UM ANO DE COVID

Fase vermelha retorna sem expectativa para fim da pandemia, diz epidemiologista

Governo de Alagoas impõe novas medidas restritivas em meio a futuro incerto
Por Bruno Fernandes 19/03/2021 - 13:16

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A pesquisadora da Fiocruz, Ana Brito, diz que Brasil é um mau exemplo de como combater a covid-19
A pesquisadora da Fiocruz, Ana Brito, diz que Brasil é um mau exemplo de como combater a covid-19

No dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou como pandemia a doença causada pelo SARS-CoV-2 no planeta. Em Alagoas, o primeiro caso confirmado para a doença surgiu uma semana antes, no dia 3 e a primeira vítima fatal foi registrada no dia 31 do mesmo mês, porém, passado um ano, nada mudou e nem vai mudar tão cedo, avalia a médica epidemiologista e pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, Ana Brito.

“Não temos como expressar nenhuma possibilidade de otimismo nos próximos anos para o Brasil. Persistindo essa dinâmica de transmissão, o Brasil tem sido considerado por todo o mundo como o país que tem conduzido a pior política de enfrentamento da pandemia com o governo federal negando a ciência e desconsiderando o conhecimento científico. A perspectiva é a mesma para o Nordeste por mais esforço que os governadores estejam fazendo”, afirma a epidemiologista em entrevista ao EXTRA.

Em todo mundo, já foram confirmados mais de 120 milhões de casos de covid-19, de acordo com a OMS. Com 12 meses de pandemia, o coronavírus já fez mais de 2,6 milhões de vítimas fatais no planeta. No Brasil, que ganhou notoriedade mundial por ir na contramão do resto dos países, a doença não tem data para chegar ao fim. No momento em que esse texto estava sendo escrito, 278.229 famílias perderam alguém para a covid-19, enquanto outras 11.483.370 tiveram que mudar suas rotinas após terem casos de infecção.

Com novas necessidades de distanciamento social, a pandemia impactou globalmente a forma com que as pessoas se relacionam. O mundo viu a maneira como conhecia o trabalho, a educação, as relações sociais e o consumo se transformarem radicalmente para se adaptar à nova realidade e em Alagoas, não foi diferente.

Medidas adotadas em Alagoas

No dia 26 de junho de 2020, o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), apresentou em coletiva à imprensa a Matriz de Risco para orientar na implementação do distanciamento social controlado em frente à pandemia do novo coronavírus. O plano entrou em vigor na primeira semana de julho, quando comércio, shoppings entre outros setores foram proibidos de funcionar, pelo menos de forma presencial. No entanto, o relaxamento foi avançando conforme troca de fases.

Passados quase 10 meses desde o anúncio do plano, Alagoas regrediu. Esse foi o resultado das campanhas nas eleições municipais, ocorrida em novembro, que registrou aglomerações durante as festas de final de ano. Sem contar o carnaval, que trouxe várias aglomerações no estado. Há uma semana, o governo estadual voltou a determinar medidas mais rígidas, causando um efeito sanfona e lotando hospitais. Essa atitude, classificada como “negacionista” é um dos motivos para que não exista previsão para o fim da doença, como explica a epidemiologista da Fiocruz.

“Muitas pessoas têm se comportado de forma negacionista, de negar que essa doença tem importância. A gente do meio acadêmico já não sabe mais o que precisa acontecer. Ou a gente para ou o vírus para a vida da gente. O vírus impacta sobre nosso convívio porque além da gravidade da situação, temos a gravidade do esgotamento do sistema de Saúde”, conta.

Devido ao aumento de infecções, no mesmo dia em que Alagoas confirmou mais de 1.100 novos casos da doença em 24 horas, o governador Renan Filho endureceu as medidas de restrição para circulação de pessoas e funcionamento de setores da economia, visando frear a transmissão do novo coronavírus. Válido por 14 dias a partir desta sexta-feira, 19, o novo decreto limita a circulação de pessoas das 21h às 6h. Durante o horário, só será permitida a circulação nas ruas para quem tiver a destino de realizar atividades essenciais para a família e trabalho

Entre outras medidas está a proibição do acesso às praias, lagoas e rios aos finais de semana em todo o estado. O uso do calçadão e da faixa da areia da praia em Maceió e municípios do litoral só é autorizado de segunda a sexta-feira para atividades individuais. O comércio funcionará da seguinte forma: no Centro, das 9 às 17 horas. Fica vedada a abertura de lojas aos sábados, domingos e segundas-feiras.

“Se mantendo esse ritmo lento de vacinação e a falta de controle e de medidas de prevenção, a nossa perspectiva é das piores possíveis. Se até o final do ano nós tivéssemos uma possibilidade de ter toda a população vacinada, provavelmente apenas em 2022 poderemos começar a retomar nossas atividades, mas se o vírus não mudar sua voracidade de transmissão e se continuarmos com medidas de intervenções fragmentadas, sem um comando nacional apoiado nas evidências científicas.

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