Conteúdo do impresso Edição 1292

JOGO DO PODER

Negociação por 2º voto ao Senado movimenta prefeitos

Rodrigo Cunha sai de cena mas será cabo eleitoral de Lira, que projeta votação maior que Renan
Por ODILON RIOS 16/11/2024 - 08:21

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EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO
Renan Calheiros, que vai em busca do quinto mandato no Senado, em conversa com jornalistas de Brasília
Renan Calheiros, que vai em busca do quinto mandato no Senado, em conversa com jornalistas de Brasília

Sem Rodrigo Cunha (Podemos) na disputa ao Senado em 2026, o caminho da eleição está livre para Renan Calheiros (MDB) e Arthur Lira (PP) disputarem, com muita vantagem, as duas vagas. E as negociações (ou barganhas) envolvendo o segundo voto dos prefeitos já começaram. Todos os chefes de Executivo foram reeleitos ou elegeram seus sucessores.

Porém, um fantasma ronda Lira e Renan: nome ou nomes tão ou mais fortes que ambos querendo também o Senado. Em Rio Largo, por exemplo, o prefeito Gilberto Gonçalves (PP) é aliado do presidente da Câmara. Em 2018, Rodrigo Cunha foi o mais votado ao Senado; Renan, o segundo. Para a Câmara Federal e disputando a reeleição, JHC foi o mais votado e Arthur Lira terminou em terceiro.

Isso significa que o cenário pode se transformar, caso o hoje prefeito de Maceió decida deixar a gestão para se espremer no embate Renan x Lira. Levando em conta o movimento das urnas em Rio Largo, tanto em 2018 quanto em 2024, o calheirismo está em baixa. Arthur Lira surfa na vantagem e, teoricamente, será o mais votado porque o prefeito GG transfere votos. Lira também define o segundo nome ao Senado.

O MDB lançou Pedro Victor para enfrentar o clã Gonçalves. Ficou em quarto lugar, com 3,84%. Maceió também tende a descartar Renan. Em 2018, Rodrigo Cunha e o então deputado federal Maurício Quintella foram os dois mais votados ao Senado. Em 2024, o candidato de Calheiros, o deputado federal Rafael Brito (MDB), enfrentou o prefeito JHC nas urnas. Terminou com 12,74%, um fracasso retumbante, já que o calheirismo apostava alto em levar a disputa para o segundo turno.

Se o prefeito concorrer ao Senado e grudar em Arthur Lira, pode ajudar a transferir votos. Em 2022, Lira foi o quinto federal mais votado na capital. Todos os que tiveram mais votos são aliados do parlamentar: Alfredo Gaspar de Mendonça (União Brasil), Dr. JHC (PL), Delegado Fábio Costa (PP) e Paulão (PT). O petista ensaia aproximação ainda maior com Lira, em especial no interior.

A situação fica ainda pior para Renan caso o ex-deputado estadual Davi Davino Filho (ainda filiado ao PP) decida ser o segundo voto. Ele nega a intenção, mas lembra: “Meu voto ao Senado é para Arthur Lira”. A segunda escolha ainda é um mistério. Davi Davino Filho ficou em terceiro lugar concorrendo para prefeito de Maceió em 2020. Dois anos depois, foi o mais votado ao Senado na capital, mesmo rivalizando com o ex-governador Renan Filho e seu mandato bem avaliado. Além disso, inclua-se uma dificuldade histórica dos Calheiros de vencer nas urnas da capital.

Arapiraca, segundo maior colégio eleitoral do estado, deu o dobro dos votos a Rodrigo Cunha em 2018 na disputa pelas duas vagas ao Senado, comparado a Renan. Foram 44,14% contra 21,32%. Cunha é filho de Ceci Cunha, e ela fez carreira política na cidade. Teoricamente, uma parte destes votos migraria para Arthur Lira. Outra peça importante neste jogo: o prefeito Luciano Barbosa é filiado ao MDB, é aliado de Renan, mas também de Lira. A correlação de forças é percebida nas urnas: Lira foi o sétimo mais votado em 2022, porém o voto de Davi Davino Filho tem peso. Na disputa ao Senado, Davi ficou com 40,25%. Perdeu para Renan Filho (59,08%), por pequena vantagem.

Palmeira dos Índios tem o prefeito Júlio Cezar como o peso que define para qual lado pende o prato da balança. Arthur Lira foi o quinto mais votado em 2022, mas em 2018 Rodrigo Cunha venceu Calheiros. Renan Filho teve 6 a cada 10 votos ao Senado, enquanto Davi Davino Filho, 3 de 10. Pode-se dizer que o hoje ministro dos Transportes ajudaria a transferir votos para o pai em Palmeira.

Na cidade de União dos Palmares, Lira foi o mais votado entre os federais. A vantagem de Renan Filho foi maior: 7 em cada 10 eleitores escolheram o hoje ministro para o Senado. Mas quando Renan pai foi para as urnas buscar a reeleição, Rodrigo teve leve vantagem de 300 votos, confirmando a própria força na época, mas também a do emedebista.

Mesmo fora da disputa, Rodrigo Cunha será chamado para virar cabo eleitoral de Arthur Lira, com quem já fez oposição em 2018. O futuro vice-prefeito da capital pode incomodar Renan pai, mas o poder do senador que tentará a quarta reeleição não pode ser subestimado.


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