Parece, mas não é
O desembargador aposentado Antônio Sapucaia publicou artigo na imprensa local denunciando o auxílio-moradia e outros penduricalhos que engordam o salário dos juízes e burlam o Imposto de Renda.
Na sua indignação, Sapucaia acusa o Judiciário de agir sorrateiramente, na tentativa de “surfar nas águas encardidas do Legislativo, cujos membros enchem os bolsos com vantagens camufladas e indevidas”.
Mais indignado ficou quem leu o artigo, intitulado “A farsa do Poder Judiciário”, pensando tratar-se de um libelo acusatório contra as traficâncias do Judiciário brasileiro. Na verdade, a peça não passa de mera propaganda enganosa.
Sapucaia não condena a imoralidade; defende que os penduricalhos sejam transformados em aumento salarial para que os juízes aposentados, como ele, também recebam o privilégio.
Ele reclama que os magistrados aposentados “estão na orfandade”, tendo que pagar despesas de “médicos, medicamentos e planos de saúde”. Esqueceu de informar o valor de sua gorda aposentadoria: R$ 30.471,10, o que o coloca no topo da elite salarial brasileira.
O que diriam os milhões de brasileiros que sobrevivem com renda média de R$ 1.268,00 por mês? E o exército de miseráveis que vive abaixo da linha de pobreza? Sapucaia advoga para si a Lei de Gérson, e para o resto da patuleia, a Lei de Murphy.