Conteúdo do impresso Edição 1275

ELEIÇÕES

PT de Alagoas perde autonomia e ameaça planos de Paulão

Interferência nacional e priorização de apoios têm causado desconforto a filiados do partido
Por BRUNO FERNANDES 20/07/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE

PT MACEIÓ
Plenária do PT de Maceió realizada no começo de julho com a presença da vereadora Teca Nelma e deputado Paulão
Plenária do PT de Maceió realizada no começo de julho com a presença da vereadora Teca Nelma e deputado Paulão

A intervenção do comando nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) em Alagoas pode confirmar nos próximos dias a desistência de Ricardo Barbosa como candidato a prefeito de Maceió em favor de Rafael Brito, do MDB. Essa decisão, apoiada pelo senador Renan Calheiros (MDB), é vista por filiados como uma crescente ingerência da cúpula nacional nas escolhas locais do partido e como uma ameaça ao futuro político de nomes experientes, como o de Paulão.

A direção nacional do PT, visando compor com o MDB, pode indicar um vice para Rafael Brito ou apenas apoiar sua candidatura, conforme a pressão dos membros históricos do partido. Esta situação mostra também um crescente desconforto entre os filiados do PT, que veem a autonomia do diretório local ser minada por decisões impostas de cima para baixo.

Embora o PT nacional justifique tais decisões como estratégicas, não é a primeira vez que a base em Alagoas sofre com interferências. Um caso anterior, que se arrastou por algumas semanas de incertezas, envolveu a vereadora Teca Nelma, que teve sua filiação vetada pelo diretório de Maceió, mas foi revertida pela direção nacional, após apoio da presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann.

A decisão de vetar Ricardo Barbosa também reflete o descontentamento local, uma vez que pesquisas indicavam pouco apoio ao seu nome. Renan Calheiros e o presidente Lula (PT) discutiram o assunto em reunião fechada, resultando no veto e na recomendação de apoio a Rafael Brito, contrariando a promessa anterior de Hoffmann, que chegou a afirmar que Barbosa seria o nome do PT para disputar com JHC (PL).

Com essa nova intervenção, filiados enxergam o PT de Alagoas como uma sigla cada vez mais submissa ao MDB, especialmente ao senador Renan Calheiros, perdendo sua identidade e a confiança. O fenômeno não é isolado e tem se repetido, evidenciando uma centralização das decisões que contrasta com a democracia interna que o PT preza em sua origem.

Não faltará um nome para vice do MDB, visto que outras legendas que integram a federação partidária da qual faz parte o PT já manifestam interesse em indicar alguém. A direção nacional do PT, portanto, opta por um caminho que gera constrangimento entre personagens históricos da legenda.

A intervenção anterior que resultou na entrada de Teca Nelma no partido, apesar da resistência local, é um exemplo claro de como a direção nacional teria ignorado a autonomia do diretório em Alagoas. Esse padrão de interferência pode ter repercussões a longo prazo, como em uma possível candidatura de Paulão ao Senado em 2026.

A decisão do atual deputado federal de concorrer ao Senado aparece em um momento de crescente desgaste entre os atuais poderosos da política local. Arthur Lira e Renan Calheiros enfrentam uma crescente insatisfação dos eleitores. Lira e as pautas bombas na Câmara dos Deputados, e Calheiros sendo forçado a “sumir” das redes sociais para preservar Rafael Brito na disputa pela Prefeitura de Maceió, evidenciam o que pode vir a se tornar uma disputa majoritária em 2026 ainda mais desafiadora.

A corrida por uma vaga no Senado, onde o voto espontâneo tem mais peso do que na eleição proporcional, pode ser sua chance de realizar um “voo mais alto”, a menos que, em algum momento do caminho, um novo acordo seja selado e novas ordens de cima atrapalhem os planos do parlamentar de competir contra a “turma da grana”.


Encontrou algum erro? Entre em contato