Gilberto Gonçalves cria supersecretaria e garante protagonismo na gestão do sobrinho

O ex-prefeito de Rio Largo Gilberto Gonçalves (PP) garantiu uma posição de destaque – praticamente de vice-prefeito – na nova gestão ao reformar, ainda em 2024, a Secretaria Municipal de Governo (Segov), pasta que passou a comandar logo no primeiro dia da administração de seu sobrinho e sucessor, Pedro Carlos da Silva Neto, conhecido como Carlos Gonçalves (PP). A estrutura montada para a pasta é superior à do próprio gabinete do prefeito, contando com 49 cargos além do dele, enquanto o gabinete do chefe do Executivo possui apenas 14.

A Segov dispõe de uma equipe robusta, incluindo um secretário executivo de governo, um secretário executivo de gestão estratégica e inovação, um coordenador de gestão estratégica, um coordenador de inovação, um chefe de gabinete, um assessor de comunicação e diversos assessores técnicos e especiais. 

O próprio Gilberto Gonçalves recebe um salário de R$ 20 mil, conforme consta no Portal da Transparência do município. Já o prefeito tem à sua disposição um chefe de gabinete, um assessor de comunicação, assessores especiais e um assessor de projetos especiais, e recebe um salário de R$ 36 mil. Já o vice-prefeito, Peterson Henrique (PP), tem vencimentos de R$ 24 mil. Para o gabinete de Henrique, são 8 comissionados, sendo assessores e um chefe de gabinete.

Chama atenção o fato de que o salário do ex-prefeito na Secretaria de Governo supera o dos demais secretários municipais, inclusive os de áreas essenciais, como Saúde e Finanças. O secretário de Saúde, José Aroldo Soares Ferro, e o secretário de Finanças, Luciano Ferreira dos Santos, recebem pouco mais de R$ 10 mil cada, menos da metade do valor destinado a Gilberto Gonçalves. 

De acordo com informações disponíveis no site da prefeitura, a Secretaria Municipal de Governo tem como atribuições assessorar o chefe do Executivo na coordenação das políticas públicas, articular ações entre os órgãos municipais, coordenar o encaminhamento de projetos de lei ao Legislativo e supervisionar programas e projetos do Poder Executivo.

Além de Gilberto Gonçalves, sua esposa e ex-prefeita de Rio Largo, Maria Cristina Cordeiro da Silva, a Cristina Gonçalves, também ocupa um cargo na atual gestão, comandando a Secretaria Municipal da Mulher e da Pessoa com Deficiência (SEMUPCD), com um salário de R$ 6.207,48. Os custos da Secretaria de Governo são estimados em R$ 56,5 mil mensais para os cofres públicos, valor superior aos R$ 55 mil destinados ao gabinete do prefeito.

EM FAMÍLIA

Gilberto Gonçalves governou o município por dois mandatos consecutivos, totalizando oito anos à frente da administração. Atualmente, ocupa o cargo de secretário municipal de Governo e é considerado o braço direito do prefeito e sobrinho por parte da esposa, Carlos Gonçalves. Sua influência política se estende à Assembleia Legislativa de Alagoas, onde sua filha, Gabi Gonçalves (PP), eleita deputada estadual em 2022, mantém a continuidade do grupo familiar no cenário político de Alagoas.

Ao longo de sua carreira, Gilberto Gonçalves enfrentou diversas acusações e processos judiciais. Em agosto de 2022, ainda como prefeito de Rio Largo, foi preso sob suspeita de desvio de recursos públicos federais, lavagem de dinheiro e organização criminosa, envolvendo verbas do Fundeb e do SUS entre 2019 e 2022. Durante sua ausência, sua esposa assumiu a gestão municipal até sua soltura e retorno ao cargo em outubro do mesmo ano.

Em dezembro passado, um episódio “inusitado” marcou a tradicional festa da Padroeira de Rio Largo e revelou tensões dentro do próprio grupo político de Gilberto Gonçalves. Durante o evento religioso, ainda no cargo de prefeito, ele protagonizou uma cena de constrangimento ao quase ignorar um abraço de sua esposa em público, gerando comentários entre os fiéis. O ápice da tensão ocorreu ao se aproximar de Carlos Gonçalves, então prefeito eleito, quando, com expressão fechada e em tom ríspido, estendeu a mão e disparou: “Cabra safado”.