massa falida da laginha
Thereza Collor revela planos para reativação de usinas em Alagoas
Em meio a embates, empresária critica Lourdinha Lyra e destaca avanços no pagamento de credoresA partir da próxima semana, cerca de 11 mil credores da Massa Falida da Laginha começarão a receber seus pagamentos. A medida foi viabilizada após a aprovação, com 95% dos votos, do plano de pagamento durante a Assembleia Geral dos Credores, realizada na quinta-feira, 19, no Pleno do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL). O acordo, considerado importantíssimo pela empresária Thereza Collor, filha do falecido ex-deputado federal João Lyra, foi visto como uma solução indispensável para os envolvidos. Mesmo estando na Espanha, onde visita sua mãe, Solange Queiroz, Thereza concedeu uma entrevista exclusiva ao EXTRA, na qual falou sobre sua relação com a família, o andamento do processo falimentar e comentou sobre a possível reativação das usinas de Lyra: “o homem que mais gerava emprego em Alagoas”.
A AGC foi conduzida pelos juízes responsáveis pelo julgamento do processo: Helestron Costa, Nathália Viana e Thiago Lopes, com o apoio da administradora judicial Vivante Gestão e Administração Judicial LTDA. Os pagamentos serão efetuados pelo BRB. O processo de falência da Laginha Agro Industrial é considerado por especialistas como um dos mais complexos do país, sendo apontado como o mais delicado e sensível da história do Direito de Insolvência no Brasil. De acordo com informações divulgadas pelo Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL), entre os principais credores estão a União e o Estado de Alagoas, que deverão receber aproximadamente R$ 160 milhões da massa falida.
"Foi aprovado um plano de pagamento para todos os credores restantes, o que aconteceu praticamente por unanimidade. Foi uma excelente solução para todos. O novo administrador judicial é uma pessoa diferenciada, que não fez nenhuma trampolinagem. Ele estava focado em resolver o problema, assim como os juízes. Foi um esforço conjunto e nós participamos ativamente, dia e noite, conversando com credores e bancos para garantir que todos dessem o ok”, destacou Thereza Collor. Armando Lemos Wallach, da Vivante Gestão e Administração Judicial LTDA, atual administrador judicial, assumiu o processo falimentar em junho deste ano, substituindo Ígor Telino, a quem a empresária não poupa críticas.
Disputas
A insatisfação com a gestão anterior da massa falida ganhou destaque nacional. Segundo ela, Ígor Telino, com o aval da irmã e inventariante Lourdinha Lyra, estava conduzindo uma administração irresponsável. Thereza também fez duras críticas a Lourdinha, apontando omissões graves, especialmente pela ausência de questionamentos da inventariante quanto aos atos do ex-administrador. O principal ponto de crítica foi a perda de um prazo para incluir o grupo Laginha em um programa da Fazenda Nacional que poderia ter reduzido em 75% a dívida com o Fisco até dezembro de 2022. O mesmo aconteceu com um programa estadual que retiraria 95% de multas e juros, acordo que deveria ter sido fechado até dezembro do ano passado, o que também não ocorreu.
Diante da suposta negligência do ex-administrador, quatro irmãos pediram sua destituição, o que resultou no quinto descredenciamento de um responsável pela gestão dos bens e dívidas da Laginha. No entanto, o pedido nunca foi julgado pela juíza Emanuella Porongaba, que hoje encontra-se afastada de suas atividades.
No entanto, as críticas de Thereza Collor à antiga gestão e à irmã resultaram em processos contra ela. Thereza acusou Lourdinha Lyra de supostas irregularidades e de gestão temerária, que teria colocado em risco o patrimônio familiar. De acordo com a queixa-crime registrada por Lourdinha na 10ª Vara Criminal do Foro de Maceió, as declarações de Thereza à imprensa teriam a intenção de “macular” seu “prestígio social” em Alagoas, “suscitar desprezo público”.
Ao EXTRA, a empresária não mostrou arrependimentos de sua decisão de agir, naquele momento, contra a irmã. “Eu juro que ainda seria capaz de sobrar dívida para a gente. O Ígor Telino, o ex-administrador, da forma temerária que estavam conduzindo a massa falida, dizia que não ia sobrar nada para a família”, declarou.
Há 31 anos, uma entrevista concedida por Pedro Collor, ex-marido de Thereza, à Revista Veja, alterou os rumos da história política do Brasil ao abrir o caminho para o impeachment de Fernando Collor. Naquele momento, Thereza passou a ser reconhecida como a "musa do impeachment". Ao rememorar aquele período turbulento, ela reflete: "Foi uma batalha enorme com Pedro Collor. E nunca imaginei que teria outro embate tão grande envolvendo minha família", em referência ao processo contra Lourdinha Lyra.
Futuro
De acordo com o magistrado Helestron Costa, o caso da Massa Falida da Laginha é um processo peculiar porque a dívida ficava muito próxima do patrimônio e a aprovação de um plano de liquidação de crédito por meio de votação entre os credores foi uma medida inédita no país. Os interessados optaram pela forma como receberiam os créditos, com aplicação de deságios (descontos) para recebimento à vista. “Como os credores aceitaram participar da Assembleia e votar para que fosse aplicado o deságio, conseguimos chegar até as classes finais, porque os credores, com privilégio [estabelecidos por lei], poderiam receber um valor menor para que os credores subsequentes pudessem receber também. Isso nunca aconteceu antes porque essa metodologia nunca tinha sido aplicada e o dinheiro acabava só nas classes com privilégio”, esclareceu.
