, em cada estado ou região, e as que serão vendidas”, destaca Rosana.

A pesquisadora resume: “Diante dessa realidade, tomar as duas doses de um mesmo fabricante, e apenas elas, é a atitude correta e responsável até que a ciência possa responder, com segurança, se o cruzamento fará mal ou não. Essa não é a hora de pensar que a mistura de vacinas dará a tão sonhada imunidade de 100%”.
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