Conteúdo do impresso Edição 1273

DESENVOLVIMENTO HUMANO

Alagoas teve a maior evolução no país no período de 10 anos

IDHM mede acesso ao conhecimento, vida longa e saudável e padrão de vida decente
Por TAMARA ALBUQUERQUE 06/07/2024 - 05:00

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Em 10 anos, índice de Alagoas teve uma elevação de 5,1%, a maior do país
Em 10 anos, índice de Alagoas teve uma elevação de 5,1%, a maior do país

O Brasil registrou progressos significativos nos últimos 30 anos. Entre 1991 e 2021, a expectativa de vida ao nascer dos brasileiros avançou em 6,8 anos, a média de anos de estudo da população cresceu 4,4 anos e houve uma expansão de 40,1% da renda nacional per capita. Porém a pandemia de covid-19 impactou o desenvolvimento humano, causando no país um retrocesso médio de 22,5%, o que equivaleria a voltar para o estado de desenvolvimento humano de seis anos antes do início da crise estabelecida pela doença.

As informações estão no relatório especial “Construir caminhos, pactuando novos horizontes” que avalia o cenário de antes e depois da pandemia de covid-19 e aponta para o futuro, alertando que “o progresso desigual no desenvolvimento humano não permitirá responder às aspirações das pessoas, nem habilitar a transição para o alcance das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O trabalho foi lançado no final de maio, em Brasília, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

O relatório revela que, em 2021, ápice da pandemia, a esperança de vida dos brasileiros regrediu para 74,16 anos; a frequência escolar recuou para 98,84%; e a renda domiciliar per capita caiu para R$ 723,84. A pandemia da covid-19, no período de 2020-2021, impactou mais fortemente os estados de Roraima com um recuo de -6,7% no IDH, Amapá com -6,6% e Rio de Janeiro com -5,8%.

No balanço final, entre 2012 e 2021, apesar de alguns estados do Nordeste terem perdido posição pela régua que mede o grau de desenvolvimento humano, a região apresentou uma inversão menos significativa. Segundo o relatório, isto ocorreu porque, ao mesmo tempo em que os estados do Nordeste apresentaram variações com maiores ganhos entre 2012/2019, foram também esses que sofreram perdas menos significativas entre 2019/2021.

Neste cenário, Alagoas e Sergipe sofreram perdas menores entre 2019/2021, com um recuo no IDH de -0,4%, enquanto o Ceará teve recuo de -1,3% e o Rio Grande do Norte -1,9%. O relatório mostra que “nesse jogo de ganhos (entre 2012-2019) e perdas (entre 2020-2021), os estados que no geral ficaram melhor posicionados foram Alagoas, com a maior evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 5,1%; Ceará e Rio Grande do Norte, com 4,7%; Piauí e Pernambuco, com 4,5% e Maranhão, com 4,3%.

Tomando como base o cenário completo, no período de 2012 a 2021, foi registrado no país o aumento do IDHM em 18 estados, incluindo Alagoas, em sete foram registradas quedas e em dois não houve alteração. Vale lembrar que o IDHM, metodologia adaptada do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), foi criado em 1990 e lançado no Brasil em 1998. O índice estima o desenvolvimento humano, tendo como base a garantia do acesso ao conhecimento, a uma vida longa e saudável, e a um padrão de vida decente, sintetizados nas dimensões educação, longevidade e renda.

O IDHM oferece um panorama mais abrangente sobre o desenvolvimento humano de uma região, além de permitir comparações entre diferentes localidades. O índice pode ajudar a identificar, por exemplo, desigualdades sociais e educacionais, bem como auxiliar na formulação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida das pessoas. Obviamente, o IDH e o IDHM não são uma leitura perfeita, pois analisa apenas três parâmetros. Há cinco faixas do IDH: Muito alto: 0,800 a 1,00; Alto: 0,700 – 0,799; Médio: 0,600 – 0,699; Baixo: 0,500 – 0,599 e Muito baixo: 0,000 – 0,499.

De acordo com o relatório, os aspectos mais profundos da evolução do desenvolvimento humano no Brasil destacam que o padrão das desigualdades estruturais que estacionaram o país, como as desigualdades regionais, de gênero, de raça e outras, são ainda um obstáculo.

