Conteúdo do impresso Edição 1265

ELEIÇÕES

Lira fecha acordo com prefeitos ao Senado e põe JHC ao governo em banho-maria

Cenário traçado pode levar prefeito para outra vaga ao Senado
Por ODILON RIOS 11/05/2024 - 05:00

ACESSIBILIDADE

Marina Ramos / Câmara dos Deputados
Arthur Lira mantém permanente contato com prefeitos para garantir apoios
Arthur Lira mantém permanente contato com prefeitos para garantir apoios

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), mantém contato quase diário com os prefeitos de sua base em Alagoas. É também uma forma de amarrar seu nome para o Senado em 2026, quando duas vagas estão em disputa: a ocupada por Renan Calheiros, que vai à reeleição, e a de Rodrigo Cunha, hoje cotado para ser vice-prefeito na chapa encabeçada por JHC (PL) na reeleição à Prefeitura.

Lira fechou o acordo ao Senado e, levando em conta o cenário atual, não deve ter problemas para subir mais um degrau na vida pública daqui a dois anos. Ao mesmo tempo, não costura o nome de JHC ao governo e o próprio grupo do prefeito dá, como favas contadas, que Jota disputa 2024 para deixar o cargo em 2026, disputando e ganhando o Palácio República dos Palmares. Para chegar lá, no entanto, precisa do voto de prefeitos, que carregam vereadores, lideranças políticas e comunitárias e milhares de cargos comissionados pendurados na máquina pública.

É provável que uma das táticas do presidente da Câmara seja tratar JHC como curinga, ou seja, apoiar o hoje prefeito não como nome ao governo e sim ao Senado. E Rodrigo Cunha, com um vice indicado pelo lirismo, entrando na briga pela chefia do Executivo estadual. Lógico: tudo isso precisa de um acordo, ajustando Cunha a vice (com aval de Lira).

Problema é que uma disputa ao Senado tem muitos pretendentes. Por exemplo, a família Pereira, hoje lirista, não vai dispensar uma chance de ouro que pode levar a secretária de Educação, Jó Pereira, ao Senado.

É uma estratégia que também pode ser arriscada. Lira pode ajudar a eleger JHC mas ficar sem uma vaga. Em 2018, o senador Renan Calheiros (MDB) usou a mesma tática. Escolheu o então deputado federal e já ex-ministro dos Transportes Maurício Quintella para a segunda vaga ao Senado. O então governador Renan Filho (MDB) ligou para cada um dos prefeitos. Foi assim o diálogo com um deles:

- Prefeito, você vai votar no Renan para o Senado, ordenava.

- Certo, governador. E o outro voto para o Maurício, entendi.

- Prefeito, o senhor não ouviu: é Renan para o Senado.

- Entendi governador, mas e o voto no Maurício?

- Prefeito, vou repetir de novo: é Renan ao Senado.

Maurício Quintella crescia nas pesquisas e existia o risco de ele desbancar Renan e na outra vaga, Rodrigo Cunha ser eleito, derrubando Benedito de Lira, pai de Arthur. Quintella foi lançado para desestruturar Benedito de Lira, que concorria à reeleição. Mas alguém crescia naquele contexto anticorrupção e nomes anti-sistema, na esteira do bolsonarismo: o deputado estadual Rodrigo Cunha. Renan conseguiu reduzir o volume da campanha de Quintella, Cunha foi eleito e Renan terminou em 2º lugar. Pela fidelidade em aceitar perder, Quintella recebeu a Secretaria de Infraestrutura do então governador Renan Filho.

Ainda no grupo calheirista, o líder do MDB Isnaldo Bulhões pensa em alcançar o Senado. E até o governador Paulo Dantas (MDB) se anima com a ideia. Só que todo este cenário atualmente é nebuloso. Porque o MDB Maceió atravessa uma crise que terminou em racha. O vereador e ex-presidente da Câmara Kelmann Vieira (MDB) declarou oposição a Paulo Dantas após desentendimento com o secretário de Governo Vitor Pereira. Motivo: a divisão dos cargos na Secretaria de Prevenção à Violência, cujos indicados eram do grupo de Kelmann. Ele entregou os cargos. E o presidente do MDB Maceió, deputado federal Rafael Brito (MDB), descasca o pepino em silêncio.

Isso porque, no consenso interno do emedebismo, a candidatura de Brito à Prefeitura de Maceió atravessa momento delicado. Os palacistas não se entendem sobre lançar um candidato a prefeito – Brito, neste caso – ou dividir o cenário, com vários nomes. O objetivo das duas propostas é o mesmo: empurrar a votação ao segundo turno.

Por enquanto, a briga acaba empurrando uma vantagem ainda maior para JHC. Se isso vai durar? Só o tempo (e os acordos) dirão.


Encontrou algum erro? Entre em contato