O ex-funcionário Luiz Ribeiro da Silva, de 68 anos, trabalhou por 16 anos em cargo de gerência do Grupo Laginha Agro Industrial. Ele classificou o dia como histórico e falou sobre a sensação com o encerramento desse ciclo em sua vida. “Eu usaria até a palavra alívio, porque é um processo que vem rolando há muitos anos. Esse novo grupo de juízes, que assumiu em julho com a nova administração judicial, conseguiu dar mais dinâmica ao processo. Muitos dos nossos colegas trabalhadores dedicaram a vida toda para essa empresa, alguns mais de 30 anos, e estavam sem receber o dinheiro. Confiamos que o que foi decidido hoje virá se tornar realidade, que é o recebimento dos nossos créditos”, informou.
Com o respiro financeiro proporcionado ao processo falimentar, o EXTRA questionou Thereza Collor sobre a possibilidade de as usinas voltarem a operar. A resposta foi sucinta, mas com um pingo de esperança: "Temos a vontade de voltar a operar as usinas. Afinal, meu pai foi o maior empregador do estado. A família irá estudar todas as melhores possibilidades".
Em Alagoas, João Lyra possuía três usinas: a Uruba, em Atalaia; a Guaxuma, em Coruripe; e a Laginha, em União dos Palmares. Esta última, considerada "a menina dos olhos" de Lyra, é a que Thereza Collor tem maior apego afetivo, por remeter à sua infância ao lado dos irmãos. Atualmente, a Usina Uruba encontra-se arrendada para a Cooperativa Agrícola do Vale do Satuba (Copervales). Já Guaxuma e Laginha enfrentam invasões e depredações. "Houve muito roubo na Guaxuma. Existe grilagem, uma vergonha, um caso de polícia. No ano passado, esses grileiros não colocaram um tostão na massa falida. Estou contando com a polícia e espero que a justiça seja feita, tirando os grileiros da fazenda e fazendo-os pagar pelo que fizeram."
Foco em Alagoas
A falência do grupo foi decretada em 2014, após a conversão de seu processo de recuperação judicial, iniciado em 2008. Com mais de 111 mil páginas, o caso se tornou o segundo maior processo falimentar do Brasil. Fundada pelo empresário e ex-deputado federal João Lyra, que faleceu em 2021, aos 90 anos, em decorrência da Covid-19, a Laginha Agroindustrial S/A se consolidou como uma das maiores potências do setor no estado de Alagoas. João Lyra, pai de seis filhos, construiu um legado, tanto no campo empresarial quanto na política. Em 2008, o grupo solicitou a recuperação judicial, mas, seis anos depois, em 2014, o TJAL decretou sua falência. Diante disso, surge a grande questão: como um império tão robusto, que chegou a operar cinco usinas, incluindo duas em Minas Gerais, hoje já vendidas, pôde chegar ao colapso?
Thereza Collor fez sua análise: “Papai era muito centralizador, nunca interferimos nos negócios dele. Quer dizer, os filhos tinham pouca influência. Quando ele entrou para a política, deixou os negócios de lado, as usinas.” Ela destacou ainda que a família sempre foi contra o patriarca se envolver diretamente na política. Antes de sua morte, circulavam rumores nos bastidores de que João Lyra estaria sofrendo de demência, uma alegação que foi parcialmente negada por Thereza Collor. Ela afirmou que, embora o patriarca já tivesse sido interditado, ele ainda reconhecia os filhos e permanecia, de certa forma, lúcido até sua morte.
Embora seja natural de Recife (PE), Thereza Collor cresceu em Alagoas e, ao longo de sua vida pública, na qual concedeu entrevistas a personalidades como Marília Gabriela, Hebe, Jô Soares, Lillian Witte Fibe e Clodovil, acabou se tornando um rosto associado também a São Paulo. No entanto, a empresária afirma que, na realidade, passa mais tempo em Alagoas do que muitos imaginam, “Passei mais da metade de 2024 no estado”, conta. O marido Gustavo Halbreich, por exemplo, é proprietário da Reserva Pituba, localizada em Coruripe. "Ele está em Alagoas. Temos um grande projeto no estado, com cerca de 700 empregos diretos, focado no turismo sustentável, com preservação dos biomas e no desenvolvimento da cultura local".
Thereza Collor finaliza a entrevista com um apelo: "Invadiram as terras de Guaxuma e estão plantando e vendendo cana de forma ilícita para a Usina Impacto. Na safra anterior, a Massa Falida não viu um centavo sequer desse dinheiro. É revoltante. Estamos contando com a ajuda da Polícia para descobrir para onde foi todo esse recurso. Só porque questionei e me recusei a ficar calada, acabei sendo xingada por um dos grileiros, que ainda tentou denegrir minha imagem publicamente."
E também com agradecimentos: "Quero registrar meu profundo agradecimento ao Judiciário de Alagoas, em especial ao presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Fernando Tourinho, ao corregedor-geral da Justiça, Domingos de Araújo Lima Neto, e ao desembargador e relator do processo Carlos Cavalcanti, que desempenharam papéis fundamentais para encaminhar essa situação com empenho e dedicação. Destaco também o trio de juízes que assumiram a condução do caso, liderados pelo juiz Helestron Costa, cujo trabalho foi essencial para alcançar os avanços que temos hoje. O respeito e a determinação demonstrados pelas autoridades foram essenciais para que houvesse progresso. Não posso deixar de mencionar também o esforço incansável de todos os advogados envolvidos. Muitos escritórios se dedicaram com afinco, acreditando que uma solução seria possível, mesmo diante da complexidade do caso. Se não fosse pelo empenho conjunto do Judiciário, das forças policiais e da equipe de advogados, não teríamos chegado até aqui. Sou profundamente grata a todos."