JOGO DO PODER
Lideranças antecipam Papai Noel e miram cargos em Brasília
Lira, Bulhões e Calheiros buscam prestígio e poder na capital federalO próximo ano carrega expectativas para lideranças políticas alagoanas em busca de cargos e prestígio em Brasília. Para seguir encabeçando seus grupos, aumentando o próprio valor eleitoral.
O futuro presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), esteve na semana passada em Alagoas para a cerimônia do beija-mão. Procurou o governador Paulo Dantas (MDB), depois o deputado Arthur Lira (PP), atual presidente da Casa. Abençoado por ambos, amarra votos como o candidato do presidente Lula (PT) ao posto máximo do legislativo federal. Quando for eleito, terá as mãos beijadas por aqueles que desejam “o melhor para Alagoas”, um jargão ainda bastante em voga, porém útil àqueles que se mantêm da e na política partidária.
Lira espera em Motta a força que hoje o alagoano não tem para virar ministro de Lula. Pensa na saúde, o que pode ser coincidência porque a direção do Hospital Veredas, em Alagoas, é indicada por ele. A instituição passa por uma crise sem precedentes, funcionários há meses sem receber salários. Esta semana eles suspenderam uma greve após a destituição do diretor-presidente Edgar Antunes e a formação de uma junta interventora por ordem da Justiça Federal. Junta com representante do governo, da Prefeitura de Maceió e do hospital. Os trabalhadores ficaram de fora. E a direção financeira do Veredas permanece com Pauline Pereira, prima de Lira.
“Estamos abertos à negociação, mas não pode haver tranquilidade enquanto os trabalhadores ainda amargam atrasos nos pagamentos. Há mais de vinte anos que vivemos esta realidade cruel no Veredas. Foi preciso que realizássemos atos na principal avenida da capital alagoana para chamar a atenção da sociedade e consequente agilização de uma solução para os graves problemas do hospital. Nosso dever é salvar vidas e dar o atendimento mais profissional possível aos nossos pacientes. Mas, infelizmente, por absoluta culpa de gestões desastrosas, chegamos a este ponto de ter que realizar os atos na Avenida Fernandes Lima”, disse Cinthia Carvalho, presidente do Sineal (Sindicato dos Enfermeiros de Alagoas).
2025 ainda é de indefinições aos trabalhadores do Veredas. Não para Lira, cuja tática é garantir um cargo no primeiro escalão com poder e orçamento. Afinal, se os Calheiros têm um ministério, por que não receber um posto à altura?
O Papai Noel lirista é animado. Mas o do líder do MDB Isnaldo Bulhões tem um indicativo mais claro: ele deve presidir a Comissão de Constituição e Justiça ou do Orçamento na Câmara. Bulhões era candidato a presidente, mas abriu mão em troca dos acordos. Além disso, Santana do Ipanema – reduto da sua família – recebeu R$ 57 milhões do orçamento secreto, dinheiro gasto com pouca transparência, porém amarrando compromissos de Isnaldo com Hugo Motta e Lira.
O senador Renan Calheiros (MDB) também carrega expectativas com o colega Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), também eleito por antecipação presidente do Senado. Renan teve papel de destaque na CPI da Covid, mas está fora da crista do poder em Brasília. E isso é necessário porque ele disputa a reeleição em 2026. Lira quer a outra vaga de senador. E cada um vai lançar seu candidato com capacidade de destruir um ao outro; juntar as mãos na “união por Alagoas” ou apoiando nomes pouco expressivos, afagando lideranças e anunciando uma “aliança branca”.
O prefeito de Maceió, JHC (PL), se articula em Brasília. Seu futuro no partido também está sob avaliação após indiciamento pela Polícia Federal de Valdemar da Costa Neto e Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Até a última terça, 3/12, discutia-se se a tia do prefeito Marluce Caldas, atual promotora de Justiça alagoana, seria indicada por Lula como ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ). É uma negociação bastante complexa, que envolve Arthur Lira e os Calheiros.
Aí estaria o ensaio da “união por Alagoas”: Lira e os Renans apoiam Marluce Caldas, o que pode retirar JHC da disputa ao governo em 2026. Isso evita que o ministro dos Transportes, Renan Filho, deixe Brasília e dispute o governo para “paralisar” a escalada política e eleitoral de Jota. Ou ainda isso estimule uma nova candidatura do futuro vice-prefeito e hoje senador Rodrigo Cunha (Podemos) ao governo. Lembrando que Cunha disputou com Paulo Dantas a chefia do Executivo em 2022 e a diferença entre eles foi pouco superior a 70 mil votos – e Dantas tinha dois senadores, Lula e o presidente da Assembleia, Marcelo Victor (MDB), no palanque.