Bases militares e 'pacotes de ajuda': Noboa acelera o vínculo do Equador com os EUA

Por Sputnik Brasil 18/04/2025 - 01:39
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© AP Photo / Dolores Ochoa
Bases militares e 'pacotes de ajuda': Noboa acelera o vínculo do Equador com os EUA

Poucas horas após as eleições, o presidente equatoriano, Daniel Noboa, conversou com o secretário de Estado Marco Rubio e realizou uma viagem "pessoal" aos EUA, afirmando que gostaria de concretizar uma base militar norte-americana no Equador. Medida ajuda os EUA a usarem o país em seus planos "geoestratégicos", notam analistas.

Apesar de os resultados das eleições de 13 de abril ainda estarem sendo questionados pela oposição, o presidente Daniel Noboa deixou o país rumo aos Estados Unidos — destino mais frequente desde que assumiu o governo em novembro de 2023.

Segundo a mídia local, o decreto que oficializa a viagem indica que o presidente estará na Flórida entre 17 e 22 de abril para "tratar de assuntos pessoais" e sua única companhia será o "chefe de segurança".

A viagem ocorre horas depois de uma conversa telefônica entre Noboa e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. Segundo o governo norte-americano, o diálogo abordou o “compromisso comum de proteger os cidadãos de ambos os países ao combater os narcoterroristas, as organizações criminosas transnacionais, a imigração ilegal, as drogas e a influência estrangeira maligna no nosso hemisfério”, além de “desafios regionais como os do Haiti e da Venezuela”.

"Imediatamente após os resultados eleitorais e em um momento em que ainda há questionamentos de diversos governos sobre a legitimidade do processo eleitoral, o que o presidente faz é buscar o respaldo geopolítico de seu aliado do norte, os Estados Unidos", afirmou à Sputnik o analista político Decio Machado.

Para Machado, a viagem de Noboa não tem apenas o objetivo de "conseguir apoio em um contexto em que países como México, Colômbia e Honduras questionam os resultados", mas também de "se colocar à disposição do presidente norte-americano Donald Trump", dentro de uma estratégia para se consolidar como "um parceiro privilegiado dos EUA".

A socióloga e analista política internacional Irene León lembrou à Sputnik que a relação com os EUA tem sido "uma prioridade" na política externa de Noboa ao longo de seu mandato, iniciado em 2023, e apareceu como um dos pilares de sua proposta eleitoral submetida ao plebiscito de 13 de abril. Segundo ela, essa relação tem como principais eixos a militarização e os vínculos com o setor corporativo norte-americano.

León acredita que, em um segundo mandato, Noboa apostará na "ampliação do papel do Equador nos planos militares dos EUA", não apenas por meio da criação de bases militares norte-americanas em solo equatoriano, mas também oferecendo o país como plataforma para os "planos do Pentágono para o Pacífico Sul".

"Com os acordos militares firmados desde o fim de 2022, os EUA já têm permissão para desembarcar impunemente no Equador por terra, ar, mar e ciberespaço. Noboa não só faz questão de manter isso em vigor, como quer ampliar essa capacidade com a criação de novas bases militares", explicou.

De fato, poucas horas após as eleições, Noboa concedeu entrevista na qual afirmou que Washington aguardava o resultado das urnas em 13 de abril para começar a avançar no apoio ao Equador em defesa, com "sistemas de inteligência, radares, proteção de fronteiras e monitoramento do tráfico de drogas, da pesca ilegal e de grupos irregulares próximos à fronteira envolvidos com mineração ilegal".

As declarações reforçaram os rumores sobre a intenção do governo equatoriano de reinstalar uma base militar norte-americana na cidade costeira de Manta, que já funcionou como base dos EUA entre 1999 e 2009.

Machado, por sua vez, lembrou que o governo Noboa também especula permitir operações militares dos EUA a partir das Ilhas Galápagos, algo que poderia ter "interesse geopolítico" para Washington. Ainda assim, ele destacou que o avanço dessas movimentações dependerá mais da vontade dos EUA do que das intenções de Noboa.

"Pode ser interessante para os EUA dentro de sua política de disputa territorial na América Latina. Nesse contexto, o Equador aparece como um governo que prioriza as relações com os EUA acima dos investimentos chineses", afirmou.

León também considera que "é pouco provável" que um eventual governo de Donald Trump deixe de aproveitar os acordos firmados com o Equador pela administração Joe Biden (2021–2025) para garantir sua presença no território equatoriano, uma vez que há "máximo interesse na reocupação da América Latina e do Caribe e na reconstrução de um projeto hemisférico para controlar seus recursos".

Reforma constitucional no Equador

León lembrou que, para instalar bases norte-americanas, Noboa precisaria reformar a Constituição de 2008, que proíbe expressamente a instalação de bases militares estrangeiras no país. Por isso, especula-se que sua reeleição possa servir como impulso para cumprir a promessa de convocar uma Assembleia Constituinte que elimine essa restrição.

"Noboa tem defendido ardorosamente a presença de militares dos EUA e alega que a Constituição equatoriana é um obstáculo para o avanço de suas propostas de segurança", apontou a analista.

De fato, no dia seguinte às eleições, o ministro do Governo, José de la Gasca, confirmou que a elaboração de uma nova Constituição seria uma das principais prioridades do governo reeleito.

Machado lamentou que, apesar de a ideia de que uma base norte-americana possa ser eficaz no combate ao crime organizado não ter muito fundamento, a população equatoriana não parece enxergar a medida com maus olhos.

"O sentimento popular majoritário é que é preciso fazer o que for necessário para combater o crime, e está se vendendo a ideia de que essa base seria uma ferramenta estratégica nesse caminho", destacou, prevendo que provavelmente não haverá grandes mobilizações populares contra o governo caso ele decida autorizar as bases estrangeiras no país.

Por Sputinik Brasil


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