Saia Justa
Michel Temer sugeriu 'chicana' no caso Geddel, diz ex-ministro
O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero disse em entrevista ao
"Fantástico" que o presidente Michel Temer sugeriu que ele usasse "um
artifício, uma chicana" para resolver o problema do veto do Iphan, o
Instituto do Patrimônio Histórico", a um prédio de 32 andares em
Salvador (BA), sobre o qual o ex-ministro Geddel Vieira Lima tinha
interesses e um apartamento de R$ 2,6 milhões. O órgão só permite
prédios de até 12 andares na área.
Como o edifício havia sido vetado pelo patrimônio histórico federal, Temer sugeriu ao ex-ministro da Cultura que encaminha o caso para a AGU (Advocacia Geral da União), que poderia solucionar o que o presidente chama de divergência entre dois ministros.
Professores de direito dizem que o ato de Geddel pode caracterizar o crime chamado de advocacia administrativa, que ocorre quando um funcionário público defende interesses privados junto ao governo.
As pressões relatadas por Calero foram reveladas pela Folha. Ele contou
em entrevista ao jornal que sofrera pressões de dois dos mais
importantes ministros de Temer para reverter o veto do prédio em
Salvador: de Geddel, que ocupava a secretaria de Governo e se demitiu no
última sexta-feira (25), e do chefe da Casa Civil, o ministro Eliseu
Padilha.
Na avaliação de professores, Padilha também é suspeito é ter cometido o crime de advocacia administrativa.
Calero rebateu a versão de que teria gravado o presidente no Palácio do
Planalto, mas afirmou ter registrado o que chamou de uma "conversa
burocrática" por telefone. "Não sou leviano", afirmou, citando sua
formação de diplomata. "Tem de ser leal, mas não cúmplice".
Já sobre Geddel e Padilha, ele foi evasivo: disse que não poderia
informar se gravou as conversas com os ministros para não atrapalhar as
investigações que a Polícia Federal faz sobre o caso.
Na visão de Calero, a versão de que ele teria gravado Temer no gabinete
presidencial foi disseminada por aqueles que têm interesse em desviar o
foco do verdadeiro problema, que seria a defesa feita por dois ministros
de interesses privados. Ele tratou a acusação como uma "campanha
difamatória" contra ele.
O ex-ministro afirmou que o que mais lhe chamou a atenção no episódio
foi que "altas autoridades da República perdiam seu tempo com um assunto
paroquial, de interesse particular".
OUTRO LADO
Márcio de Freitas, secretário de Comunicação do governo Temer, disse à
Folha que a acusação de que o presidente sugeriu uma chicana "é uma
inverdade e um termo inadequado". Segundo ele, a sugestão de que a
divergência entre órgãos do governo fosse resolvida pela AGU é
absolutamente regular e está prevista em lei.
Temer tratou da crise gerada por Geddel na entrevista coletiva concedeu
neste domingo (27) em Brasília. Repetiu que considera o episódio um
simples conflito entre ministros e disse que considerava "indigno" e
"gravíssimo" um ministro gravar o presidente.
A AGU disse ao "Fantástico" que não fez nada de irregular no episódio,
já que uma de suas funções é resolver conflitos e divergências entre
órgãos governamentais.
Padilha e Geddel não quiseram se manifestar sobre a entrevista.