Conteúdo do impresso Edição 1263

JOGO DO PODER

Após crise, Lula e Arthur Lira ensaiam novo entendimento

Presidente da Câmara segue pegando carona em obras federais, sem citar o petista
Por ODILON RIOS 27/04/2024 - 05:00

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Reprodução/instagram
Arthur Lira discursa no sorteio das casas do Parque da Lagoa
Arthur Lira discursa no sorteio das casas do Parque da Lagoa

No dia que César Lira foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do comando do Incra em Alagoas, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, lançava, em Brasília, um plano de reforma agrária para assentar 240 mil famílias até o final de 2026.

Lira havia sido indicado pelo primo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), quando Michel Temer presidia o país, pós-impeachment de Dilma Rousseff (PT).

César Lira era rechaçado pelo MST, mas era impossível retirá-lo do cargo. Após Temer, veio Jair Bolsonaro (PL) e a assunção de Arthur à presidência da Câmara. Em 15 de abril, César Lira caiu e os movimentos de luta pela terra deram um banho de cheiro e sal grosso na sede do instituto alagoano. Foi uma vitória efêmera. Arthur retomou as rédeas daquilo que parecia ser uma quebra de prestígio e poder e espalhou ameaças de instalação de CPIs que pudessem atrapalhar a vida do governo, além de fazer avançar uma lei que pune quem ocupa terras. Alvo? O MST.

Para negociar mais próximo ao Congresso, Lula voltou atrás e novamente entregou a direção do Incra a Arthur, que indicou Junior Rodrigues do Nascimento, presidente do Instituto Naturagro, que desde 7 de março recebe verbas da sede local do instituto. A escolha atinge o PT alagoano, que já tinha como favas contadas a direção do Incra. Não foi dessa vez.

Lula também pôs uma faca no pescoço de Lira: a passagem do primo é investigada tanto pelo aluguel de 5 caminhonetes que deveriam estar sob uso do Incra local quanto pelo recebimento de diárias por viagens que nunca aconteceram, esta última sob investigação do Ministério Público Federal.

Arthur Lira tinha um objetivo maior: a derrubada de Alexandre Padilha, o articulador do Palácio do Planalto entre deputados e senadores. Não conseguiu. Assistiu ao plenário da Câmara confirmar a prisão do colega Domingos Brazão no dia 10 de abril, acusado de matar a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson, sintoma de que o sistema de vigilância do lirismo foi descaradamente arranhado.

Mas, ao longo da semana, o presidente da Câmara foi moderando o tom das declarações. Lula, também. O presidente pediu um encontro a sós com Lira. “Como é uma conversa entre dois seres humanos, eu peço a vocês, que eu não sou obrigado a dizer a conversa que eu tive com o Lira”, disse Lula.

Consequência foi a liberação de mais dinheiro. O governo empenhou R$ 4,9 bilhões em emendas, tanto aos deputados quanto aos senadores. É o dobro do liberado duas semanas antes (R$ 2,4 bilhões), 17 vezes mais dinheiro nestes dias mais que todo este ano.

Lira sabe que tem um papel muito importante para desempenhar neste ano eleitoral: precisa eleger uma enorme quantidade de prefeitos e vereadores e construir uma base sólida ao Senado em 2026. Para isso, tenta mostrar enorme capacidade de tocar uma administração federal paralela.

Além, lógico, a condição de eleger seu sucessor no comando do Legislativo, condição que o Palácio do Planalto rejeita levando em conta as relações muito ruins com o parlamentar alagoano ao longo destes dois anos.

Arthur Lira estava em 15 de abril no Vergel do Lago, ao lado do prefeito JHC (PL), no sorteio de 350 casas do Residencial Parque da Lagoa. A construção foi da Caixa Econômica Federal e Lira é quem manda na vice-presidência local.

Estava lá, montado num palanque, falando do Programa Minha Casa Minha Vida, que é vitrine da gestão Lula e, lógico, ocultado daquele instante festivo. O residencial tem 1.776 imóveis, R$ 200 milhões e entregue aos poucos. Pelos números do lirismo, 60 mil unidades habitacionais tiveram investimentos assegurados pelo deputado e em todo o estado desde 2010.

“Seguiremos trabalhando para transformar, para melhor, a vida das famílias alagoanas destinando recursos para a construção de habitações de caráter popular na capital e em todo o estado. Hoje, neste sorteio, damos mais um passo rumo à diminuição do déficit habitacional em Alagoas, garantindo moradia digna a centenas de maceioenses. Este trabalho, que teve participação decisiva do então senador Benedito de Lira, está sendo realizado aqui pela Prefeitura de Maceió por meio do empenho do prefeito JHC e pela Caixa Econômica Federal, em uma demonstração inequívoca de dedicação à melhoria da qualidade de vida de nossa gente”, disse Lira.


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