JOGO DO PODER
Sobrevivência e imunidade põem Paulo Dantas na cena de 2026
Governador insiste que termina mandato, mas ações indicam caminho inverso
O governador Paulo Dantas (MDB) voltou a insistir que não será candidato em 2026. Mas a imunidade trazida pelo mandato parlamentar contra eventuais processos adquiridos no comando do Executivo pode, sim, empurrá-lo para uma das nove vagas de deputado federal.
Para chegar a Brasília e por esta via, Dantas só precisa de 100 mil votos. Na contabilidade do Palácio República dos Palmares, ele tem essa quantidade e até pode superar. Primeiro pela visibilidade provocada pelo próprio cargo, além da estratégia diária, assinada pela Secretaria de Comunicação, de manter Dantas na rua e em eventos ao lado de lideranças políticas.
Também o governador é uma das vozes de um grupo político que precisa se manter em expansão, do contrário corre risco de extinção: o presidente da Assembleia, Marcelo Victor (MDB), disputa a reeleição em 2026 para se manter nas discussões sobre o xadrez eleitoral; o senador Renan Calheiros (MDB) disputa nova reeleição, em busca de mais tempo e blindagem oferecida pelo cargo; o ministro dos Transportes, Renan Filho, um dos nomes do MDB que olha a vaga de vice do presidente Lula (PT), hoje ocupada por Geraldo Alckmin (PSB) e, por enquanto, mantida como está.
Além disso, o governador já põe a futura primeira-dama Julia Britto e a filha Paula Dantas, atual secretária de Planejamento, ou para futuros mandatos ou ainda para ajudar o chefe do Executivo a atrair votos. Além, lógico, comandando ações onde o governador tem a popularidade mais sensível aos discursos da oposição, como na capital.
Julia Britto comanda o Saúde Até Você, "que oferece serviços como aferição de pressão arterial, glicemia, peso, altura, exames laboratoriais, testes rápidos, eletrocardiogramas e vacinação, e considerando a importância da presença de especialistas nas áreas de clínica médica, ortopedia, ginecologia, entre outras", segundo a justificativa palaciana. Este mutirão de atendimento médico, além de imitar a mesma ação executada pelo prefeito JHC (Saúde da Gente), ajuda a reduzir filas de espera e amplia o serviço do SUS. Mas – e principalmente – é um enorme palco de visibilidade para Dantas e a futura primeira-dama.
Também médica, Julia Britto vai transformar o Estádio Rei Pelé e, no mês de março (dominado pelas pautas relativas às mulheres), em uma grande vitrine do programa estadual, atraindo eleitores em uma área com extremos de vulnerabilidade econômica e social entre os bairros do Centro ao Pontal da Barra.
Paula Dantas é o rosto e a voz do Alagoas Sem Fome, que distribuiu 49,6 toneladas de alimentos, além de ser a escolhida para seguir a carreira política da família. Também é citada para disputar vaga a federal.
O vice-governador Ronaldo Lessa (PDT) remexe as próprias ações na administração, também de olho no próprio futuro. Se Dantas renunciar, Lessa fica no governo e deve disputar a reeleição. Ou o vice pode sair candidato a federal ou – uma hipótese remota – virar o segundo nome do grupo ao Senado.
O PDT de Lessa não ocupa as secretarias mais estratégicas – Saúde, Educação, Infraestrutura, Fazenda – mas quando o vice assume a titularidade do governo, procura atrair as atenções para as próprias pretensões político-eleitorais, ainda que bastante discretas.
Toda a estratégia montada pelo governo também acompanha os movimentos do grupo do prefeito JHC, liderado pelo deputado federal Arthur Lira (PP). Mas, nos próximos meses, a rota pode mudar. Lira é cotado para assumir um ministério e se põe como candidato ao Senado; JHC, hoje no PL, deve ingressar em legenda da base de Lula para facilitar a escolha da tia e procuradora de Justiça Marluce Caldas como ministra do Superior Tribunal de Justiça; o vice-prefeito e secretário de Infraestrutura, Rodrigo Cunha (Podemos), busca crescer no cargo, inaugurando obras mais caras e de grande impacto visual na cidade, talvez para ser um nome viável ao governo em 2026. Ou se manter na Prefeitura, enquanto JHC terá de renunciar, se quiser que seu grupo político sobreviva para além do calheirismo.
Antes, porém, JHC terá de resolver a crise do transporte escolar municipal, cuja paralisação põe em risco o ano escolar de milhares de alunos da rede municipal. E procurar se blindar dos discursos do vereador e ex-prefeito da capital Rui Palmeira (PSD). Lembrando que Jota tentou, sem sucesso, tomar o partido liderado por Rui, também provável candidato a deputado federal.