Conteúdo do impresso Edição 1278

ELEIÇÕES

Sem Cunha, eleição ao Senado fica mais barata

Escolhido como vice de JHC ajudou Lira e Calheiros, menos ele mesmo
Por ODILON RIOS 10/08/2024 - 06:00
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REPRODUÇÃO
Deputados Arthur Lira e Alfredo Gaspar (D) na convenção que oficializou JHC e Cunha para prefeito e vice
Deputados Arthur Lira e Alfredo Gaspar (D) na convenção que oficializou JHC e Cunha para prefeito e vice

A indicação de Rodrigo Cunha (Podemos) como candidato a vice-prefeito na chapa de JHC (PL) virou alívio para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o senador Renan Calheiros (MDB). Porque nas apostas eleitorais o voto ficaria mais caro se Cunha decidisse disputar a reeleição no Senado Federal, quando Renan e Lira disputarão as duas vagas na casa legislativa em 2026. No futuro, se Cunha fosse reeleito – eis a projeção atual – Renan ou Lira ficariam sem mandato. Se perdesse, a projeção é que seria por poucos votos.

Em ambos os casos, o mercado eleitoral ficaria ainda mais inflacionado, com vereadores, prefeitos e lideranças cobrando preços maiores em nome da fidelidade e o risco de derrota tanto de Lira quanto de Renan.

A decisão de Rodrigo Cunha, porém, altera todo o jogo. Ganha até o prefeito de Maceió. Se for reeleito, JHC terá a mãe Eudócia Caldas (PL), hoje suplente, assumindo a titularidade no Senado por mais quatro anos.

“Eles tiraram o Rodrigo Cunha, que foi derrotado para o governo do Estado, do Senado Federal para ser vice-prefeito. Se ganharem a eleição, quem assume o Senado é a mãe do prefeito de Maceió. É assim que eles fazem política”, disse o ministro dos Transportes, Renan Filho, na convenção que lançou o nome do deputado federal Rafael Brito como candidato a prefeito do MDB, tendo como vice Gaby Ronalsa (PV).

“Nunca um senador havia deixado seu cargo para ser candidato a vice-prefeito. Rodrigo Cunha passou seis anos em Brasília sem fazer nada por Maceió ou Alagoas. Aceitou ser vice porque não tinha chance de disputar o Senado”, disse o ministro.

Chance tinha, mas Rodrigo Cunha avaliou que correria o risco de ficar sem mandato. Teria de arriscar ser escolhido por Arthur Lira como o segundo voto, o que não interessa ao presidente da Câmara. A ascensão de uma terceira força política, rivalizando com Calheiros e Lira, significa menos força para ambos também nos interiores, onde os prefeitos se ajustam a um cenário dividido por dois.

Da forma como o jogo foi jogado, todos ganharam, até a oposição. Menos Rodrigo Cunha, é a avaliação dos grupos mais pragmáticos.

Porque JHC já era considerado um fortíssimo candidato no cenário da capital, com potencial de chegar ao governo do Estado daqui a dois anos. A presença de Rodrigo Cunha como vice apenas consolida um caminho previamente arranjado, independente do vice.

Diferente, por exemplo, de Rafael Brito. A vice Gaby Ronalsa garante a aproximação do deputado federal com setores mais conservadores da igreja católica e do bolsonarismo. Não devemos esquecer que Maceió foi a única capital do Nordeste onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi mais votado que o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Voltando à chapa de JHC, Rodrigo Cunha estará à espera de assumir a Prefeitura. Depende da decisão de JHC deixar o mandato em 2026 para disputar o governo.

Mas não sairá antes que a Braskem pague todas as parcelas do acordo, firmado com a Prefeitura de Maceió, totalizando R$ 1,7 bilhão, dinheiro para reparar os danos patrimoniais causados à cidade pelo afundamento do solo. Além da execução do dinheiro dos empréstimos, tomados com entidades nacionais e internacionais, para investimentos na capital.

Na prática, a posição de Rodrigo Cunha será a mesma do hoje vereador Marcelo Palmeira (PL) quando ele era vice-prefeito de Rui Palmeira, antecessor de JHC. Rui prometeu que deixaria o comando da gestão municipal para disputar as eleições majoritárias. Desistiu e Marcelo Palmeira, para se manter na política, disputou a vaga de vereador. Hoje no grupo de JHC, Palmeira é cotado como futuro presidente da Câmara da capital, além de liderar as eleições em Barra de São Miguel, Atalaia e Capela.


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