A partir da análise focada no recorte IDHM por cor, verifica-se que o hiato entre o IDHM dos negros em relação ao dos brancos ensaiava uma redução ao longo dos anos, atingindo, em 2018, a menor diferença, considerando o período ex-ante crise pandêmica. Em 2020 e 2021, no entanto, o hiato entre o IDHM de negros e brancos voltou a cair, impulsionado pela queda da desigualdade da renda do IDHM.

A leitura, a partir dos estados, para 2021, coloca Maranhão, Alagoas e Amapá com os mais baixos resultados do IDHM para negros, em contrapartida ao Distrito Federal e São Paulo, que apresentam as melhores performances. Ademais, à exceção de Ceará e Tocantins, os resultados do IDHM para os negros, nos estados das regiões Norte e Nordeste, ficaram abaixo de 0,700.

Em relação ao IDHM por sexo, a análise regional demonstra que em 26 estados o IDHM das mulheres é superior ao dos homens. O único estado que fugiu à regra foi o Amapá, ainda que, exclusivamente, no ano de 2021 — em todos os outros anos, a performance das mulheres no IDHM foi superior àquela verificada para os homens.

Em Alagoas, o IDHM das mulheres apresenta resultado médio, assim como no Amapá, Maranhão e Piauí. Os melhores resultados estão no Distrito Federal, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Entendendo que as desigualdades são um obstáculo à implementação da Agenda 2030, o PNUD Brasil trouxe em 2022 o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Ajustado à Desigualdade (IDHMAD). Ao levar em conta o padrão de desigualdade, os dados proporcionaram um cenário mais realista: a perda no desenvolvimento humano medidas pelo novo índice foi de 22,5%.

Segundo o relatório, pela régua que classifica o desenvolvimento humano, os resultados do IDHMAD posicionavam o Brasil como um país de baixo desenvolvimento humano, entre os anos de 2012 e 2017; médio, nos anos de 2018, 2019 e 2020; retornando à classificação de baixo, em 2021. “Essas medidas revelam o quão distante o desenvolvimento humano do país está da maioria dos brasileiros, longe de patamares almejados de bem-estar, igualdade, liberdades de escolha, acesso aos bens e serviços, e garantia de condições dignas de vida”, diz o texto.

Entre os anos de 2012 e 2019, a evolução regional do IDHMAD caminhou no sentido de redução das desigualdades, sendo esta redução mais intensa nos estados do Sudeste e do Centro-Oeste do país, bem como em alguns estados do Nordeste. Contudo, sob a perspectiva regional, a análise dos IDHMAD das cinco regiões brasileiras comparada aos resultados do IDHM, constata que as desigualdades são mais acentuadas nas regiões Nordeste e Norte do país.

Nesse contexto, em 2021, o relatório revela que o Maranhão foi o estado com o mais baixo resultado para o IDHMAD e contou com a maior diferença entre o IDHM e IDHMAD. Segundo o levantamento, na comparação estadual entre os rankings do IDHM e o IDHMAD, estados como Acre, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Rio de Janeiro e o Distrito Federal caíram quatro ou mais posições na colocação que ocupavam com o IDHM. Em outras palavras, esses cinco estados e o Distrito Federal sofreram impactos mais fortes quando tiveram seus IDHM ajustados à desigualdade.

Do lado oposto, Amapá e Pará apresentaram menores quedas, quando ajustados pela desigualdade. “Por meio da avaliação das diferenças regionais entre o IDHM e o IDHMAD, e das perdas pela desigualdade, é possível identificar dois Brasis distintos: o Brasil do Norte e Nordeste, onde a desigualdade é mais intensa e o Brasil do Centro-Oeste, Sul e Sudeste, onde a desigualdade é comparativamente menor”, avalia o trabalho.

Os resultados extremos apontam que o estado com a menor diferença entre o IDHM e o IDHMAD é Santa Catarina, com um valor de perda de 15,4%, enquanto o estado com a maior diferença é o Maranhão, com perda de 27,1%, seguido por Alagoas e Piauí, ambos com perdas de 26,2%.


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