DISCURSO

Não me vejo nesse papel de 'eu sou o terror', diz vice de Bolsonaro

Por Notícias ao Minuto 01/09/2018 - 08:08

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Foto: Divulgação
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O mundo tá muito chato - e Antonio Gramsci tem sua parcela de culpa nisso, desconfia o general Antonio Hamilton Mourão, 65.

Os comunistas de hoje se inspiram no filósofo italiano marxista morto 81 anos atrás para impor "uma forma de dominação" insidiosa: "A hegemonia do consenso", hoje representada pelo politicamente correto. "Se você sai hoje um milímetro dele, é execrado", diz.

E Mourão, para o gosto da esquerda, é um outdoor ambulante da incorreção política. Já defendeu, num evento maçom, a intervenção militar como antídoto para a corrupção.

Declarou que o Brasil herdou a "indolência" dos indígenas e a "malandragem" dos africanos. Aceitou ser vice do candidato à Presidência que mais confortavelmente veste as causas da extrema direita em 2018, Jair Bolsonaro (PSL).

Mas tentativas de rotulá-lo como isso ou aquilo são "baboseiras", diz à Folha o general de fala mansa, posições duras e uma pistola 45 guardada numa gaveta em seu apartamento, na praia de Copacabana -além do imóvel, esse no nome dos filhos, ele declarou à Justiça Eleitoral outro, estimado em R$ 204 mil, um Sandero de R$ 61 mil, mais aplicações que somam R$ 149,6 mil.

Mourão, um "liberal na economia e conservador nos costumes", tem das suas ideias fixas. O antipetismo, por exemplo. "Sempre considerei o PT a vanguarda do atraso. Não respeitou o que é a democracia."

Inclusive, uma intervenção militar seria bem-vinda "caso a candidatura de Lula seja aceita e haja protestos significativos por parte da população", e vice-versa: "O Judiciário decide que Lula não será candidato, o que pode levar aos caos, a uma situação em que a Força tenha que intervir".

O regime militar é tema caro a ele e Bolsonaro, que foi seu "bixo" (jargão para calouro) na Academia Militar das Agulhas Negras. Os dois se formaram nos anos 1970 nesta instituição onde há um salão batizado com o nome de Emílio Garrastazu Médici e uma fachada com a inscrição "ides comandar, aprendei a obedecer".

O período não era esse bicho-papão que a esquerda, por "desonestidade intelectual", tenta vender, não na opinião do general. Veja a questão da tortura. "Não aprovo, ok, não é um método interrogatório válido, mas foi aquilo utilizado naquele momento".

Fora que é "óbvio que muita gente em quem [os militares] não encostaram um dedo" veio depois alegar ter sido torturada, "quando apareceu a possibilidade de indenização", diz Mourão, que usa na lapela do paletó um broche dourado em formato de granada.

O horror ao comunismo ele herdou do pai, militar graduado na época da Intentona Comunista, rebelião liderada por tenentistas, Luís Carlos Prestes entre eles, para derrubar Getúlio Vargas em 1935. "Aquilo calou fundo por atentar contra princípios básicos [nas Forças]: a lealdade e a camaradagem. Companheiros mataram outros que dormiam. Aquela geração se tornou anticomunista ferrenha."

Especializada no episódio, a doutora em história pela USP Marly Vianna sustenta em seus escritos que essa versão foi plantada para que se fizesse crer em insurgentes "a tal ponto traidores que teriam sido capazes de baixezas como a dos fantásticos assassinatos de colegas dormindo", algo inverossímil dada a tensão nada sonífera no quartel no dia.

Mourão conversou com a Folha na semana passada e emendou uma sabatina no BTG Pactual. Ao seu lado, Levy Fidelix, entretido com o painel no lobby de seu hotel, que trazia a pintura de um aerotrem -sua causa coqueluche quando tentou ser presidente, em 2010 e 2014. Levy agora tenta a Câmara.


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