Eleição de Annalena Baerbock para Assembleia Geral da ONU é 'mensagem funesta da Europa'

Por Sputnik Brasil 04/06/2025 - 03:12
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Eleição de Annalena Baerbock para Assembleia Geral da ONU é 'mensagem funesta da Europa'

Embora a Assembleia Geral da ONU não seja o órgão mais relevante da organização criada após a Segunda Guerra Mundial, a nomeação da alemã Annalena Baerbock para presidir o 80º período de sessões envia uma mensagem muito negativa por parte da Alemanha e da União Europeia, de acordo com especialistas consultados pela Sputnik.

Com o apoio de 167 países, a ex-ministra das Relações Exteriores da Alemanha foi eleita nesta segunda-feira (2) presidente da Assembleia Geral da ONU para o 80º período de sessões, que terá início em setembro.

A eleição da ex-chefe da diplomacia alemã não foi uma surpresa, já que, conforme a rotação regional estabelecida, esperava-se que a presidência recaísse sobre o grupo de países da "Europa Ocidental e outros Estados".

Baerbock assume o posto poucos meses após o secretário-geral da ONU, António Guterres, apresentar a iniciativa “ONU80”, que pretende reformar o organismo internacional em um momento em que os questionamentos à entidade continuam crescendo, especialmente devido à paralisia do Conselho de Segurança em alcançar consensos diante dos conflitos globais.

No entanto, ao longo de seu período como ministra das Relações Exteriores da Alemanha, a diplomata fez uma série de declarações controversas que levaram o general reformado Erich Vad, principal assessor militar de Angela Merkel, a qualificá-la de "belicista".

Em meados de maio deste ano, o vice-chefe da missão russa junto às Nações Unidas, Dmitri Polianski, colocou em dúvida a capacidade de Annalena Baerbock de atuar com imparcialidade e de forma desvinculada da política externa da Alemanha.

"Baerbock acumulou um histórico controverso como ministra das Relações Exteriores da Alemanha, com declarações incomuns para o seu cargo, russofobia e uma insistência em prioridades que muitos membros da ONU não compartilham", afirmou.

"A decisão das autoridades de Berlim de impulsionar sua candidatura, em vez da candidatura que havia sido anunciada previamente e que era conveniente para todos, não é nada menos do que cuspir no rosto da organização mundial", acrescentou Polianski.

Em entrevista à Sputnik, o internacionalista Héctor José Galeano David, da Universidade do Norte da Colômbia, considerou que tanto a Alemanha quanto a União Europeia enviam "uma mensagem muito negativa" ao indicar uma pessoa que "defendeu as ações genocidas de Israel".

"Isto apesar de diversos organismos internacionais, como a própria ONU e o próprio Tribunal Penal Internacional, estarem afirmando sem sombra de dúvida que está ocorrendo um genocídio e que estão sendo cometidos crimes de guerra [na Faixa de Gaza]", afirma Galeano.

Segundo ele o discurso de defensores dos direitos humanos propagados por esses países "nunca passou de um discurso".

O internacionalista da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) Daniel Muñoz Torres também criticou a eleição de Baerbock, que chamou de controversa devido às "declarações muito polêmicas" já feitas por ela.

No entanto, ele disse acreditar que a atual presidente enfrentará grandes obstáculos, especialmente se não mudar sua postura pró-Israel, o que poderá levá-la a se confrontar com muitos países em desenvolvimento.

Nesse sentido, o especialista apontou que a ex-ministra alemã precisará compreender que como líder da Assembleia Geral da ONU, ela deixa de representar os interesses de um país específico para representar os do organismo internacional.

"Ela terá que começar a se distanciar da posição da Alemanha, de suas posições anteriores, e buscar gerar diálogos construtivos, que possam, de alguma forma, fazer com que a ONU também se torne uma mediadora para alcançar a paz", afirmou Muñoz Torres.

Baerbock presidirá a eleição da pessoa que sucederá Guterres como secretário-geral da organização a partir de 2027.

Ambos os especialistas destacaram que, embora a ONU tenha empreendido esforços no sentido de garantir a paz, "muita gente ao redor do mundo ainda a vê como um organismo que, na prática, não tem grande poder para resolver os conflitos internacionais".

"Vamos comemorar 80 anos da criação da ONU, mas este é um ano em que devemos ser muito críticos com relação a ela e, ao mesmo tempo, reconhecer seus grandes feitos e conquistas", avaliou Muñoz Torres.

“Por outro lado, a grande crítica que se faz — do México a Moscou, passando por todo o mundo — é que a ONU não possui representatividade universal. É um organismo no qual todos estamos formalmente representados, mas os interesses de poucos continuam pesando mais do que os interesses da maioria”, acrescenta.

Já Galeano David afirma que "a ONU, assim como a OEA, esse monstrengo, esse elefante branco inútil — funciona nos Estados Unidos [...] Só isso já basta para que presidentes como [Vladimir] Putin não compareçam".


Por Sputinik Brasil


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