MENINGITE
Alagoas tem segunda maior incidência de casos no país
Doença endêmica de alta letalidade para o sorotipo B matou 21 crianças em um anoAlagoas vive período de endemia para meningite, doença que no período entre agosto de 2023 e julho de 2024 levou a óbito 21 crianças entre as 50 pessoas infectadas, principalmente com a bactéria do sorotipo B, com 37% dos casos. O estado ocupou o 2º lugar no país em incidência de casos no período, perdendo apenas para São Paulo. Este ano, Alagoas já notificou 39 casos confirmados da doença e outros 23 estão em investigação, segundo o painel epidemiológico do Ministério da Saúde.
A taxa de letalidade dos pacientes infectados em Alagoas chegou a 50% no período citado acima contra 32% registrada em todo o ano passado, segundo dados da Sociedade Alagoana de Infectologia. Crianças menores de 2 anos são as principais vítimas.
A doença pode ser fatal em 24 horas ou deixar sequelas graves, como surdez, amputação de membros ou comprometimentos neurológicos. Casos de meningites bacterianas são mais comuns no outono-inverno e das virais na primavera-verão. A doença atinge as membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal.
O primeiro óbito pela doença em 2024 aconteceu no dia 1º de janeiro. A criança Ícaro Matteo, de 1 ano e 3 meses, residente em Arapiraca, não resistiu à meningite, que mostrou os primeiros sinais no dia anterior ao óbito. Porém, a maioria dos casos e óbitos por meningite em Alagoas está em Maceió. A capital registrou até 22 de julho 20 casos confirmados de meningite (outros 9 estavam em investigação) com cinco óbitos, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde. As vítimas residiam no Benedito Bentes, Jatiúca, Petrópolis e Trapiche.
O aumento do número de casos de meningite em Alagoas preocupa profissionais da rede de saúde e tira o sono de pais de crianças que não têm condições financeiras para pagar pela vacina que protege contra a doença causada pela bactéria do sorotipo B, para a qual só há imunizante disponível na rede privada de saúde. A vacina é comercializada, em média, por R$ 600 a dose, custo alto para a grande maioria da população, já que, dependendo da idade, é necessário tomar três doses para garantir total imunidade contra a doença, segundo a presidente da Sociedade Alagoana de Infectologia, Mardjane Lemos Nunes.
O Calendário Nacional de Vacinação dispõe atualmente de 19 imunizantes para crianças até 2 anos, que podem ser encontrados nos postos de vacinação e Unidades de Saúde de todo o estado. Destes, cinco servem de escudo para a meningite e agem em várias frentes, já que a doença pode ser causada por diferentes agentes infecciosos. A primeira vacina contra meningite que deve ser aplicada é a BCG, no recém-nascido. Já as vacinas meningocócicas são administradas em crianças aos 3 e 5 meses de idade, e na adolescência, dos 11 aos 14 anos.
As sociedades médicas recomendam, sempre que possível, o uso da vacina meningocócica conjugada para os sorotipos ACWY em esquema vacinal que deve ser iniciado na rotina aos 3 meses de idade, com duas doses e reforços entre os 12 e 15 meses; aos 5 anos, 11 anos e aos 16 anos de idade. Porém, a vacina para meningite B, que é a maioria dos casos notificados em Alagoas nos últimos 12 meses, não está disponível pelo SUS.
A infectologista explica que entre as medidas gerais para prevenção da meningite tipo B, a vacina é a mais importante e eficaz. Segundo a médica, muitos países já incorporaram a vacina pela rede pública, que pode ser utilizada por pessoas até os 50 anos de idade, mas não há recomendação de vacinação em massa. “O racional é vacinar por faixa etária”, explica.
Mardjane Lemos é defensora da implantação da vacina pelo SUS. “Pelo potencial de transmissão e letalidade é importante que a vacina (contra o meningococo B) seja introduzida na rede pública. O Brasil já dispõe da vacina, aprovada pela Anvisa”. No próximo dia 21, essa questão será discutida em audiência pública promovida pelo Ministério Público Federal, às 14h, no auditório da Procuradoria da República no Estado de Alagoas, em Maceió.
Transmissão se dá pelo contato direto
Em geral, a transmissão da meningite é de pessoa para pessoa pelo contato direto com secreções da boca, nariz ou faringe, mais frequentemente por meio de espirro, tosse, fala e beijo. Mardjane Lemos inclui entre os sintomas o aparecimento de manchas roxas na pele, uma característica da meningite tipo B.
Nas crianças, os pais precisam ficar atentos ao choro intenso, irritabilidade, recusa alimentar, febre alta, vômitos e convulsões. Em adultos, os sintomas mais comuns são febre alta, dor de cabeça, rigidez de nuca, mal-estar, náuseas e vômitos, intolerância à luz, confusão mental e convulsões. Os sintomas demandam atendimento médico imediato para diagnóstico e início do tratamento.
Como medidas de prevenção, é importante também a manutenção dos ambientes ventilados; medidas de higiene e lavagem das mãos; cuidados com a preparação dos alimentos; evitar aglomerações em locais com ventilação restrita; usar etiqueta respiratória, isto é, cobrir a boca e nariz ao tossir ou espirrar; não compartilhar copos, talheres, alimentos e outros objetos. Os pais devem evitar levar crianças menores para locais com muitas pessoas e dobrar atenção para qualquer alteração nos filhos que frequentam creches e escolas.